Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

terça-feira, março 10, 2009

Déspotas & criminosos

A Corte do Tribunal Criminal Internacional, em Haia, emitiu nesta semana uma ordem de prisão contra Omar al-Bashir, presidente do Sudão, acusando-o de crimes de guerra e crimes contra a humanidade por causa do genocídio praticado na região de Darfur, no noroeste daquele país africano.





O mandatário sudanês não só desdenhou da decisão como também decidiu expulsar do país 13 grupos e organizações de ajuda humanitária que estão se dedicando a aliviar um pouco a terrível situação pela qual estão passando milhares de pessoas naquela região do planeta.




Ele respondeu às acusações formais com a retórica desgastada de que europeus e americanos não têm moral para condená-lo, uma vez que foram colonizadores cruéis e ainda são os piores autores de crimes contra a humanidade.




E recebeu ainda o apoio formal dos líderes do Irã, Síria, e dos grupos terroristas Hamas e Hezbollah, para quem isto não passa de perseguição contra um governante muçulmano. Outra falácia repetida ad eternum.





No caso de crimes de guerra e contra a humanidade, muita gente reivindica – inclusive, dentro dos EUA – que George W. Bush e seus parceiros na aventura iraquiana sejam levados a julgamento em razão das mortes e do terror instaurado no Iraque, e também os governantes israelenses sejam condenados pelos mesmos crimes.




Embora seja crítico das ações de Bush e sua turma no Iraque e condene a resposta excessiva do exército de Israel em Gaza, não se pode comparar as duas situações.




Senão vejamos: Israel, é verdade, aproveitou-se do vácuo no poder dos EUA para atacar os guerrilheiros do Hamas e, com isto, provocou muitas mortes de inocentes. Entretanto, não se pode esquecer que a retaliação foi consequência dos ataques perpetrados pelas mílicias do Hamas, grupo que figura na lista do terrorismo internacional. Em resumo, se não houvesse lançamentos de morteiros contra cidades israelenses provavelmente não teria havido a invasão da Faixa de Gaza e a carnificina que se seguiu, até porque os guerrilheiros covardemente se misturaram à população civil para fugir dos inimigos.




A invasão do Iraque - mesmo sendo condenável e feita sob premissas falsas, como armas químicas que nunca foram encontradas – somente foi concretizada após a recusa de Saddam Hussein em deixar o governo ou promover a democratização do país, pelo menos, nos moldes ocidentais. Hussein, inclusive, cometeu barbaridades contra seu povo, sobretudo xiitas e curdos, e não era nenhum anjo. Só para lembrar, vale destacar que o líder líbio Muamar Khadafi era considerado um tirano e apoiador de terroristas, tendo inclusive provocado mortes de inocentes. Porém, após ter renunciado às atividades mais radicais, continua no poder e é pouco incomodado.




Bashir, no entanto, juntou o exército oficial com a milícia árabe Janjaweed para subjugar um princípio de insatisfação em Darfur. E isto foi feito com requintes de crueldade, com soldados e milicianos matando homens e meninos e estuprando mulheres e meninas. A população desesperada começou a fugir para os países vizinhos na luta pela sobrevivência.




A África, infelizmente, não dá repercussão no plano internacional. No início desta semana, o presidente da Guiné Bissau, João Bernardo Vieira, foi assassinado e a notícia não teve maiores repercussões. Até porque o resto do mundo parece anestesiado em relação à violência africana.




Para finalizar, a suposta “perseguição aos muçulmanos” também não procede. Na década de 90, a ONU convocou exércitos de países ocidentais para defender os muçulmanos da Bósnia Herzegovina, que estavam sendo dizimados pelas forças sérvias, comandadas pelo cristão ortodoxo Slobodan Milosevic. E a situação se agravou em Sarajevo, capital da Bósnia, quando Radovan Karadzic, líder dos bósnios sérvios, comandou milícias para exterminar os bósnios muçulmanos. O que somente não ocorreu graças à intervenção das forças estrangeiras. Mas isto os muçulmanos, convenientemente, “esqueceram”.