Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

quinta-feira, março 26, 2009

As causas são outras

Tenho a impressão é a de que a liderança do Partido dos Trabalhadore ( PT) antecipou o debate sobre a sucessão de vosso presidente da República, Luiz Inácio da Silva (2003-10) ao lançar no ar a bolha da pré-candidatura da ministra-chefe do Gabinete Civil da Presidência da República (PT-RS), Dilma Rousseff. É o que ocorre também em Minas Gerais, com o vice-governador Antônio Augusto Anastasia (PSDB-MG). Ele e a ministra colocaram o pé na estrada. Ambos com muito barulho, mas pouco resultado, o que é até natural a um ano e meio das eleições.

Existem os que já enxergam o fim do Governo - no caso, o de Luiz Inácio da Silva (PT-SP) - e aproveitam para tirar vantagem. No dia em que uma pesquisa Ibope apontou uma leve queda na avaliação do Governo federal diante da crise financeira, um outro instituto, o Datafolha, em um golpe de oportunismo, pisou no calo do vosso presidente da República, que no ano passado previu que o tsunami que abatia a economia norte-americana chegaria no Brasil apenas como uma “marolinha”. Como faltam 21 meses para o término do governo do petismo, a pesquisa Datafolha amplifica o ponto negativo da “marolinha” ao mostrar que 50% agora discordam da frase presidencial, que já entrou para o anedotário político brasileiro.

Esperto como ele é, Luiz Inácio da Silva percebeu que a crise pode prejudicar a pretensão de eleger o sucessor. Na medida em que a crise avança no Brasil, cai a avaliação do Governo, embora todos saibam que o problema foi criado lá fora. Por isso mesmo, ele tenta atalhar a “marolinha” para acabar com a onda até o final do ano. De preferência, no segundo trimestre - o que é possível. Como jabuti não sobe em árvore, alguma razão teve o Instituto Datafolha para divulgar a última rodada de pesquisas que veio a denegrir a imagem do vosso presidente da Rerpública em um momento delicado como este em que todos tentam evitar que a situação saia do controle.

A política do quanto pior, melhor, nunca foi boa conselheira. Quanto mais agora, quando o perigo é real. Real, em termos. No Brasil real, quem está hoje posicionado continua a investir. Sabe que a crise é uma oportunidade para crescer. O comércio e a construção civil, para citar dois exemplos, estão em uma situação confortável, até certo ponto. Se existe alguém remando em direção contrária, é porque já não vinha bem. E, com a crise, a situação piorou, no seu caso, em particular. O problema, portanto, é outro - e antigo.

Os brasileiros já superaram crises piores, como aquela do final do Governo Sarney (1985-190), início do Governo Collor (1990-92), quando a inflação de março de 1990 chegou a 81,5%. No ano anterior (1989), a inflação acumulada tinha sido de 1.782,90%. E em 1990, na transição entre os ex-ministros de Estado da Fazenda, Maílson da Nóbrega e Zélia Cardoso de Mello, a inflação acumulada foi de 1.476,56%, apesar do confisco da poupança, medida agora reconhecida pelo próprio Collor como um dos seus grandes erros. Quem não viveu esta época não consegue imaginar uma inflação mensal de 80%, com o dinheiro dormindo de um dia para o outro no overnight. Para um cenário como aquele, a inflação de 5,9% de 2008 é uma “marolinha”. Ou mesmo a de 2004, que foi de 7,6% medida pelo Indice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), apurado pelos técnicos do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE).

Numa corrida presidencial, o pior dos mundos é uma inflação alta - para o assalariado, é o pior dos impostos -, o que não deve ocorrer até o final deste Governo. Foi com a inflação em baixa, herdada do ex-presidente da República, Itamar Franco (1992-94), que o ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) venceu Luiz Inácio da Silva duas vezes, no primeiro turno (1994 e 1998).

O céu pode não ser de brigadeiro para a ministra-chefe do Gabinete Civil, mas a não ser que aconteça um desastre mundial, não é com a inflação que ela tem de se preocupar. É com ele, o voto. Rousseff está tendo a chance de viabilizar seu nome dentro e fora do PT. O que não é uma garantia de que será ela a ungida. O maior problema de Luiz Inácioda Silva é que a luz da sua estrela brilha tanto que ofusca as demais ao seu redor. Ele não preparou um sucessor. O Plano A seria o ex-ministro de Estado da Fazenda, Antonio Palocci Filho (PT-SP), que tem a vantagem de ser paulista. O Plano B pode ser a ministra-chefe do Gabinete Civil. Ela tem alguns meses para se viabilizar. Se não conseguir, certamente não será por causa da “marolinha”.