As reivindicações da Polícia Judiciária da União
O
DEPARTAMENTO de Polícia Federal (DPF) resolveu agir, de uma hora para outra, com
extremo rigor nos portos, aeroportos e outros pontos de entrada no País, e
desde a última Quinta-feira, 19, deflagrou uma operação-padrão, cujo objetivo
é, declaradamente, o de protestar contra a terceirização de funções que seriam
exclusivas de integrantes de seus quadros. Ao DPF cabe exercer o controle e a
fiscalização sobre portos, aeroportos e fronteiras, mas, como ocorre em todos
os países do mundo, muitas das tarefas burocráticas de conferência de passagens
e triagem de bagagens, bem como vigilância das instalações de embarque e
desembarque, são exercidas por terceiros, o que é feito com autorização legal.
Mesmo sem efetivos considerados adequados para o exercício dessas tarefas, o DPF
passou a checar documentos, examinar bagagens e entrevistar passageiros,
fazendo sentir ostensivamente a sua presença, para chamar a atenção.
POR
prudência, as companhias aéreas aconselharam os passageiros a chegarem aos
aeroportos com 3h30 horas de antecedência, quando o normal é uma hora para voos
domésticos e duas horas para internacionais. No setor de imigração, triplicou a
demora para exame de documentação.
SE
houver atrasos e se as companhias puderem provar que eles foram devidos à
interferência dos agentes do DPF, os passageiros podem processar a União, pedindo
indenização. Ocorre que DPF pode muito bem alegar que havia motivos para
suspeitas que a levaram a uma investigação mais detida em certas movimentações
de passageiros ou de cargas. Enfim, é mais uma dor de cabeça para quem viaja de
avião Brasil afora.
TANTO
zelo dá para desconfiar. Não por coincidência, a Federação Nacional dos
Policiais Federais (Fenapef) realizou uma assembleia-geral no último dia 27 de
Março, em que, além de protestar contra o número excessivo de terceirizados,
afirmou que a situação é agravada pelos "constantes cortes orçamentários, a burocratização do trabalho policial,
o esvaziamento do trabalho preventivo da PF e os baixos salários de agentes,
escrivães e papiloscopistas". Mais explícito, Marcos Wink, presidente
da Fenapef, disse que, "de 2002 para
cá, a Polícia Federal teve o menor índice de reajuste salarial. Teve 78%,
enquanto outras categorias tiveram 400%. Somos o grupo que teve o menor
(aumento de) salário dentro do Executivo".
PODE-SE
pensar, por essas declarações, que os salários do DPF, um órgão vital para a
segurança no País, sejam insignificantes. Não é o caso: para agentes, peritos criminais
e papiloscopistas, os salários vão do inicial de R$ 7.514 a R$ 11.879; para
delegados, a escala vai de R$ 13.368 a R$ 19.699. Os policiais federais
reivindicam ainda plano de carreira e está em exame pelo Congresso Nacional uma
Lei Orgânica para a Polícia Federal.
Em
comparação, os terceirizados contratados pelo DPF ganham salários muito
inferiores a isso, sendo utilizados para emitir passaportes, operar máquinas de
raios X e detectores de metais. Evidentemente, esses funcionários de empresas
que terceirizam serviços não devem ter acesso ao banco de dados criminais nem
atuar no combate ao contrabando, narcotráfico e tráfico de armas, que são, de
fato, atribuições exclusivas da PF, que exerce igualmente a função de Polícia
Judiciária da União.
ESSA
operação-padrão, portanto, faz parte de uma campanha salarial que inclui outras
reivindicações. Já está marcada para a nesta Quinta-feira, 26, uma
assembleia-geral para decidir sobre o passo seguinte para encaminhamento das
reivindicações da categoria, não estando afastada a possibilidade de greve
geral da categoria.
O
GOVERNO federal admite que, com a perspectiva da realização de grandes eventos
no Brasil, como a Copa da FIFA em 2014 e os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro
em 2016, há a necessidade de aumentar os efetivos da Polícia Federal, que são
de 12 mil, atualmente. Dois concursos foram marcados para este ano, para
aumentar o contingente em 1,2 mil policiais. A reivindicação do DPF é de mais 5
mil funcionários, entre agentes e delegados, mas isso parece inviável dadas as
limitações orçamentárias.
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