Tensão europeia
MIAMI
(EUA) - O MEDO espalhou-se de novo pelos mercados de
todo o mundo, abalados pelos sinais de piora da quarta maior economia da zona
do euro, a Espanha, e pelo risco crescente de um abalo mais grave da Itália, a
terceira maior potência da união monetária. O socorro ao governo e aos bancos
espanhóis poderá custar entre 400 bilhões e 500 bilhões em três anos, segundo
estimativa do banco Barclay's. Se o governo italiano pedir ajuda, a conta do
auxílio aos dois países poderá chegar a 1,3 trilhão, de acordo com a mesma
fonte.
NÃO será pedido esse tipo de ajuda, insistem as
autoridades dos dois países, mas a especulação cresce nos mercados, alimentada
tanto pelas más notícias da economia na Espanha quanto por avaliações de
especialistas famosos, como Kenneth Rogoff, professor da Universidade de Harvard,
e ex-economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI). Segundo ele,
dificilmente o governo espanhol deixará de pedir um resgate total, mesmo contra
a sua vontade.
SE essa previsão se confirmar, a União Europeia
(UE), o FMI e o Banco Central Europeu (BCE) terão de mobilizar recursos muito
maiores que aqueles necessários, até agora, para o resgate das economias da
Grécia, da Irlanda e de Portugal. Além do mais, os mercados estão de novo em
alerta em relação à economia grega. A crise agravou-se naquele país, o
desemprego chegou à faixa de 22% e o governo, comprometido com um duríssimo
plano de ajuste, continua apresentando resultados muito modestos. Nem é preciso
pensar num desastre na economia da Itália para compor um quadro assustador. Um
agravamento da crise europeia custará muito a dezenas de países, por seus
efeitos financeiros e comerciais. O Brasil inevitavelmente será afetado tanto
pela piora das condições de financiamento quanto pela deterioração das
condições de comércio.
O GOVERNO da Espanha conseguiu a promessa de 100
bilhões dos fundos europeus de resgate para ajuda aos bancos do país. Tentou
isolar o Tesouro Nacional da operação de socorro ao setor bancário, para evitar
a supervisão dos funcionários da Troica - a União Europeia, o BCE e o FMI. No
final de Julho, as autoridades espanholas anunciaram um ajuste adicional de 65
bilhões nas contas públicas, em mais um lance para comprovar seu esforço de
austeridade.
A TENSÃO no mercado voltou a aumentar, no entanto,
depois de duas péssimas notícias: 1) a recessão já durou três trimestres e
deverá prolongar-se: 2) é grave a situação dos governos regionais e seis deles
poderão pedir ajuda financeira. A cada dia o governo central parece mais
próximo, portanto, de ter de negociar um programa completo de resgate.
NÃO se pode prever com segurança se isso ocorrerá,
mas a especulação nos mercados tende a continuar e também isso limitará as
escolhas das autoridades. Na semana passada, o Tesouro Nacional espanhol chegou
a pagar 7,56% para rolar seus títulos. Taxas acima de 7% ao ano têm sido
consideradas insustentáveis por muitos analistas. De acordo com esses
profissionais, governos incapazes de conseguir financiamento a custos abaixo
desse nível serão forçados, em pouco tempo, a pedir socorro.
SE a Espanha chegar a esse ponto, o próximo grande
alvo da especulação será a Itália. O governo italiano já tem sido forçado a
pagar juros elevados, ocasionalmente, para refinanciar a dívida pública. Mas
tem conseguido vender os papéis oferecidos ao mercado, às vezes até com folga.
Mas a pressão especulativa retorna, de tempos em tempos, e agências de
classificação de risco já cortaram mais de uma vez a nota da dívida soberana da
Itália. Se a Espanha cair, a economia italiana ficará imediatamente exposta ao
efeito dominó.
O AGRAVAMENTO da situação da economia espanhola
comprova, mais uma vez, a insuficiência das políticas anticrise adotadas na
Europa nos últimos anos. Grande parte do esforço de ajuste será perdido, se
faltar um crescimento mínimo para reduzir o desemprego e alimentar as contas
públicas.
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