Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

terça-feira, abril 06, 2010

Diversão com corpo e alma cinematográfica

A DIREÇÃO de Daniel Filho (TV GLOBO/GLOBOFILMES) foi o primeiro ponto de destaque. O diretor decupou este filme de forma bastante ousada se comparada com os demais filmes que já dirigiu, explorando muitos movimentos de câmera. Os marcantes movimentos com grua enfatizam sensorialmente a temática e contribuem para a narrativa visual. Os movimentos com travelling são fluidos, valorizando elementos narrativos de forma a intensificar a dramaturgia da obra. “Ninguém pode voltar atrás e fazer um novo começo, mas qualquer um pode recomeçar e fazer um novo fim”. Esta é a frase de Francisco de Paula Cândido, mais conhecido como Chico Xavier, que define o filme sobre a vida dele mesmo. O filme sobre a vida deste brasileiro é realmente uma obra surpreendente.

560 MIL pessoas assistiram o filme no último fim de semana. O recorde de bilheteria no Brasil. E na direção a postura em relação à temática também surpreendeu, pois mesmo Daniel Filho sendo ateu, dirigiu a vida de Chico Xavier com imparcialidade, não demonstrando a sua descrença pessoal. Ao longo de toda a representação da vida de um homem espírita, o diretor respeitou a proposta do roteiro, que busca mostrar a mediunidade de Chico Xavier como sendo real.

A MÚSICA é outro ponto relevante do filme. O diretor escolheu o uso de uma trilha atonal em quase toda a obra, compondo um clima de suspense e enfatizando os mistérios do tema espírita. A mudança musical da trilha atonal para trilha erudita romântica ocorre nas seqüências-chave do filme e com pleno sucesso, envolvendo o espectador.

A QUALIDADE da captação de som de diálogos deixa a desejar, em contraste, especialmente em cenas em que o uso de regionalismos é intenso - exatamente onde a qualidade sonora deveria estar em excelentes condições para assegurar o entendimento total dos diálogos.

TAMBEM, a direção de arte foi muito bem desenvolvida, com algumas poucas exceções, os cenários são bastante realistas e obteve êxito na caracterização “de época” de espaços e figurinos.

A PARTE técnica de maior colisão consigo mesma ao longo do filme e a direção de fotografia. Não possui uma estética bem definida, mudando de estilo a cada seqüência, deixando o filme sem uma unidade visual. Nas principais cenas a luz é primorosa e nas seqüências “menos importantes” a luz também parece ter sido tratada de forma secundária, causando uma impressão de desleixo. Todo o encanto fotográfico que a imagem de uma gota causa no início, se dispersa ao longo do filme e no final é a decepção que reina com relação à fotografia.

“CHICO XAVIER” é um filme interessante, que contra de forma original a intrigante vida deste brasileiro. É um filme que, independentemente da posição religiosa do espectador, passa uma mensagem positiva relacionada ao ser humano. É um filme que, embora não seja perfeito, merece ser visto.