História fascinante
É NO mínimo curioso que cheguem aos cinemas dois filmes de diferentes temas e nacionalidades, mas que compartilham a mesma dificuldade de origem. Ambos demoraram muito tempo para ser feitos, o brasileiro “O Contador de Histórias”, do cineasta Luiz Villaça, e o italiano “Almoço em Agosto”, do cineasta Gianni Di Gregório. Foram cerca de sete anos para trazer ao cinema a história de Roberto Carlos Ramos. O próprio diretor Villaça conta como tudo começou: "Estava lendo para o meu filho Nino, antes de dormir. Uma história infantil, ele dormiu e eu continuei lendo até descobrir, no fim, que era a história do contador de histórias. Contei para a Denise (a atriz Denise Fraga, mulher do diretor e produtora do filme que estreou há uma semana). Disse que dava filme. Contatamos o Roberto Carlos e ele disse que estava voltando de um encontro de contadores de histórias e que um norte-americano tinha dito exatamente isso. Que a história dele dava um filme. Só não imaginávamos que demoraria tanto para ficar pronto”.
O MOTIVO é que, apesar de todo o empenho, Villaça e Fraga não encontravam parceiros. Ninguém parecia interessado na história de Roberto Carlos Ramos. No fim de 2005, eles estavam a ponto de desistir do projeto quando as coisas começaram a mudar. O cinema brasileiro conta muitas histórias de excluídos que optam pela via da violência. Você sabe de que filmes estamos falando, mas não custa enumerá-los - Cidade de Deus, Tropa de Elite, Ônibus 174. Todos eles percorrem a mesma via. O garoto desassistido pega em armas, iniciando sua trajetória na violência, matando até ser morto. A história de Roberto Carlos Ramos introduz uma quebra nessa sequência. Entregue pela mãe à Fundação Estadual de Bem Estar do Menor (Febem), o garoto mineiro poderia ter seguido o velho caminho, mas ele encontrou um anjo, a francesa Margherit Duvas - quase homônima da escritora e cineasta -, que veio ao País pesquisar a realidade dos garotos de rua e terminou tomando Roberto Carlos sob sua proteção. Deu-lhe o que ele não tivera, e a maioria dos garotos de rua também não - uma oportunidade.
NO filme há um momento decisivo, quando Margherit está voltando para a Europa e visita sua amiga na Febem. Ela se chama Pérola e é interpretada por Malu Galli. É certamente alguém bem-intencionada, mas Pérola faz seu discurso de que gostaria de atender cada caso na Febem com a atenção que Margherit deu a Roberto Carlos. Só que ela tem centenas, milhares de garotos. Margherit elegeu um. Parece fácil. As duas conversam e, de repente, silenciam. Seguem fumando, uma frente à outra. Face ao que o próprio Cinema brasileiro tem mostrado, um filme como “O Contador de Histórias” assemelha-se a uma utopia. Mas a história é real. Villaça conta o que lhe interessou em Roberto Carlos Ramos. "Foi justamente a forma como ele passou a usar a fantasia para transformar e conviver com uma realidade muito dura. A fantasia permitiu-lhe lidar com suas frustrações."
É, TALVEZ exista um lado Peixe Grande, nessa história de um narrador que fantasia as próprias histórias, mas Villaça não tomou o filme de Tim Burton com Ewan McGregor como referência. Não lhe interessava e ele nem acha que Peixe Grande seja um Burton muito bom, como Edward Mãos de Tesoura e Ed Wood. O filme centra-se na relação de Roberto Carlos e Margherit, interpretada por Maria de Medeiros, porque ela viabilizou a transformação do garoto. Roberto Carlos é interpretado por três atores - Marco Antonio Ribeiro (aos 6 anos), Paulo Henrique Mendes (aos 13) e Cleiton dos Santos da Silva (aos 20). Foram preparados por Laís Correa, mas Villaça trabalhou intimamente com cada um. Como ele diz, "o filme é resultado da minha paixão pelo cinema, mas com os pés na realidade". Os garotos lhe permitiram construir essa urgência. “O Contador de Histórias” é um filme fácil de criticar. Parece ingênuo, mas é de uma ingenuidade intencional e assumida.
