Pobres escolas
DEPOIS de pedirem à reitoria da
Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) a mudança do local em que se
encontra instalada a Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (EFLCH), em
Guarulhos (SP), alguns docentes em greve que ali lecionam mostraram como o
Programa de Reestruturação e Expansão das Universidades Públicas Federais (REUNI)
- foi implementado sem planejamento e de forma açodada no governo Luiz Inácio
da Silva (2003-10). A Unifesp oferece 35 cursos de Graduação para 7 mil alunos
e, nos últimos seis anos, ganhou cinco novos campi. O campus de Guarulhos, que
não tem instalações próprias, é o mais problemático.
OS DOCENTES da EFLCH já estavam
insatisfeitos com a falta de condições de trabalho desde que a unidade foi
instalada de forma improvisada em 2007, numa escola municipal situada numa área
distante, carente e desprovida de transporte coletivo. Como nenhuma providência
foi tomada até hoje pela reitoria da Unifesp, um grupo de docentes da EFLCH, que
está em greve há mais de dois meses, decidiu formalizar seu descontentamento,
por meio de um documento que é um libelo contra o REUNI.
O TEXTO, com 18 páginas, não foi assinado,
para evitar pressões de políticos de Guarulhos e represálias de lideranças
estudantis ligadas aos pequenos partidos radicais de esquerda. Segundo seus
articuladores, ele representa a posição de mais de 70% dos docentes da EFLCH.
Além de apontar a falta de um mínimo de infraestrutura, o documento afirma que
a escola está situada numa área geográfica e culturalmente isolada, o que
impede "o enriquecimento docente e
discente pelo diálogo com as variadas formas de cultura formal".
AQUELE documento também faz outra importante
denúncia. Como a população que vive no local - o Bairro dos Pimentas, uma das
áreas mais pobres e violentas da região metropolitana de São Paulo - tem
baixíssima escolaridade, os alunos da EFLCH, em sua maioria, não são de
Guarulhos. E como os estudantes mais bem classificados nos concursos vestibulares
desistem de se matricular, assim que tomam contato com os problemas do campus,
a escola registra alto índice de evasão, não cumprindo a função social para a
qual foi criada. "A EFLCH foi
fundada para cumprir um projeto acadêmico original, não para atender às
urgências do Bairro dos Pimentas", diz o documento. "A escola, como foi concebida, não cabe lá. É
uma falsa imagem. A Unifesp não faz nada especificamente para a população local",
afirma o coordenador da Pós-Graduação em Filosofia, Professor Doutor Juvenal
Savian.
TODOS os problemas verificados na EFLCH são
os mesmos da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da Universidade de
São Paulo (USP), na zona leste da Capital paulista, e mostram o que acontece
quando a expansão do Ensino Superior é determinada mais por interesses
políticos do que por critérios técnicos. Com um índice de evasão de 37% e
vários problemas de currículo e credenciamento em seus cursos de Graduação, a
EACH foi criada pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP) para servir de
bandeira política nas eleições presidenciais em 2006 num dos principais redutos
do Partido dos Trabalhadores (PT).
E EM 2007, a criação do campus da Unifesp
em Guarulhos foi a resposta da administração federal lullopetista à iniciativa da administração estadual do adversário
em São Paulo. Além da proximidade física com a EACH, a EFLCH teve sua criação
negociada com políticos de Guarulhos liderados pelo ex-prefeito e ex-deputado
Elói Pietá (PT-SP), atual secretário-geral nacional do PT. Instrumentos de
política, as duas escolas foram abertas onde não havia demanda. Também
admitiram alunos antes de existirem instalações adequadas. E ainda tiveram de
contratar professores, aumentando os gastos de custeio sem rever seus objetivos
e modernizar suas formas de atuação.
PARA atender os alunos ingressantes a
partir de 2013, a Unifesp, cuja sede no campus de Guarulhos não foi construída
até hoje, precisava alugar mais instalações na cidade e vinha negociando até um
imóvel industrial. Mas, com a proposta de mudança do campus de Guarulhos para a
capital feita por um grupo de docentes da EFLCH, as negociações foram suspensas
e a Escola, cujos alunos estão em greve desde Março último, aprofundou ainda
mais a crise em que vive.
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