Diferenças didáticas
TIRADENTES (MG) - EM MAIS uma das inumeráveis vezes em que se pôs a falar mal da Imprensa - que evita ler "porque tenho problema de azia" -, o vosso presidente da República, Luiz Inácio da Silva (PT-SP), contrastou o que seria o tratamento injusto a ele dispensado pelas principais publicações brasileiras com o tom amplamente favorável ao desempenho do seu governo nas matérias e comentários sobre o País em muitos dos mais importantes periódicos estrangeiros. De fato, nos anos recentes, não apenas houve um salto na frequência com que o Brasil aparece com destaque nesses jornais e revistas, sobretudo nas páginas econômicas, como ainda é manifesta a sua admiração pelas políticas adotadas pelo governo de “O-CARA” - cujas origens sociais e pregresso radicalismo são invariavelmente lembrados - para respaldar o crescimento e atrair capitais externos.
PORTANTO, “O-CARA”, não terá motivos para acusar de parti pris contra ele o prestigioso semanário britânico The Economist por ter publicado, na edição que circulou esta semana na Europa e nos Estados Unidos da América (EUA), uma reportagem e um editorial que identificam o inquietante viés chavista da sua política para a América Latina. "Do lado de quem está o Brasil?", perguntou a reportagem da revista britânica. Nem “O-CARA” correria o risco de acentuar o seu desconforto gástrico se se inteirasse do teor desses textos. Eles o elogiam como um "presidente inspirador", cuja "bonomia e instinto para a conciliação" fazem amigos em toda parte, e por ter barrado a mudança constitucional que o autorizaria a disputar um terceiro mandato consecutivo, "apesar de seus quase sobrenaturais índices de popularidade".
A REPORTAGEM estampada nas céleres páginas da revista The Economist, também, aplaude os esforços do brasileiro para amoldar as instituições multilaterais às mudanças no equilíbrio global de poder e registra que, hoje em dia, nenhum encontro internacional, para discutir desde a reforma do sistema financeiro às mudanças climáticas "estará completo sem Lula". Mas - no que não chega a ser uma revelação para os observadores brasileiros - a reportagem da revista britânica ressalta a perigosa benevolência, quando não a franca simpatia, da diplomacia regional do País em relação a Hugo Chávez. O "gancho", como se diz nas nossas redações, para a abordagem do problema são as investidas do caudilho venezuelano contra o acordo entre a Colômbia e os EUA para a instalação de três bases militares destinadas a reforçar as defesas do país vizinho no seu combate de décadas contra a guerrilha das auto-intuladas Forças Revolucionárias da Colômbia (Farc) e os seus parceiros do narcotráfico.
NESSA crise fabricada pelo fanfarrão general Chávez para encobrir as evidências de seu apoio bélico ao movimento, “O-CARA” só não agiu pior do que o presidente da República do Equador, Rafael Correa, que já não mantém relações diplomáticas com a Colômbia, ao exigir garantias de que as bases não teriam outros fins. O papel de linha auxiliar do caudilho, desempenhado pelo “O-CARA” e o seu chanceler Celso Amorim, ficou ainda mais gritante porque em momento algum eles manifestaram preocupação com a segurança e a estabilidade regionais ameaçadas pelos acordos militares entre Caracas e Moscou. O próprio Chávez diz servirem para "incrementar nossa capacidade operativa". E “O-CARA” se comporta como se o inimigo da democracia na América Latina fossem os governos dos EUA, ou da Colômbia, ou mesmo o governo golpista de Honduras - que destituiu o presidente Manuel Zelaya para evitar que ele atrelasse o país ao chavismo.
MUITo além disso, ao endossar tacitamente as políticas liberticidas do venezuelano - não passa dia sem que ele, cumprindo as suas promessas, não aperte o garrote no seu desafortunado país -, o vosso presidente da República, Luiz Inácio da Silva, desnuda a hipocrisia das suas apregoadas convicções democráticas. A versão soprada pelo Itamaraty de que os agrados brasileiros a Chávez teriam apenas o objetivo de moderar os seus planos hegemônicos na região já foi desacreditada pelos fatos, sem falar nas lições da história sobre a futilidade das tentativas de apaziguar apetites ditatoriais. A tragédia é que nenhum outro país sul-americano tem condições comparáveis às do Brasil para frear as aventuras totalitárias de Chávez e seus aliados bolivarianos. Não se pede, como diz a reportagem da revista The Economist, que o Brasil aja como xerife da América Latina. Mas é do interesse nacional prevenir uma nova guerra fria entre os vizinhos.
