Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

quarta-feira, março 11, 2009

Ideólogo X pragmático

Na sessão solene de abertura oficial dos trabalhos do Congresso Nacional dos Estados Unidos da América (EUA), este ano, o discurso do presidente da República Norte-americana, o democrata Barack Obama foi um modelo de idealismo. Teve as mais altas aspirações éticas, embora tenha se esquecido de falar em imigração.


Neste ponto, embora um idealista, Obama pode ter sido pragmático. Não conviria falar em imigração no momento pelo simples motivo de que, com a crise econômica, ela em muito se reduziu. Mexicanos, brasileiros e outras almas infelizes continuam entrando ilegalmente, embora em número bastante inferior ao dos últimos anos.


E, no assunto que de fato pode afundar ou exalçar o seu Governo (2009-12), Obama infelizmente mostrou-se acovardado diante dos ideólogos conservadores, os mesmos que dominaram o País durante os oito anos do (des)governo de George W. Bush (2001-8) e que continuam a alardear suas idéias ultrapassadas, embora tenham sido derrotados na eleição de Novembro último.


Não devemos confundir ideólogos com idealistas. O idealismo é a síntese de tudo a que aspiramos, da perfeição que buscamos ou percebemos. O ideólogo, conservador ou progressista, é o prisioneiro de um sistema de idéias, de dogmas próprios de um grupo.



É curioso mesmo como os conservadores falam em “defender o contribuinte”, embora tenham criado o maior déficit da história e o contribuinte tenha, ao eleger o presidente da República, deputados e senadores, deixado claro que não acredita mais em suas idéias. Mas aí é que surge no cenário o atual Secretário de Estado das Finanças, Timothy Geithner, figura egressa do (des)governo do ex-presidente George W. Bush, colaborador direto de seu antecessor no cargo, Hank Paulson, o homem que deu aos banqueiros-batedores de carteiras do Citigroup, Bank of America e companhia 750 bilhões de dólares sem nada pedir em troca.



Tais casas bancárias eram insolventes, ainda são insolventes, deixaram o mercado de crédito congelado e mesmo assim seus executivos continuaram a receber escandalosas bonificações. Diga-se a bem da verdade que o fenômeno não é apenas americano. O chairman do Royal Bank of Scotland aposentou-se aos 50 anos com uma pensão mensal de 80 mil dólares, embora seu estabelecimento estivesse e esteja quebrado. O governo britânico está agora literalmente correndo atrás do prejuízo – isto é, conseguir na Justiça, que o meliante abra mão ao menos de parte de sua indevida aposentadoria.



O problema só se resolve se o Governo assumir o controle dos bancos e grupos como o AIG (que segurava os “ativos tóxicos”e, basicamente, se transformou em um “hedge fund”) limpando-os de dentro para fora, a começar por se livrar da diretoria e deixar os acionistas a amargar as perdas – que, é claro, merecem ser muito mais deles do que do contribuinte, que nada tinha a ver com o descalabro.
O governo já tem quase 80% do capital da AIG Holding e, se não tivesse comparecido agora com mais 30 bilhões de dólares, todo o edifício financeiro internacional ruiria. Só neste buraco foram quase 160 bilhões de dólares.


Os EUA cambaleiam e, se acontecer um novo atentado terrorista de Bin Laden (como ocorrido em 11 de Setembro de 2001), vão a nocaute. Obama tem que sair de uma situação dificílima, mas precisaria ser orientado por um auxiliar na finanças que fosse de fato independente diante dos poderosos banqueiros e Geithner infelizmente não é.