Congelamento artificial disfarçado
CAMPOS DO JORDÃO (SP) - CERTAMENTE nenhum dado seja mais
ilustrativo dos desacertos da administração federal do que a disparada das
importações de combustíveis. Segundo a Agência Nacional do Petróleo (ANP), as
importações de gasolina tiveram um acréscimo de 315% de Janeiro a Maio deste 2012
em comparação com o mesmo período de 2011, acarretando um dispêndio de cerca de
US$ 1,4 bilhão. A situação é ainda mais grave. Pelas informações divulgadas
pela Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento da Indústria
e do Comércio Exterior, as importações de óleos combustíveis, que inclui gasolina,
óleo diesel e "fuel oil" -
o terceiro maior item da pauta -, consumiram US$ 3,061 bilhões até Maio deste
ano, um crescimento de 51,43% em relação aos cinco primeiros meses do ano
passado. Tudo isso é fruto da negligência do governo Dilma Rousseff (20011-14) quanto
à produção de etanol, desestimulando investimentos para a renovação da lavoura
canavieira, e do descontrole no cumprimento do cronograma para entrada em
operação de novas refinarias de petróleo. Embora alertado pelos seus próprios
técnicos sobre a necessidade de reajustar os preços dos combustíveis, o governo
Rousseff persiste em manter inalterados os preços da gasolina, prejudicando a
produção de etanol e incentivando o consumo de gasolina, mesmo em face de um
aumento de 1,6 milhão de automóveis em circulação no País.
TODAS as previsões feitas há alguns anos de
que o Brasil estava destinado a ser um grande exportador de bicombustíveis,
sendo elogiado internacionalmente pelo seu desempenho nessa área, não se
concretizaram. Com um recuo de 17% na produção de álcool combustível na safra
2011/2012 - uma perda de 5 bilhões de litros - o País já teve de importar 1,45
bilhão de litros de etanol produzido a partir de milho para atender ao mercado.
"Os estudos da ANP e da Petrobrás
previam um aumento na produção de etanol que não se realizou", disse à
nossa reportagem o professor Doutor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ),
Edmar de Almeida. "Isso desmontou o
planejamento para a oferta de combustíveis".
FALHAS flagrantes de planejamento
ocorreram, paralelamente, na área de refino. A Refinaria Abreu e Lima, em
Ipojuca (PE), que deveria ser construída em parceria com a companhia estatal
petrolífera PDVSA, da Venezuela, como previa um mirabolante acordo assinado
pelo então presidente da República Luiz Inácio da Silva (PT-SP) e o caudilho
venezuelano, coronel Hugo Chávez, deveria entrar em funcionamento no fim deste
ano. Mas, apesar de ter consumido recursos muito mais vultosos do que o previsto
- sem que o governo da Venezuela tenha entrado com um níquel sequer -, a
conclusão ficou para Novembro de 2014, e a presidente da República, Dilma Wana Rousseff
(PT-RS) terá sorte se conseguir inaugurá-la ainda em seu governo. A Companhia
Petróleo do Brasil (Petrobrás S/A) manteve os planos de construção da refinaria
no Complexo Petroquímico do Estado do Rio de Janeiro, mas a unidade não tem
data para entrar em operação. Quanto às refinarias "premium", que seriam construídas no Estado do Ceará e no Estado
do Maranhão, ficaram para as calendas.
A ESTRATÉGIA que a Petrobrás S/A tem
adotado nessa área é difícil de entender. As duas novas refinarias mais viáveis
foram planejadas para produzir mais óleo diesel e outros derivados e menos
gasolina. A companhia pública petrolífera pretenderia que, quando essas novas
unidades entrassem em funcionamento, as refinarias existentes passassem a
produzir mais gasolina, de modo a poder atender à demanda. Mas há algo errado
nesse remanejamento, tanto assim que é possível, diante do aumento de consumo
de gasolina, que a refinaria da Complexo de Petroquímico do Estado do Rio de
Janeiro (Comperj), em uma segunda fase, passe a produzir esse combustível, como
preveem os técnicos. Mas como nem a primeira fase da refinaria tem prazo para
ser concluída, isso não passa de especulação. Nessa altura, chega a ser
otimista a previsão de que o País terá de conviver ainda por três ou quatro
anos com a escassez de gasolina e etanol, tendo em vista a contínua elevação do
consumo em razão de um número cada vez maior de veículos nas ruas e estradas
nacionais.
PODE-SE dizer que essa política do governo
tem, pelo menos, servido para conter a inflação. Aí está o grande equívoco. Não
se combate a inflação, em bases sólidas, mediante um congelamento artificial de
preços, mas, sim, por uma verdadeira política de austeridade, com corajosos
cortes nos gastos públicos correntes.
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