Corporativismo como pano de fundo
APÓS rejeitarem a última proposta salarial
apresentada pelo governo, que previa reajuste de 25% a 40%, escalonado em três
anos e de acordo com o cargo e a titulação do docente, os 140 mil docentes das Instituições
Federais de Ensino deixaram claro que são eles que não querem negociar com o
Ministério do Planejamento Orçamento e Gestão (MPOG) e o Ministério da Educação
(MEC). Quando entraram em greve, há dois meses e meio, era a categoria que
acusava o governo de não querer dialogar e, muito menos, de querer negociar.
COM isso, o segundo semestre letivo de 2012
começou sem aulas em 57 das 59 universidades e em 33 dos 37 institutos e
escolas técnicas federais. Como a suspensão das atividades nos últimos 75 dias
se concentrou nos cursos de Graduação, pois na Pós-Graduação o docente que não
trabalha perde a bolsa de produtividade paga pelas agências de fomento à
pesquisa, os maiores prejudicados são os alunos do quarto e do quinto ano. Eles
terão de adiar não apenas as solenidades de formatura, mas também seus planos
profissionais, uma vez que o cronograma de aulas de 2012 já está comprometido.
ALÉM de reajuste de salários e gratificações,
os docentes das Universidades, Escolas Técnicas e Institutos Tecnológicos Federais
reivindicam um novo plano de carreira, alegando que demoram muito tempo para
chegar ao posto máximo, de Professor Titular. E, nas IFES que foram inauguradas
pelo governo Luiz Inácio da Silva (2003-10), eles também pedem melhores
condições de trabalho, reclamando que não dispõem de laboratórios, bibliotecas,
computadores e até mesmo de salas de aula em número suficiente.
DESDE o início da greve, que começou no último
dia 17 de Maio, o governo já apresentou duas propostas - ambas rejeitadas pelas
duas principais entidades sindicais do professorado, o Sindicato Nacional dos
Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes) e o Sindicato Nacional dos
Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica (Sinasefe).
A primeira proposta, que previa um reajuste salarial escalonado de 8% a 25%,
aumentava em R$ 3,9 bilhões os gastos da União com a folha de pagamento dos
docentes das IFES. A segunda proposta tinha um impacto de R$ 4,2 bilhões nas
contas públicas. "A greve vai
continuar. Vamos ver quem tem mais
força", afirma a presidente da Andes, Marinalva Oliveira, que é
professora de psicologia na Universidade Federal do Amapá (UFAP). "A responsabilidade está no colo do governo.
Cabe a ele elaborar uma proposta que atenda minimamente às reivindicações da
categoria. Ninguém é louco de achar que todas as demandas serão atendidas, mas
tem que contemplar pelo menos algumas delas", argumenta o
coordenador-geral do Sinasefe, David Lobão, que também critica o projeto de
progressão da carreira docente apresentado pelo MEC em Julho, por condicioná-la
à titulação e não ao tempo de serviço dos docentes.
MAS, segundo a ministra de Estado do
Planejamento Orçamento e Gestão, Miriam Belchior (PT-SP), o governo não tem
condições de apresentar uma terceira proposta, por causa da retração da
economia e da queda na arrecadação de impostos. Para o secretário de Educação Profissional
e Tecnológica do MEC, Marco Antonio de Oliveira, o governo chegou ao "limite", em matéria de proposta
salarial. "Dialogamos, fizemos tudo
o que era possível e procuramos atender a algumas demandas consideradas justas",
afirma o secretário de Ensino Superior do MEC, Amaro Lins.
ALÉM do problema orçamentário, o impasse
entre o governo e os docentes das IFES tem um componente político. As
principais entidades sindicais do professorado das instituições federais de
Ensino sempre estiveram próximas da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e do Partido
dos Trabalhadores (PT). Mas, nos últimos anos, a Andes e o Sinasefe
vincularam-se ao Partido do Socilaismo e da Liberdade (PSOL) e ao Partido
Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU), dois pequenos partidos de
extrema esquerda, e à central sindical por eles controlada, a Central Sindical
e Popular (Conlutas). Embora os dirigentes da Andes e do Sinasefe tenham
prometido não "partidarizar"
a greve, fica evidente que ela é política e que os grevistas estão agindo não
só por razões corporativas, mas também com vistas às eleições de Outubro
próximo.
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