Herança bendita
INTRODUZIDOS no País desde 1999, ainda na
gestão de José Serra (PSDB-SP) como ministro de Estado da Saúde no governo
Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), e ainda vencendo pressões da indústria
farmacêutica e as desconfianças de consumidores, os medicamentos genéricos são
hoje um sucesso.
COMO estudos internacionais
comprovam, a competição também funciona nesse setor. Quanto maior for a
participação de produtos genéricos em um mercado, maior é a queda de preços dos
medicamentos em geral.
DADOS divulgados pela Associação Brasileira
das Indústrias de Medicamentos Genéricos (Pró-Genéricos) revelam que, de cada
quadro remédios vendidos pelas farmácias brasileiras, de janeiro a março deste
ano, um foi genérico. No período, a participação desses produtos no mercado
aumentou para 23,5%, um avanço significativo em relação ao primeiro trimestre
do ano passado, quando participava com 18,5%. Isso se deve, principalmente, ao
preço. O medicamento genérico produzido com a mesma substância ativa do produto
de marca é, em média, 52% mais barato do que este. A diferença, em alguns
casos, pode chegar a 85%. Isso significa uma substancial poupança tanto para a
população, especialmente para as camadas de mais baixo poder aquisitivo, como
para hospitais, entidades assistenciais e para o próprio Sistema Único de Saúde
(SUS), que também fornece de graça, aos portadores de doenças crônicas,
remédios de uso contínuo.
NA realidade, o Brasil está tirando o
atraso com relação aos genéricos. Na Europa, a participação das vendas desses
produtos é superior a 30% do total. No Reino Unido da Grã-Bretanha (UK), supera
50%. Nos estados Unidos da América (EUA), os genéricos, que são vendidos há
mais de 20 anos, respondem por 60% do mercado. De acordo com a BCC Research, a
indústria mundial desses produtos cresce a uma média de 15% ao ano, devendo
faturar US$ 168 bilhões em 2014. Nos EUA, o faturamento do setor, que foi de
US$ 33 bilhões em 2009, deverá saltar para US$ 54 bilhões em 2014, segundo a
mesma fonte.
QUANDO os genéricos foram introduzidos no
Brasil, muitas pessoas, acostumadas aos produtos farmacêuticos de marca,
duvidavam da sua eficácia e segurança. Essa desconfiança se foi dissipando com
o tempo, à medida que aumentava a oferta e os médicos passaram a receitá-los
normalmente. Também as farmácias passaram a oferecê-los como opção para os
clientes. Na última década, segundo informação da Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (Anvisa), o número de genéricos registrados no País mais
que decuplicou, indo de 1.562 em 2001 para 16.675 em 2010. Com isso, as vendas
desses produtos somaram R$ 2,4 bilhões no primeiro trimestre deste ano, um
crescimento de 35,4% em relação a igual período de 2011 (R$ 1,772 bilhão). Essa
evolução também contribuiu para o fortalecimento dos laboratórios farmacêuticos
nacionais, que detêm a liderança nesse setor no mercado interno.
ESSA variedade dos produtos oferecidos pode
aumentar muito mais com o vencimento de patentes detidas por grandes
laboratórios. Deixando de ter validade as patentes, as próprias empresas
multinacionais que eram suas proprietárias procuram outros laboratórios para
fabricá-los como genéricos ou se encarregam elas próprias de fazê-lo. No ano
passado, o número de novos registros cresceu 30% no Brasil, mas a quantidade
poderia ser maior, se o processo de aprovação da Anvisa fosse menos demorado.
Hoje, a aprovação de um genérico demora 15 meses em média.
E DE acordo com Odnir Finotti, presidente
da Pró-Genéricos, a agência reguladora manteve, de 2001 a 2006, uma equipe
exclusiva para cuidar do licenciamento de genéricos. A partir de 2006, porém, o
tratamento mudou: os pedidos de registro de produtos genéricos passaram a
entrar na fila junto com outros medicamentos novos. Como Finotti afirmou à
nossa reportagem esta semana, o setor não reivindica que os padrões de análise
e o nível de exigência sejam modificados, mas quer que seja dada prioridade aos
genéricos inéditos, ou seja, àqueles cujas patentes venceram e não existe outro
genérico no mercado. A seu ver, esta é a maneira de garantir o acesso pela
população a esses remédios. A Anvisa não explicou as razões da mudança de
critério.
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