A perna curta da ministra-candidata
TIRADENTES (MG) - O GOVERNO liderado pelo vosso presidente da República, Luiz Inácio da Silva (PT-SP), vulgo “O-CARA”, se agarrou a um fio de palha para tentar encobrir a mentira da ministra de Estado chefe do Gabinete Civil da Presidência d República, Dilma Pinoquío Rousseff (PT-RS), ao negar que tivesse chamado a seu gabinete no Palácio do Planalto a então secretária da Receita Federal do Brasil, Lina Maria Vieira, para determinar que agilizasse a devassa na contabilidade de Fernando Sarney, o filho mais velho do encrencado presidente do Senado Federal, José de Ribamar Sarney (PMDB-AP), quem toca os negócios do clã maranhense. O fio de palha foi a passagem do depoimento de Lina Maria no plenário da Comissão de Constituição e Justiça do Senado Federal, em que Lina Vieira disse não ter se sentido pressionada pela ministra Pinóquio. "Se não houve pressão", alardeou o líder do governo na Casa, senador Romero Jucá (PMDB-PI), "não havia problema". Foi secundado pelo líder peemedebista senador Renan Calheiros (PMDB-AL): "Se houve ou não o encontro, não tem mais importância central". O vosso presidente da República, enfim por seu turno, comentou que a ex-secretária "recuou". Quiseram jogar areia nos olhos do público - e erraram o alvo.
AFINAL, o que se averigua desde o início desse episódio não é o que aconteceu no encontro anunciado por Lina Vieira, mas apenas se o encontro aconteceu. Em outras palavras: quem mentiu. O que ameaça a candidatura de Rousseff é a pecha de mentirosa e não o que possa ter feito para ajudar Zé Sarney.
RIGOROSAMENTE, desde que a funcionária confirmou à reportagem do jornal Folha de S. Paulo ter tido um encontro reservado com Rousseff, o lullismo ficou refém da atitude da ministra Pinóquio de desmentir taxativamente o episódio. "A reunião privada, a que ela se refere, eu não tive", assegurou. É possível que Rousseff tenha se sentido encorajada pelo fato de Lina Maria não apresentar provas objetivas do que afirmava. Ela tampouco soube precisar quando ocorreu a reunião - falou em "final de 2008". Além disso, Lina Maria alegou estar sem a agenda em que a sua ida ao Palácio do Planalto poderia ter sido anotada.
A TAL ponto o governo se empenhou em bancar a desqualificação da funcionária da Receita Federal que o próprio “CARA” não resistiu a dar uma temerária contribuição. "Qual a razão que essa secretária tinha para dizer que conversou com a Dilma e não mostrar a agenda?", perguntou numa entrevista. "Só tem um jeito: abrir a mala em que ela levou a agenda e mostrar a agenda para todo mundo". Até amigos do “CARA” notaram que ele se expôs desnecessariamente. Ao mesmo tempo, alegando razões de segurança, o governo do “CARA” se recusou a liberar as fitas que registram as visitas ao palácio e que poderiam corroborar ou calar a versão de Lina Vieira. Por último, não tendo conseguido impedir que a Oposição a convidasse a depor, os lullistas recorreram à costumeira truculência para intimidá-la, insinuando que teria cometido crime de prevaricação (por não ter denunciado, como servidora pública, o ato da ministra Pinóquio).
E FOI nesse clima que ela admitiu ter feito uma "interpretação errada" da demanda de Dilma Pinóquio Rousseff - não seria necessariamente para "encerrar" a investigação, mas para lhe dar "celeridade". Mas - e é isso que o governo tentou toscamente abafar - a ex-secretária descreveu com profusão de detalhes a sua ida ao Palácio do Planalto, identificando o motorista que a transportou e reconstituindo o diálogo com a ministra Pinóquio - "ela foi cirúrgica", avaliou. De volta à Receita Federal, tendo sido informada de que "tudo estava em ordem" com a devassa, deixou o assunto de lado. Mostrou-se segura de si ao assinalar que "não mudo a verdade no grito" e, numa resposta ao “CARA”, que "não preciso de agenda para dizer a verdade". Principalmente, acusou Dilma Pinóquio de ter-lhe feito um pedido "incabível". Foi "uma ingerência desnecessária e descabida", repetiu. Só mesmo o desdém do “CARA” pelos fatos que o incomodam para considerar isso um recuo.