"A MANEIRA de fazê-lo é não confundir democratas com autocratas, como Lula parece pensar”, assinala a reportagem da revista britânica. "É desmoralizar Chávez, demarcando uma clara divisa em favor da democracia - o sistema que permitiu a um pobre torneiro mecânico chegar ao poder e mudar o Brasil".
PORTANTO, “O-CARA”, não terá motivos para acusar de parti pris contra ele o prestigioso semanário britânico The Economist por ter publicado, na edição que circulou esta semana na Europa e nos Estados Unidos da América (EUA), uma reportagem e um editorial que identificam o inquietante viés chavista da sua política para a América Latina. "Do lado de quem está o Brasil?", perguntou a reportagem da revista britânica. Nem “O-CARA” correria o risco de acentuar o seu desconforto gástrico se se inteirasse do teor desses textos. Eles o elogiam como um "presidente inspirador", cuja "bonomia e instinto para a conciliação" fazem amigos em toda parte, e por ter barrado a mudança constitucional que o autorizaria a disputar um terceiro mandato consecutivo, "apesar de seus quase sobrenaturais índices de popularidade".
A REPORTAGEM estampada nas céleres páginas da revista The Economist, também, aplaude os esforços do brasileiro para amoldar as instituições multilaterais às mudanças no equilíbrio global de poder e registra que, hoje em dia, nenhum encontro internacional, para discutir desde a reforma do sistema financeiro às mudanças climáticas "estará completo sem Lula". Mas - no que não chega a ser uma revelação para os observadores brasileiros - a reportagem da revista britânica ressalta a perigosa benevolência, quando não a franca simpatia, da diplomacia regional do País em relação a Hugo Chávez. O "gancho", como se diz nas nossas redações, para a abordagem do problema são as investidas do caudilho venezuelano contra o acordo entre a Colômbia e os EUA para a instalação de três bases militares destinadas a reforçar as defesas do país vizinho no seu combate de décadas contra a guerrilha das auto-intuladas Forças Revolucionárias da Colômbia (Farc) e os seus parceiros do narcotráfico.
NESSA crise fabricada pelo fanfarrão general Chávez para encobrir as evidências de seu apoio bélico ao movimento, “O-CARA” só não agiu pior do que o presidente da República do Equador, Rafael Correa, que já não mantém relações diplomáticas com a Colômbia, ao exigir garantias de que as bases não teriam outros fins. O papel de linha auxiliar do caudilho, desempenhado pelo “O-CARA” e o seu chanceler Celso Amorim, ficou ainda mais gritante porque em momento algum eles manifestaram preocupação com a segurança e a estabilidade regionais ameaçadas pelos acordos militares entre Caracas e Moscou. O próprio Chávez diz servirem para "incrementar nossa capacidade operativa". E “O-CARA” se comporta como se o inimigo da democracia na América Latina fossem os governos dos EUA, ou da Colômbia, ou mesmo o governo golpista de Honduras - que destituiu o presidente Manuel Zelaya para evitar que ele atrelasse o país ao chavismo.
MUITo além disso, ao endossar tacitamente as políticas liberticidas do venezuelano - não passa dia sem que ele, cumprindo as suas promessas, não aperte o garrote no seu desafortunado país -, o vosso presidente da República, Luiz Inácio da Silva, desnuda a hipocrisia das suas apregoadas convicções democráticas. A versão soprada pelo Itamaraty de que os agrados brasileiros a Chávez teriam apenas o objetivo de moderar os seus planos hegemônicos na região já foi desacreditada pelos fatos, sem falar nas lições da história sobre a futilidade das tentativas de apaziguar apetites ditatoriais. A tragédia é que nenhum outro país sul-americano tem condições comparáveis às do Brasil para frear as aventuras totalitárias de Chávez e seus aliados bolivarianos. Não se pede, como diz a reportagem da revista The Economist, que o Brasil aja como xerife da América Latina. Mas é do interesse nacional prevenir uma nova guerra fria entre os vizinhos.
"A MANEIRA de fazê-lo é não confundir democratas com autocratas, como Lula parece pensar”, assinala a reportagem da revista britânica. "É desmoralizar Chávez, demarcando uma clara divisa em favor da democracia - o sistema que permitiu a um pobre torneiro mecânico chegar ao poder e mudar o Brasil".
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