Era de incertezas
BLOOMINGTON (EUA) – A ECONOMIA mundial deve crescer apenas 2,5% em
2012, 0,2 ponto menos que em 2011, e nenhum país em desenvolvimento será poupado,
se a situação na Europa se deteriorar, advertem os técnicos do Banco Mundial
(Bird) em relatório mensal. A deterioração, nesse caso, resultará num quadro
pior que a contração de 0,3% agora prevista para a zona do euro - e essa é uma
hipótese muito realista. Se o temor for confirmado pelos fatos, a minúscula reação
estimada para a economia do Brasil - 2,5% de expansão, depois de 2,7% no ano
passado - será quase certamente comprometida. De toda forma, os governos dos
países em desenvolvimento devem preparar-se para um longo período de
instabilidade internacional e dar ênfase a estratégias de longo prazo,
aconselham os autores do relatório. Se decidirem levar a sério esse conselho,
as autoridades brasileiras terão de abandonar a política de remendos e de estímulos
ocasionais a setores selecionados, mas isso parece pouco provável. Reformas
amplas e programas sérios de investimentos estão fora da agenda federal, há dez
anos, e dificilmente isso mudará agora.
O CRESCIMENTO global
previsto para o ano é o menor desde o começo da crise, em 2007-2008. Houve
sinais de melhora entre Janeiro e Abril de 2012, mas desde o começo de Maio a
instabilidade voltou a dominar os mercados, assinala o relatório. Os mercados
de ações recuaram cerca de 7% e a redução de preços da maior parte das
commodities agravou as perspectivas das economias exportadoras, incluída a
brasileira. Incerteza crescente, cortes orçamentários no mundo rico e retração
dos financiamentos bancários afetam todos os mercados e põem em risco, mais uma
vez, os países emergentes e em desenvolvimento.
ESSES países
garantiam cerca de 50% do crescimento econômico mundial nos anos de crise, mas
suas possibilidades de reação, desta vez, são menores do que em 2008. Há menos
espaço nos orçamentos para a concessão de estímulos fiscais e a situação das
contas externas é menos favorável, com déficits crescentes nas transações
correntes dos balanços de pagamentos.
ESTE último ponto
corresponde claramente à situação brasileira, mas também na área fiscal a
situação é menos folgada do que era há quatro anos, embora as autoridades não
aceitem essa versão. De toda forma, as ações de estímulo à economia têm
consistido basicamente, desde o segundo semestre do ano passado, em seguidos
cortes de juros pelo Comitê de Política Monetária (COPOM) do Banco Central do
Brasil (BC), redução das taxas pelos bancos oficiais e facilidades fiscais para
alguns setores.
AINDA ontem, o
presidente do BC, Alexandre Tombini, voltou a chamar a atenção para a
insegurança internacional. A instabilidade dos mercados deve ser a norma "nos próximos meses e trimestres",
afirmou. O quadro externo deve continuar desinflacionário, acrescentou, numa
avaliação aparentemente compatível com novos cortes dos juros básicos.
A EVOLUÇÃO do
quadro econômico europeu e a desaceleração da economia chinesa parecem
confirmar as hipóteses mais sombrias dos economistas do Bird. As autoridades
chinesas talvez consigam realizar um pouso suave, confirmando a avaliação
apresentada por Tombini. Mas o cenário político e econômico da Europa justifica
preocupações muito sérias.
A ECONOMIA
espanhola, apesar da ajuda de 100 bilhões para a reestruturação bancária, ainda
poderá piorar nos próximos meses, como admitiu o primeiro-ministro Mariano
Rajoy. A economia da Itália continua sujeita a pressões dos mercados
financeiros, porque o risco de contágio se mantém. O futuro da economia da Grécia
continua incerto. Permanece a ameaça de um abandono desastrado do euro, e
haverá muito suspense por algum tempo.
É FATO que uma
combinação de ajuste e reformas com alguns estímulos ao crescimento poderia
melhorar o cenário, mas o governo alemão reafirmou, também ontem, sua oposição
às mudanças propostas pelo presidente francês, François Hollande, e outros
governantes europeus. Todos no mundo civilizado devem, portanto, preparar-se
para mais turbulências.
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