QUAISQUER que sejam os desdobramentos do caso, o comportamento da candidata do “CARA” a sucedê-lo deixa claro o seu despreparo para lidar com situações de estresse político. Talvez ela achasse que não poderia confirmar a reunião com Lina Vieira sem confirmar também o motivo - e dar uma explicação convincente sobre a sua intromissão em questões técnicas da Receita Federal do Brasil, para não parecer que tentava proteger a família do senador que a chamou de "sacerdotisa do serviço público" e cujo apoio à sua candidatura “O-CARA” considera essencial. Mas a tática de desmoralizar a acusadora acabou por atingi-la em cheio. Também tiveram pernas curtas os desmentidos de Dilma Pinóquio Rousseff sobre a pressão para agilizar a venda da combalida companhia de aviação Varig, sobre o preparo de um dossiê sobre os gastos do governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) e sobre os falsos créditos acadêmicos no seu currículo oficial. Já é um padrão de desapreço pela verdade.
AFINAL, o que se averigua desde o início desse episódio não é o que aconteceu no encontro anunciado por Lina Vieira, mas apenas se o encontro aconteceu. Em outras palavras: quem mentiu. O que ameaça a candidatura de Rousseff é a pecha de mentirosa e não o que possa ter feito para ajudar Zé Sarney.
RIGOROSAMENTE, desde que a funcionária confirmou à reportagem do jornal Folha de S. Paulo ter tido um encontro reservado com Rousseff, o lullismo ficou refém da atitude da ministra Pinóquio de desmentir taxativamente o episódio. "A reunião privada, a que ela se refere, eu não tive", assegurou. É possível que Rousseff tenha se sentido encorajada pelo fato de Lina Maria não apresentar provas objetivas do que afirmava. Ela tampouco soube precisar quando ocorreu a reunião - falou em "final de 2008". Além disso, Lina Maria alegou estar sem a agenda em que a sua ida ao Palácio do Planalto poderia ter sido anotada.
A TAL ponto o governo se empenhou em bancar a desqualificação da funcionária da Receita Federal que o próprio “CARA” não resistiu a dar uma temerária contribuição. "Qual a razão que essa secretária tinha para dizer que conversou com a Dilma e não mostrar a agenda?", perguntou numa entrevista. "Só tem um jeito: abrir a mala em que ela levou a agenda e mostrar a agenda para todo mundo". Até amigos do “CARA” notaram que ele se expôs desnecessariamente. Ao mesmo tempo, alegando razões de segurança, o governo do “CARA” se recusou a liberar as fitas que registram as visitas ao palácio e que poderiam corroborar ou calar a versão de Lina Vieira. Por último, não tendo conseguido impedir que a Oposição a convidasse a depor, os lullistas recorreram à costumeira truculência para intimidá-la, insinuando que teria cometido crime de prevaricação (por não ter denunciado, como servidora pública, o ato da ministra Pinóquio).
E FOI nesse clima que ela admitiu ter feito uma "interpretação errada" da demanda de Dilma Pinóquio Rousseff - não seria necessariamente para "encerrar" a investigação, mas para lhe dar "celeridade". Mas - e é isso que o governo tentou toscamente abafar - a ex-secretária descreveu com profusão de detalhes a sua ida ao Palácio do Planalto, identificando o motorista que a transportou e reconstituindo o diálogo com a ministra Pinóquio - "ela foi cirúrgica", avaliou. De volta à Receita Federal, tendo sido informada de que "tudo estava em ordem" com a devassa, deixou o assunto de lado. Mostrou-se segura de si ao assinalar que "não mudo a verdade no grito" e, numa resposta ao “CARA”, que "não preciso de agenda para dizer a verdade". Principalmente, acusou Dilma Pinóquio de ter-lhe feito um pedido "incabível". Foi "uma ingerência desnecessária e descabida", repetiu. Só mesmo o desdém do “CARA” pelos fatos que o incomodam para considerar isso um recuo.
QUAISQUER que sejam os desdobramentos do caso, o comportamento da candidata do “CARA” a sucedê-lo deixa claro o seu despreparo para lidar com situações de estresse político. Talvez ela achasse que não poderia confirmar a reunião com Lina Vieira sem confirmar também o motivo - e dar uma explicação convincente sobre a sua intromissão em questões técnicas da Receita Federal do Brasil, para não parecer que tentava proteger a família do senador que a chamou de "sacerdotisa do serviço público" e cujo apoio à sua candidatura “O-CARA” considera essencial. Mas a tática de desmoralizar a acusadora acabou por atingi-la em cheio. Também tiveram pernas curtas os desmentidos de Dilma Pinóquio Rousseff sobre a pressão para agilizar a venda da combalida companhia de aviação Varig, sobre o preparo de um dossiê sobre os gastos do governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) e sobre os falsos créditos acadêmicos no seu currículo oficial. Já é um padrão de desapreço pela verdade.
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