Irrealistas
NOVA YORK (EUA) – ESPALHAR otimismo e
alegria é a nova função do Banco Central do Brasil (BC), nossa autoridade
monetária! Talvez seja essa a maior inovação introduzida por seu atual
presidente do BC, Alexandre Tombini, convertido em propagandista da política
econômica. Segundo ele, a economia crescerá mais de 4% no próximo ano, a
inflação continuará controlada e as famílias terão recursos para ampliar seu
consumo, graças à expansão do emprego e da renda. Não se trata, nesse discurso,
apenas de alimentar e administrar expectativas, um papel normalmente exercido
pela autoridade monetária. O presidente do BC é hoje um funcionário plenamente
integrado na equipe ministerial, como era em tempos mais remotos, quando a
gestão da moeda era subordinada, sem reservas, à orientação central da política
econômica.
TOMBINI está certo, provavelmente, quando
anuncia uma reativação da economia brasileira no segundo semestre deste 2012 e
um retorno, em 2013, a um crescimento em torno de 4,5%. A economia continua, de
fato, criando empregos e a renda salarial cresceu mais uma vez no primeiro
semestre. Tudo isso favorece o consumo, único fator de sustentação da economia
neste ano. Mas há um evidente irrealismo no cenário cor-de-rosa apresentado pelo
presidente do BC.
OS ESTÍMULOS
de crédito e o aumento de renda ainda observados neste ano podem favorecer a
reativação econômica neste segundo semestre, depois de meses de estagnação.
Falta saber se a economia terá fôlego para um crescimento mais que efêmero, ou
mesmo para uma expansão em ritmo superior a 4% nos anos seguintes. A taxa de criação
de empregos formais em Junho - 120,4 mil - foi 53% menor que a taxa de um ano
antes. No primeiro semestre deste 2012 houve 1 milhão de contratações com
carteira assinada. Quase metade - 469,7 mil - foi no setor de serviços. A
expansão dependeu principalmente da geração de empregos de qualidade inferior
ao do setor manufatureiro.
ESSA deterioração do quadro estendeu-se,
portanto, pelo menos até o fim do primeiro semestre dês 2012. Isso foi confirmado
também pela nova sondagem da Confederação Nacional da Indústria (CNI),
divulgada semana passada. Segundo o relatório, a demanda ficou mais fraca, as
margens de lucro foram insatisfatórias e os entrevistados apontaram uma
situação financeira ruim. O acesso ao crédito permanece difícil, afirmam os
autores do levantamento. De acordo com as informações coletadas, a produção
industrial diminuiu pelo quarto mês consecutivo e os estoques se elevaram em
cinco dos primeiros seis meses do ano. "A estratégia de crescimento via estímulos ao consumo dá claros sinais
de esgotamento", segundo o relatório. No segundo trimestre, o problema
da falta de demanda tornou-se mais importante para empresas de todos os portes,
de acordo com os informantes consultados. Ainda assim, esse problema continuou
como o terceiro mais grave na lista elaborada com base nas respostas. A carga
tributária continuou no primeiro lugar. No segundo posto ficou a competição
acirrada - um item refletido, sem dúvida, no acelerado aumento das importações
de bens industriais. A taxa de juros só aparece em sétimo lugar, entre as
reclamações, seguida pela falta de capital de giro e pela falta de
financiamento de longo prazo.
OS CONSULTADOS manifestaram menor otimismo
quanto à evolução da demanda interna e das exportações nos próximos seis meses.
Diante disso, parece irrealista esperar uma retomada significativa dos
investimentos.
TODOS os números do comércio exterior
confirmam o diagnóstico de uma indústria estagnada, com muita dificuldade para
exportar e também para manter sua participação no mercado interno.
AS PREVISÕES otimistas de Tombini podem ser
confirmadas, no curto prazo, mas o impulso de crescimento será certamente
limitado. As medidas de estímulo tomadas até agora são de curto alcance. Os benefícios
fiscais são dirigidos a setores selecionados e insuficientes para neutralizar
as distorções provocadas pela péssima tributação. Do investimento público pouco
se pode esperar como contribuição à eficiência da economia. O governo Dilma
Rousseff (2011-14) insiste em lançar novos pacotinhos, tão inócuos quanto os
anteriores, e o discurso otimista será mantido.
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