A diplomacia e a autocracia
MIAMI (EUA) – A DIPLOMACIA tupiniquim
deve ser conduzida pelo presidente da República, conforme manda a Constituição
Federal. No entanto, isso não significa que essa liderança possa ser exercida
de modo arbitrário, como deu a entender o comportamento de Dilma Rousseff
(PT-RS) no recente caso do Paraguai e em outros episódios de seu ano e meio de
mandato.
DESDE que chegou ao poder central do País
(2003), de fato, o Partido dos Trabalhadores (PT) fez da partidarização
sistemática da política externa sua marca. Os oito anos do governo Luiz Inácio
da Silva (2003-10) foram ricos em exemplos da transformação da diplomacia em
exercício ideológico. Houve casos dignos de figurar em manuais de relações
internacionais, mas pelo seu aspecto negativo. Para lembrar apenas um deles, o
Brasil apequenou-se ante a ocupação, por tropas bolivianas, de duas refinarias
da Companhia Petróleo do Brasil (Petrobrás S/A), naquele país, em Maio de 2006.
Como resposta ao óbvio vilipêndio do patrimônio brasileiro, o então presidente
da República, Luiz Inácio da Silva (PT-SP), em vez de defender a nossa companhia
pública de energia petrolífera, disse que o ato boliviano era "soberano" e que a Bolívia precisava
de "carinho".
COM a ascensão de dona Rousseff à
Presidência da República, houve a expectativa de que esse perfil danoso ao País
fosse alterado. O otimismo foi alimentado, para começar, pelo discurso público
da presidente da República na direção da defesa dos direitos humanos no Irã -
cujo presidente da República islâmica, além de negar a ocorrência do Holocausto
e dirigir um regime que persegue minorias e opositores, era aclamado por seu
antecessor como seu "companheiro".
Parecia que dona Rousseff abandonaria enfim o antiamericanismo pueril do lullopetismo
ao alinhar-se aos países civilizados na condenação da violência iraniana.
Agora, no entanto, acumulam-se demonstrações de que aquele gesto era na verdade
o primeiro de uma série de movimentos voluntaristas de Rousseff, interessada
sobretudo em imprimir sua marca pessoal na diplomacia.
QUANDO teve a chance de mostrar sua força
como estadista, na conferência do clima Rio+20, em Junho último, dona Rousseff
impacientou-se com seus diplomatas e preferiu festejar um documento final
articulado, às pressas, para não ter peso decisório nenhum, de modo que pudesse
ser aceito por todos e dar a impressão de uma grande competência diplomática.
DEPOIS, quando chamada a apagar o incêndio
causado pela destituição do então presidente da República do Paraguai, Fernando
Lugo, também em Junho último, jogou mais gasolina no fogo, ao aceitar a tese de
que houve um golpe e que, portanto, o Paraguai tinha de ser duramente punido.
MAIS tarde, patrocinou pessoalmente a
lamentável manobra para incluir a Venezuela no Mercado de Livre Comércio do
Cone Sul (Mercosul), aproveitando a oportunidade do "gancho" a que foi submetido o Paraguai, que resistia ao
ingresso do país liderado pelo coronel Hugo Chávez no já desacreditado bloco
comercial sul-americano.
NA essência, o excessivo personalismo de
Dilma Rousseff na política externa não difere da contaminação
político-ideológica observada nos oito anos de Luiz Inácio da Silva. Em ambos
os casos, as decisões foram tomadas não exatamente segundo o interesse
nacional, conforme manda a Constituição Federal do Brasil (CFB), mas de acordo
com projetos de afirmação e manutenção de poder. No governo anterior, esse
desvio se deu na aproximação imprudente com autocratas como Chávez,
comprometendo a independência do Brasil na definição de seus interesses
externos. Em nome da exigência de buscar a "formação de uma comunidade latino-americana de nações",
conforme determinação constitucional, Luiz Inácio da Silva colocou o País a
serviço do delirante projeto bolivariano.
AGORA, com dona Rousseff, a ideologia lullopetista segue em primeiro plano nas
relações internacionais, mas a "gerentona",
como ela gosta de ser vista, acrescentou um componente ainda mais explosivo,
que são suas idiossincrasias. A presidente da República não se entende com seu
chanceler, Antonio Patriota. Ela quer uma "diplomacia de resultados" e nutre franca hostilidade a fazer
concessões e aos rapapés das mesas de negociação, o que contraria um dos
princípios basilares da diplomacia. Nessa toada, com mais dois anos e meio desse
mandato na cadeira de presidente da República, ainda há tempo de sobra para que
Dilma Rousseff dê novos trancos pessoais na diplomacia nacional, que sempre se
pautou pelo comedimento, comprometendo ainda mais a influência do Brasil no
concerto internacional.
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