Dupla da insensatez
O presidente da Federação Internacional de Automobilismo (FIA), Max Mosley, e diretor especial de mídia da mesma federação, que já não pode dizer com certeza que tem todos os parafusos da cabeça intactos (e muito menos apertados com o torque certo), Bernie Ecclestone, surgiu com uma cretinice de enormes proporções, de amplitude digna de um esporte verdadeiramente mundial, multinacional: decidiu que o campeonato de 2009 seria de quem vencesse o maior número de corridas. Com isso, ele tentou jogar para o alto todo o esforço das equipes que, mesmo não ganhando repetidamente, buscam acumular preciosos pontos para decidir o final do campeonato – muitas vezes de maneira emocionante. Aliás, tivemos uma overdose dessa emoção muito recentemente, em 2008, quando o título foi decidido entre Lewis Hamilton e Felipe Massa na última curva da última volta da última corrida.
A insensatez da (agora inválida) proposta da dupla Mosley-Ecclestone, duas figurinhas carimbadas, era evidente desde o início, o que me fez pensar: será que tudo não passou de uma esperta jogada de marketing para chamar atenção para uma categoria que enfrenta seriíssimas dificuldades financeiras?
Para começar, a estruturação de um campeonato onde o ganhador da maior parte das corridas leva o título é um tiro nos pés dos próprios patrocinadores da categoria, hoje minguantes em ritmo acelerado: se uma equipe sai dominando o Mundial (como tem ocorrido com MacLaren e Ferrari, nos últimos anos), o campeonato pode estar decidido por volta de julho, início de agosto. E as corridas restantes? Cadê o interesse do público pagante nos autódromos? Cadê a audiência televisiva? Cadê o retorno dos patrocinadores nos autódromos e na tevê? Quem vai ver o quê da metade para o final do campeonato?
A radicalização da proposta afetava, inclusive, a própria história da F1: Nelson Piquet seria apenas campeão (e não mais tri), Ayrton Senna ganharia mais um campeonato, e assim por diante. Em resumo, pilotos que suaram o macacão para chegar ao topo seriam derrubados do Olimpo sem cerimônia.
Não é segredo para ninguém que a F1 precisa de uma ininterrupta avalanche de dinheiro para dar suporte às suas inovações tecnológicas. Muitas delas (o sistema de freios ABS é apenas um exemplo) vão parar nos carros de rua em pouco tempo. Agora, por exemplo, a sensação da vez é o desenvolvimento do sistema KERS, que aproveita a energia cinética atualmente “desperdiçada” nas freadas para dar uma injeção de potência extra ao motor. É algo que, se der certo, poderá muito bem ser utilizado nos carros que você e eu dirigimos todos os dias para o trabalho.
Outra coisa, muito diferente e muito mais produtiva, seria incorporar os dois conceitos (valorização de vitórias e apreço pelo esforço a cada prova) num sistema de pontuação mais justo. A contagem 12-9-7-5-4-3-2-1 para os oito primeiros, por exemplo, recompensaria os vitoriosos mas não deixaria de reconhecer o esforço dos outros colocados, da mesma forma que a antiga pontuação 9-6-4-3-2-1 fazia com os seis primeiros nos tempos de Clark, Hulme, Fittipaldi, Stewart e Lauda. A F1 poderia incorporar, inclusive, características de outras categorias conhecidas mundialmente, como um ponto extra para o pole position, além de um ponto para o autor da melhor volta na corrida.
Felizmente (ou previsivelmente, se tudo não passou de mais um esquema de picaretagem dos atuais dirigentes da F1), a grita foi geral e esse ataque de cretinice que ameaçou jogar a Fórmula 1 num coma profundo e irreversível de nível 3 foi suprimida, pelo menos por enquanto (fala-se na sua ressurreição para 2010). Em outras palavras, tudo indica que a pena de morte da principal categoria do automobilismo mundial foi adiada por mais um ano.
A insensatez da (agora inválida) proposta da dupla Mosley-Ecclestone, duas figurinhas carimbadas, era evidente desde o início, o que me fez pensar: será que tudo não passou de uma esperta jogada de marketing para chamar atenção para uma categoria que enfrenta seriíssimas dificuldades financeiras?
Para começar, a estruturação de um campeonato onde o ganhador da maior parte das corridas leva o título é um tiro nos pés dos próprios patrocinadores da categoria, hoje minguantes em ritmo acelerado: se uma equipe sai dominando o Mundial (como tem ocorrido com MacLaren e Ferrari, nos últimos anos), o campeonato pode estar decidido por volta de julho, início de agosto. E as corridas restantes? Cadê o interesse do público pagante nos autódromos? Cadê a audiência televisiva? Cadê o retorno dos patrocinadores nos autódromos e na tevê? Quem vai ver o quê da metade para o final do campeonato?
A radicalização da proposta afetava, inclusive, a própria história da F1: Nelson Piquet seria apenas campeão (e não mais tri), Ayrton Senna ganharia mais um campeonato, e assim por diante. Em resumo, pilotos que suaram o macacão para chegar ao topo seriam derrubados do Olimpo sem cerimônia.
Não é segredo para ninguém que a F1 precisa de uma ininterrupta avalanche de dinheiro para dar suporte às suas inovações tecnológicas. Muitas delas (o sistema de freios ABS é apenas um exemplo) vão parar nos carros de rua em pouco tempo. Agora, por exemplo, a sensação da vez é o desenvolvimento do sistema KERS, que aproveita a energia cinética atualmente “desperdiçada” nas freadas para dar uma injeção de potência extra ao motor. É algo que, se der certo, poderá muito bem ser utilizado nos carros que você e eu dirigimos todos os dias para o trabalho.
Outra coisa, muito diferente e muito mais produtiva, seria incorporar os dois conceitos (valorização de vitórias e apreço pelo esforço a cada prova) num sistema de pontuação mais justo. A contagem 12-9-7-5-4-3-2-1 para os oito primeiros, por exemplo, recompensaria os vitoriosos mas não deixaria de reconhecer o esforço dos outros colocados, da mesma forma que a antiga pontuação 9-6-4-3-2-1 fazia com os seis primeiros nos tempos de Clark, Hulme, Fittipaldi, Stewart e Lauda. A F1 poderia incorporar, inclusive, características de outras categorias conhecidas mundialmente, como um ponto extra para o pole position, além de um ponto para o autor da melhor volta na corrida.
Felizmente (ou previsivelmente, se tudo não passou de mais um esquema de picaretagem dos atuais dirigentes da F1), a grita foi geral e esse ataque de cretinice que ameaçou jogar a Fórmula 1 num coma profundo e irreversível de nível 3 foi suprimida, pelo menos por enquanto (fala-se na sua ressurreição para 2010). Em outras palavras, tudo indica que a pena de morte da principal categoria do automobilismo mundial foi adiada por mais um ano.
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