Encarando o mundo como ele é!
EXISTE mais de um modo de ver, naturalmente, o contencioso entre a diplomacia norte-americana e a diplomacia tupiniquim sobre o programa nuclear do Irã e as iniciativas do vosso presidente da República, Luiz Inácio da Silva (PT-SP), diante da crise dele decorrente. Mas um fato é absolutamente inequívoco: pela primeira vez em 35 anos, os governos dos dois países estão em aberto confronto político em razão de um problema internacional - e estratégico -, de envergadura.
A DIPLOMACIA de Brasil e Estados Unidos da América (EUA) entrou em choque, em 1975, por causa da decisão do governo ditatorial do general Ernesto Geisel de fechar com o governo da Alemanha um acordo do qual esperava que desse ao País o domínio do chamado ciclo do combustível nuclear - do enriquecimento de urânio ao reprocessamento do material resultante de seu uso em reatores civis.
AQUELE acordo fracassou, mas as pressões norte-americanas - incluindo a denúncia das violações de direitos humanos sob a ditadura militar -, derrubaram as relações bilaterais a um nível sem precedentes de animosidade. O governo do Brasil rompeu o acordo militar que mantinha como governo dos EUA e tempos depois o representante da diplomacia brasileira votou na reunião plenária da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York (EUA) a favor de uma resolução que considerava o sionismo uma forma de racismo.
A REDEMOCRATIZAÇÃO do País reaproximou os aliados de outrora, não obstante as sucessivas e em geral irresolvidas divergências no campo das regras do intercâmbio econômico (patentes, protecionismo, liberalização comercial, por exemplo). Nada disso, porém, se compara em gravidade à crispação atual entre os governos Luiz Inácio da Silva e Barack Houssein Obama.
E GUARDADAS as proporções, é pior do que em 1975. Em ambos os casos, na raiz do estranhamento estão as aspirações dos governantes brasileiros à projeção no mundo e a política de poder dos EUA. A diferença é que, então, a ambição à potência passava pela capacitação nuclear do País emergente - para usar um termo que ainda não estava em voga.
NO MOMENTO, o Brasil escolheu disputar influência com os EUA em torno do que, para o governo Barack Obama, é uma questão estratégica real e presente - as ações do Irã rumo ao limiar da produção da bomba. Diante disso, Obama enfrenta um dilema sem solução à vista. A julgar pelo retrospecto, é duvidoso que as sanções que ele quer ver aprovadas no Conselho de Segurança da ONU detenham Teerã. E a alternativa militar é improvável: o Irã não é o Iraque.
MAS, ainda por cima neste ano eleitoral, Obama precisa mostrar firmeza perante a Oposição republicana, estreitamente alinhada com o lobby israelense. E isso inclui reagir à repercussão internacional do êxito diplomático do Brasil e da Turquia, ao levarem o Irã a aceitar um acordo sobre enriquecimento de urânio no exterior, praticamente idêntico ao que lhe fora oferecido pelo Ocidente e a Agência Internacional de Energia Nuclear Atômica (AIEA), dispositivo assessório da ONU, e afinal rejeitado pelo Irã.
NÃO nos surpreende, portanto, a dura declaração da secretária de Estado Norte-Americano, Hillary Clinton, de que o governo dos EUA tem "uma divergência muito séria" com o governo do Brasil e que a preferência brasileira por negociações, no lugar do apoio a uma nova rodada de sanções anti-iranianas, "deixa o mundo mais perigoso".
NAQUELA momentosa carta que enviou a Luiz Inácio da Silva em Abril último - publicada semana passada pela reportagem do Jornal Folha de S. Paulo -, Obama deixa claras as complexidades de lidar com um adversário obstinado como o Irã. Considera um acordo como o que seria selado em Teerã "uma oportunidade clara e tangível de começar a construir confiança mútua". Adiante, porém, questiona "a disposição do Irã para um diálogo de boa-fé com o Brasil". E informa que "continuaremos a levar adiante nossa busca por sanções, dentro do cronograma que delineei".
PARA o governo do Brasil, esse trecho da carta põe por terra a versão de que o governo dos EUA só tomou de vez o caminho das sanções porque, mal secou a tinta das assinaturas na Declaração de Teerã, o chefe do programa nuclear iraniano avisou que o país continuará a enriquecer urânio a 20%. Não vemos por quê.