VILLAÇA mostrou o filme para garotos de comunidades carentes de Belo Horizonte, São Paulo e Rio de Janeiro. Foi uma experiência muito interessante. Os garotos se identificam com Roberto Carlos. E Villaça se identifica com Margherit, a agente da transformação. "Sou um contador de histórias e, com este filme, quero acreditar que estou fazendo como a Margherit. Os críticos dizem que a função do Cinema, da arte, não é veicular uma mensagem. Mas eu gostaria de estar dizendo, com O Contador de Histórias, a todos os meninos e meninas carentes do Brasil que não desistam do seu sonho. Pode ser que o sonhador seja eu, que a sonhadora seja a Denise (Fraga). Estamos criando nossos filhos para que sejam bons cidadãos. Ser um bom cidadão não significa só pensar em si e nos seus. Foi o que ficou da história de Roberto Carlos Ramos. Por isso, quis contá-la".
O MOTIVO é que, apesar de todo o empenho, Villaça e Fraga não encontravam parceiros. Ninguém parecia interessado na história de Roberto Carlos Ramos. No fim de 2005, eles estavam a ponto de desistir do projeto quando as coisas começaram a mudar. O cinema brasileiro conta muitas histórias de excluídos que optam pela via da violência. Você sabe de que filmes estamos falando, mas não custa enumerá-los - Cidade de Deus, Tropa de Elite, Ônibus 174. Todos eles percorrem a mesma via. O garoto desassistido pega em armas, iniciando sua trajetória na violência, matando até ser morto. A história de Roberto Carlos Ramos introduz uma quebra nessa sequência. Entregue pela mãe à Fundação Estadual de Bem Estar do Menor (Febem), o garoto mineiro poderia ter seguido o velho caminho, mas ele encontrou um anjo, a francesa Margherit Duvas - quase homônima da escritora e cineasta -, que veio ao País pesquisar a realidade dos garotos de rua e terminou tomando Roberto Carlos sob sua proteção. Deu-lhe o que ele não tivera, e a maioria dos garotos de rua também não - uma oportunidade.
NO filme há um momento decisivo, quando Margherit está voltando para a Europa e visita sua amiga na Febem. Ela se chama Pérola e é interpretada por Malu Galli. É certamente alguém bem-intencionada, mas Pérola faz seu discurso de que gostaria de atender cada caso na Febem com a atenção que Margherit deu a Roberto Carlos. Só que ela tem centenas, milhares de garotos. Margherit elegeu um. Parece fácil. As duas conversam e, de repente, silenciam. Seguem fumando, uma frente à outra. Face ao que o próprio Cinema brasileiro tem mostrado, um filme como “O Contador de Histórias” assemelha-se a uma utopia. Mas a história é real. Villaça conta o que lhe interessou em Roberto Carlos Ramos. "Foi justamente a forma como ele passou a usar a fantasia para transformar e conviver com uma realidade muito dura. A fantasia permitiu-lhe lidar com suas frustrações."
É, TALVEZ exista um lado Peixe Grande, nessa história de um narrador que fantasia as próprias histórias, mas Villaça não tomou o filme de Tim Burton com Ewan McGregor como referência. Não lhe interessava e ele nem acha que Peixe Grande seja um Burton muito bom, como Edward Mãos de Tesoura e Ed Wood. O filme centra-se na relação de Roberto Carlos e Margherit, interpretada por Maria de Medeiros, porque ela viabilizou a transformação do garoto. Roberto Carlos é interpretado por três atores - Marco Antonio Ribeiro (aos 6 anos), Paulo Henrique Mendes (aos 13) e Cleiton dos Santos da Silva (aos 20). Foram preparados por Laís Correa, mas Villaça trabalhou intimamente com cada um. Como ele diz, "o filme é resultado da minha paixão pelo cinema, mas com os pés na realidade". Os garotos lhe permitiram construir essa urgência. “O Contador de Histórias” é um filme fácil de criticar. Parece ingênuo, mas é de uma ingenuidade intencional e assumida.
VILLAÇA mostrou o filme para garotos de comunidades carentes de Belo Horizonte, São Paulo e Rio de Janeiro. Foi uma experiência muito interessante. Os garotos se identificam com Roberto Carlos. E Villaça se identifica com Margherit, a agente da transformação. "Sou um contador de histórias e, com este filme, quero acreditar que estou fazendo como a Margherit. Os críticos dizem que a função do Cinema, da arte, não é veicular uma mensagem. Mas eu gostaria de estar dizendo, com O Contador de Histórias, a todos os meninos e meninas carentes do Brasil que não desistam do seu sonho. Pode ser que o sonhador seja eu, que a sonhadora seja a Denise (Fraga). Estamos criando nossos filhos para que sejam bons cidadãos. Ser um bom cidadão não significa só pensar em si e nos seus. Foi o que ficou da história de Roberto Carlos Ramos. Por isso, quis contá-la".
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