Dando nome aos bois
A
CPMI do Cachoeira finalmente ganha corpo, com a reunião das assinaturas
necessárias e a indicação de seus integrantes para o ato de instalação. Em boa
hora.
FALANDO
com Imprensa após homenagem que recebeu na Câmara dos Deputados, disse o
ex-presidente da República (1995-2002), Fernando Henrique Cardoso (PSDB-SP): “Acho que o País cansou. Então, talvez seja o
momento de o Congresso Nacional crescer, e fazer uma CPMI que vá à raiz das
questões”.
NA
raiz das questões estão fenômenos como o contraventor Carlinhos Cachoeira, instalado
nas dobras do governo do Estado de Goiás, manipulando políticos como o senador
goiano, Demóstenes Torres (sem partido), ou a Construtora Delta, cujo
proprietário, Fernando Cavendish, grande executor de obras do Programa de
Aceleração do Crescimento (PAC), se gaba de dobrar políticos pondo 30 milhões
nas mãos deles.
JÁ
HÁ tempos que o povo deste grande e bobo País convive com a corrupção entalada
na garganta. De repente, parece que um limite é ultrapassado. E acontece o
inédito: todos a favor da criação da CPMI, governistas e opositores igualmente
sorridentes, mostrando listas de assinaturas. Supõe-se que houve erro de
cálculo, a começar pelo ex-presidente da República Luiz Inácio da Silva (PT-SP),
que tocou a ferro e fogo a ideia, porque achava que apanhava políticos da Oposição
— em especial o governador do Estado de Goiás, Marconi Perillo (PSDB-GO), seu
desafeto. Mas a euforia petista já refluiu, porque, como se sabe, ninguém sabe
como termina uma CPMI.
OUTRA
expectativa do Partido dos Trabalhadores (PT) era de que a CPMI do Carlinhos
Cachoeira atrapalharia o ritmo do julgamento, pelo Supremo Tribunal Federal
(STF), da questão do Mensalão. Mas já se sabe que não vai ser assim. As duas
coisas podem perfeitamente caminhar pari
passu. Quem afirma é o novo presidente do STF, ministro Carlos Ayres
Britto, que foi explícito ao dizer que é preciso andar rápido, porque há o
risco de prescrição de alguns delitos daquela quadrilha.
TAMBÉM,
há o risco de esse andamento conflitar com o calendário eleitoral, porque, a
partir de Julho, ministros do STF serão também ministros do Superior Tribunal
Eleitoral (STE). Mas isso não impedirá o julgamento. Cobra-se pressa, no STF,
do relator-revisor, ministro Ricardo Lewandowski. Como já foi dito, ninguém
quer passar à História como coveiro desse processo. E Lewandowski já manifestou
que seu parecer sairá muito em breve.
O
JULGAMENTO é necessário, entre outros motivos, para extinguir a alegação
esdrúxula de que toda a história não passa de uma farsa. CASO fosse uma farsa,
a Procuradoria Geral da República (PGR), que ofereceu a denúncia em 2006, e o STF,
que no ano seguinte transformou a denúncia em processo criminal, seriam
coadjuvantes. Mas não é assim: trata-se de um julgamento crucial, porque o que
aconteceu em 2005 foi a mais audaciosa tentativa de que se tem notícia de
comprar um Parlamento. “O cruzamento dos
dados bancários e a quebra de sigilos possibilitaram a verificação de repasses
de verbas a todos os beneficiários”, disse o então denunciante procurador-geral
da República, Antonio Fernando de Souza, quem usou o termo “sofisticada organização criminosa” para
descrever a operação, citando nominalmente, como envolvidos, José Dirceu
(PT-SP), Delúbio Soares (PT-GO) e José Genoíno (PT-SP).
É
TUDO isso que passará agora pelo crivo do STF, assim que o ministro Lewandowski
entregar o seu relatório. O ministro Ayres Britto explica que colocar para
julgar com brevidade não significa pré-julgamento, ou predisposição para
condenar. Mas o necessário é que, sem perder a objetividade, as coisas sejam
chamadas pelos seus próprios nomes.
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