HILLARY Clinton, aliás, fez suas declarações sobre o Brasil quando apresentava a "Estratégia de Segurança Nacional", a chamada Doutrina Obama, a qual reconhece a necessidade do governo dos EUA de agir com o apoio dos governantes de outros países e o aparecimento de novos protagonistas políticos. "Precisamos", atesta o presidente Obama, "encarar o mundo como ele é". O Brasil é parte desse mundo.
A DIPLOMACIA de Brasil e Estados Unidos da América (EUA) entrou em choque, em 1975, por causa da decisão do governo ditatorial do general Ernesto Geisel de fechar com o governo da Alemanha um acordo do qual esperava que desse ao País o domínio do chamado ciclo do combustível nuclear - do enriquecimento de urânio ao reprocessamento do material resultante de seu uso em reatores civis.
AQUELE acordo fracassou, mas as pressões norte-americanas - incluindo a denúncia das violações de direitos humanos sob a ditadura militar -, derrubaram as relações bilaterais a um nível sem precedentes de animosidade. O governo do Brasil rompeu o acordo militar que mantinha como governo dos EUA e tempos depois o representante da diplomacia brasileira votou na reunião plenária da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York (EUA) a favor de uma resolução que considerava o sionismo uma forma de racismo.
A REDEMOCRATIZAÇÃO do País reaproximou os aliados de outrora, não obstante as sucessivas e em geral irresolvidas divergências no campo das regras do intercâmbio econômico (patentes, protecionismo, liberalização comercial, por exemplo). Nada disso, porém, se compara em gravidade à crispação atual entre os governos Luiz Inácio da Silva e Barack Houssein Obama.
E GUARDADAS as proporções, é pior do que em 1975. Em ambos os casos, na raiz do estranhamento estão as aspirações dos governantes brasileiros à projeção no mundo e a política de poder dos EUA. A diferença é que, então, a ambição à potência passava pela capacitação nuclear do País emergente - para usar um termo que ainda não estava em voga.
NO MOMENTO, o Brasil escolheu disputar influência com os EUA em torno do que, para o governo Barack Obama, é uma questão estratégica real e presente - as ações do Irã rumo ao limiar da produção da bomba. Diante disso, Obama enfrenta um dilema sem solução à vista. A julgar pelo retrospecto, é duvidoso que as sanções que ele quer ver aprovadas no Conselho de Segurança da ONU detenham Teerã. E a alternativa militar é improvável: o Irã não é o Iraque.
MAS, ainda por cima neste ano eleitoral, Obama precisa mostrar firmeza perante a Oposição republicana, estreitamente alinhada com o lobby israelense. E isso inclui reagir à repercussão internacional do êxito diplomático do Brasil e da Turquia, ao levarem o Irã a aceitar um acordo sobre enriquecimento de urânio no exterior, praticamente idêntico ao que lhe fora oferecido pelo Ocidente e a Agência Internacional de Energia Nuclear Atômica (AIEA), dispositivo assessório da ONU, e afinal rejeitado pelo Irã.
NÃO nos surpreende, portanto, a dura declaração da secretária de Estado Norte-Americano, Hillary Clinton, de que o governo dos EUA tem "uma divergência muito séria" com o governo do Brasil e que a preferência brasileira por negociações, no lugar do apoio a uma nova rodada de sanções anti-iranianas, "deixa o mundo mais perigoso".
NAQUELA momentosa carta que enviou a Luiz Inácio da Silva em Abril último - publicada semana passada pela reportagem do Jornal Folha de S. Paulo -, Obama deixa claras as complexidades de lidar com um adversário obstinado como o Irã. Considera um acordo como o que seria selado em Teerã "uma oportunidade clara e tangível de começar a construir confiança mútua". Adiante, porém, questiona "a disposição do Irã para um diálogo de boa-fé com o Brasil". E informa que "continuaremos a levar adiante nossa busca por sanções, dentro do cronograma que delineei".
PARA o governo do Brasil, esse trecho da carta põe por terra a versão de que o governo dos EUA só tomou de vez o caminho das sanções porque, mal secou a tinta das assinaturas na Declaração de Teerã, o chefe do programa nuclear iraniano avisou que o país continuará a enriquecer urânio a 20%. Não vemos por quê.
HILLARY Clinton, aliás, fez suas declarações sobre o Brasil quando apresentava a "Estratégia de Segurança Nacional", a chamada Doutrina Obama, a qual reconhece a necessidade do governo dos EUA de agir com o apoio dos governantes de outros países e o aparecimento de novos protagonistas políticos. "Precisamos", atesta o presidente Obama, "encarar o mundo como ele é". O Brasil é parte desse mundo.
<< Página inicial