Herança do caos
BOSTON (EUA) – NOS inúmeros
discursos que o então presidente da República Federativa do Brasil, Luiz Inácio
da Siva (PT-SP) pronunciou nos últimos meses de seu segundo mandato
presidencial (2006-10), um dos temas mais recorrentes foi a educação. Em
diversas oportunidades afirmou ter criado mais Universidades que o ex-presidente
da República, Juscelino Kubitschek de Oliveira (JK). Em cinco anos de governo,
JK criou 10 Instituições Federais de Ensino Superior (IFES), enquanto Luiz
Inácio da Silva, em seus dois mandatos presidenciais (2003-10), criou 14 IFES,
sendo 10 voltadas para a interiorização da Educação Superior e 4 para promover
a integração regional e internacional.
UM ano e meio
depois de ter transferido o governo à sua sucessora, Dilma Wana Rousseff
(PT-RS), algumas das IFES por ele inauguradas com muita pompa, circunstância e
rojão funcionam em instalações emprestadas e prédios improvisados, sem água,
refeitório, biblioteca e docentes em número suficiente. O campus da
Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) em Guarulhos (SP) é uma boa amostra
do tipo de instituições de ensino erguidas pelo presidente "recordista" com a preocupação
precípua de "mostrar serviço".
O ACESSO ao campus
da Unifesp em Guarulhos é difícil e não há ônibus suficientes. As salas de aula
são abafadas. O refeitório funciona num galpão de madeira. Cerca de 30 mil
livros destinados à biblioteca continuam encaixotados. A biblioteca tem 240 mil
livros mas, como não há lugar onde colocá-los, só 70% do acervo pode ser
consultado. Por falta de infraestrutura, o laboratório de informática não tem
como ser ampliado. A demora para se tirar uma fotocópia é de 40 minutos, em
média. E quando os 50 computadores são operados simultaneamente, a velocidade
da internet cai frequentemente.
ORIGINALMENTE
projetado pela prefeitura municipal de Guarulhos para abrigar uma escola
técnica, o campus da Unifesp funciona desde 2006, oferecendo Cursos de Ciências
Sociais, Filosofia, História, Letras e Pedagogia a cerca de 3,1 mil alunos.
Mas, como um edifício prometido desde 2007 jamais saiu do papel, os poucos
prédios disponíveis estão superlotados e algumas aulas tiveram de ser
transferidas para uma escola municipal que atende cerca de 700 crianças.
NESSA escola, os Cursos
da Unifesp são oferecidos nos turnos da tarde e da noite, mas o número de salas
também é insuficiente. "Estamos discutindo
Hegel e a molecada está no recreio, fazendo correria ao lado. Como não há
ventilação e o prédio pega sol o dia inteiro, no verão é insuportável",
diz o estudante Michael de Santana. Por causa da falta de salas climatizadas, a
ilha de edição de vídeo financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa de São
Paulo (Fapesp) não pode ser usada. Além disso, há carência de docentes em
muitos cursos e o quadro técnico-administrativo tem menos da metade do número
de servidores necessários.
PARA exigir que o
governo da presidente da República, Dilma Rousseff (2011-14) terminasse o que o
governo de seu antecessor "inaugurou",
os alunos deflagraram uma greve no final de Março, que perdura até agora. Em Maio,
ocuparam a reitoria acadêmica por três dias. A direção do campus da Unifesp em
Guarulhos alega que o uso das dependências da escola municipal do bairro dos
Pimentas foi planejado de comum acordo com a prefeitura municipal de Guarulhos,
como contrapartida pela instalação do campus naquela cidade, em 2007. As salas
serão devolvidas quando o prédio novo - cuja licitação só foi concluída este
ano - for construído. Para amenizar os problemas, a Unifesp alugou um prédio em
frente aquele campus, para servir de sala de aula.
OUTRAS IFES criadas
pelo governo lullopetista tem problemas
semelhantes. Na própria Unifesp, um dos prédios da unidade da Região da Baixada
Santista (SP) está interditado desde o final de Abril, por causa de uma forte
chuva. Em Minas Gerais, o campus avançado da Universidade Federal do Vale do
Jequitinhonha e do Mucuri (UFVJM), também criada em 2007, só tem um quinto de
suas instalações construídas. Na Universidade Federal do ABC Paulista (UFABC),
os problemas de gestão e logística desestimularam os alunos - em 2009, aquela Instituição
registrou uma taxa de evasão de 42%, uma das mais altas do País.
ESSE é o cenário de
muitas das Universidades criadas pelo governo Luiz Inácio da Silva. Suas
primeiras turmas estão tendo fortes prejuízos em sua formação acadêmica, como
reconhecem os docentes dessas instituições, que também estão em greve há mais
de dois meses, por melhorias na carreira docente e de infraestrutura para as
Instituições.
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