A busca pela sustentabilidade da produção de alimentos no mundo
BOSTON (EUA) - PARA
alimentar a população mundial em 2050 será necessária a produção de 3 bilhões
de toneladas de cereais por ano, 50% mais do que atualmente. Além disso, será preciso
mais que dobrar a produção de carnes, de 200 milhões para 470 milhões de
toneladas. Essas projeções foram apresentadas pelo ministro de Estado da
Agricultura, Mendes Ribeiro Filho (PTB-MT), na quarta edição do "Agriculture and Rural Development Day",
evento paralelo à Conferência Rio+20, ocorrida em Junho último na Cidade do Rio
de Janeiro (RJ). Produzir comida para a crescente população global continuará
sendo a missão principal da agropecuária e seu principal desafio, detalhe
frequentemente esquecido nos debates sobre o meio ambiente.
SERÁ preciso cobrir
não só os custos rotineiros da produção, mas também os investimentos para
elevar a produtividade, condição básica tanto para o aumento da oferta de
alimentos e outras matérias-primas fornecidas pelo campo quanto para o uso
racional dos recursos naturais. Sem a inclusão desses pontos, qualquer debate
sobre agropecuária e meio ambiente é um palavrório inútil, irresponsável e
enganador - porque há, de fato, gente bastante ingênua e desinformada para se
deixar seduzir por esse tipo de arenga.
TEMA inevitável e
frequentemente mal discutido nas conferências sobre o meio ambiente, o
agronegócio vem sendo incluído também na agenda do Grupo dos 20 (G-20), formado
pelas maiores economias desenvolvidas e em desenvolvimento. Embora atraindo
muito menos atenção que a crise financeira internacional, o problema da
segurança alimentar foi mais uma vez lembrado na reunião de cúpula do grupo
realizada no balneário de Los Cabos, no México, no mês passado. A partir de
2007, os debates sobre a agricultura em vários foros internacionais se voltaram
principalmente para o problema dos preços altos e para a piora do abastecimento
nos países pobres e dependentes da importação de comida. As populações mais
afetadas foram as da África Subsaariana e do Sudeste da Ásia.
VÁRIOS fatores
contribuíram para a elevação das cotações: quebras de safras em alguns
importantes países produtores, intensa especulação nas Bolsas de Mercadorias
(uma consequência da queda dos juros e da sobra de dinheiro no mundo rico) e
restrições impostas em alguns países à exportação de alimentos.
COM a perda de
impulso da economia chinesa, grande consumidora de matérias-primas de todos os
tipos, os preços das commodities se acomodaram ou mesmo caíram, neste ano, mas,
apesar disso, as cotações de vários alimentos permaneceram acima dos níveis
anteriores ao salto iniciado há uns cinco ou seis anos. Reduzir à metade o
número de famintos até 2015, uma das Metas do Milênio consagradas pela
Organização das Nações Unidas (ONU), tornou-se inexequível.
AS PRIMEIRAS ações
de combate à fome, desde a piora do quadro, em 2007-2008, consistiram
basicamente na transferência de dinheiro para as populações pobres e no envio
de volumes consideráveis de alimentos. Ações como essas podem servir como
socorro de emergência, porque seu alcance é obviamente limitado. Afinal, a fome
nos países pobres é um problema crônico: existia antes do grande aumento de
preços e continuará presente, se as cotações declinarem.
MAS uma grande
redução de preços é improvável, porque a rápida urbanização em várias economias
da Ásia continuará pressionando o mercado de alimentos. A solução envolve,
inevitavelmente, um grande aumento da oferta. Será preciso ampliar a produção
nos países exportadores e também nas economias pobres - devastadas, em muitos
casos, por guerras intermináveis.
<< Página inicial