Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

sábado, março 12, 2011

O alerta do setor automotivo

BÚZIOS (RJ) – A FRENÉTICA produção e as vendas de veículos voltaram a ser recordistas, em Fevereiro e no primeiro bimestre de 2011, segundo a associação das montadoras (Anfavea) e a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave). A produção foi de 310 mil veículos em Fevereiro último, e de 572 mil, no bimestre, e os emplacamentos, incluindo motos, atingiram, respectivamente, 430 mil unidades e 817 mil unidades. Os resultados positivos foram influenciados por aspectos sazonais e políticas de curto prazo das montadoras.

NO último mês de Dezembro, foram empregadas estratégias agressivas de comercialização de veículos, a ponto de antecipar os resultados de Janeiro, que, neste 2011, foram mais fracos do que o usual. Em Fevereiro ocorreu o contrário: o número total de unidades comercializadas aumentou 5,8% em relação a Janeiro, na série dessazonalizada calculada pela área técnica do Banco Brasileiro de Desconto (Bradesco S/A). Mas as fortes vendas foram um fato incomum, só explicável pelo maior número de dias úteis (o Carnaval deste ano aconteceu em Março).

UMA análise rigorosa permite identificar que os emplacamentos já refletem as chamadas medidas macroprudenciais do Banco Central do Brasil (BC). A aceleração de Fevereiro se deveu, em grande medida, às vendas dos dois últimos dias do mês nos segmentos de automóveis e comerciais leves, sem o que os resultados já teriam sido negativos.

A AGRESSIVIDADE das vendas de 2010 parece se repetir, neste 2011, pois as montadoras de veículos automotores estabelecidas no País já levam em conta o temor dos consumidores de elevações de preços, influenciadas pela alta das matérias-primas, sobretudo do aço, mas também de componentes que dependem do petróleo (para-choques, painéis, tapetes e estofamento, entre outros). Tem que ver, ainda, com a pressão crescente exercida pelas importações.

SEGUNDO o presidente da Fenabrave, Sergio Reze, "os consumidores estão comprando em função da manutenção de renda e emprego, oferta de crédito e boas perspectivas da economia". Mas, em Março, é improvável que a euforia persista, pois subiram os juros e, sobretudo, as prestações, dadas as restrições ao crédito de prazos mais longos para a compra de veículos. Entre este mês e Abril, as vendas deverão refletir melhor os efeitos das medidas de contenção do crédito adotadas em 2010.

NA verdade, se o mercado de veículos automotores continuar exibindo recordes, este será um fator de apreensão, sugerindo que a combinação de juros mais altos e medidas macroprudenciais está sendo insuficiente para desestimular a demanda tanto quanto desejariam as autoridades.