A lavagem da roupa suja no STF
AH! Aquelas respostas do ministro Joaquim Barbosa às críticas que lhe foram feitas pelo
ministro Cezar Peluso, um dia antes de deixar a presidência do Supremo Tribunal
Federal (STF), lançaram mais luz sobre um cenário que o grande público supunha
preservado de lavagens públicas de roupa suja.
A
HISTÓRIA do Supremo Tribunal Federal, que acumula as competências de corte
constitucional e de tribunal de última instância neste grande e bobo País,
sempre registrou as mais variadas desavenças entre seus integrantes, mas elas
eram travadas a portas fechadas ou por floreios retóricos nas sessões plenárias
- e não sob a forma de trocas de insultos através da mídia. As críticas de
Peluso foram feitas em entrevista concedida ao site Consultor Jurídico na
internet, e as respostas de Barbosa, que é o relator do processo do Mensalão e
assumirá a presidência do STF em Novembro próximo, sucedendo ao ministro Carlos
Ayres Britto, foram dadas em entrevista à reportagem do Jornal O GLOBO.
E
NA saraivada de críticas que disparou contra a presidente da República, a
corregedora nacional de justiça, ministra Eliana Calmon, o senador Francisco Dornelles
(PP-RJ) e colegas da Corte, Peluso afirmou que Barbosa tem ambições eleitorais,
razão pela qual julgaria os processos mais com base em motivações políticas do
que jurídicas. Na mesma entrevista, o ex-presidente do STF também disse que
Barbosa "é dono de temperamento
difícil" e o classificou como "inseguro", motivo pelo qual se ofenderia com "qualquer coisa".
EM
resposta, Barbosa chamou Peluso de "ridículo",
"brega", "caipira", "corporativo", "desleal", "tirano", "desastroso" e "pequeno".
"Uma universidade francesa me
convidou a participar de uma banca de doutorado em que se defendera uma
excelente tese sobre o STF e seu papel na democracia brasileira. Peluso vetou
que me fossem pagas diárias durante os três dias de afastamento, ao passo que
me parecia evidente o interesse da Corte em se projetar internacionalmente,
pois, afinal, sua obra estava em discussão. Inseguro, eu?", retrucou
Barbosa.
ALÉM
de comparar seu currículo acadêmico com o currículo de Peluso, o ministro Barbosa
o acusou de praticar "supreme
bullying" contra ele, por conta dos problemas de saúde que o levaram a
sofrer uma cirurgia no quadril e a se afastar para tratamento médico, e de
plantar fofocas na Imprensa sobre suas condições físicas. Afirmou, ainda, que
nas sessões plenárias o ex-presidente do STF manipulava regras e violava
dispositivos regimentais de acordo com seus interesses, com o objetivo de impor
sua vontade aos demais ministros nos julgamentos mais importantes. "As pessoas guardarão na lembrança a imagem
de um presidente do STF conservador, imperial, tirânico, que não hesitava em
violar as normas quando se tratava de impor à força sua vontade. Dou exemplos.
Peluso inúmeras vezes manipulou ou tentou manipular resultados de julgamentos,
criando falsas questões processuais simplesmente para tumultuar e não proclamar
o resultado que era contrário ao seu pensamento. Lembre-se do impasse nos
primeiros julgamentos da Lei da Ficha Limpa, que levou o tribunal a horas de
discussões inúteis. Peluso também não hesitou em votar duas vezes num mesmo
caso, o que é inconstitucional, ilegal e inaceitável", disse Barbosa,
referindo-se ao julgamento que livrou o deputado Jader Barbalho (PMDB-PA) da
Lei da Ficha Limpa (LFP).
EM
sua entrevista ao Consultor Jurídico, Peluso afirmou que uma de suas
realizações, em dois anos de gestão, foi ter apaziguado o STF e acabado com as
tensões e discussões entre os ministros. Barbosa refutou-o, acusando-o de ter
"incendiado" não apenas a
mais importante Corte do País, mas "o
Poder Judiciário inteiro, com sua obsessão corporativista". Barbosa,
evidentemente, referia-se ao embate de Peluso contra a corregedora nacional de
Justiça, Eliana Calmon, e ao recurso impetrado pela Associação dos Magistrados do
Brasil (AMB) com o objetivo de esvaziar as prerrogativas do Conselho Nacional
de Justiça (CNJ). A entidade é chefiada por um desembargador do Tribunal de
Justiça de São Paulo (TJSP), onde Peluso atuou por quase duas décadas.
ESSE
bate-boca entre Peluso e Barbosa em nada dignifica a história e a legitimidade
do Supremo Tribunal Federal.
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