Nada a temer
RIO DE JANEIRO (RJ) - HOJE para a reflexão de todos, publicamos junto destas NOTAS o artigo do ex-presidente da República, Fernando Henrique Cardoso (PSDB-SP)). Leiam com moderação!
Sem medo do passado
FERNANDO HENRIQUE CARDOSO
“O PRESIDENTE Luiz Inácio Lula da Silva passa por momentos de euforia que o levam a inventar inimigos e enunciar inverdades. Para ganhar sua guerra imaginária distorce o ocorrido no governo do antecessor, autoglorifica-se na comparação e sugere que se a oposição ganhar será o caos. Por trás dessas bravatas estão o personalismo e o fantasma da intolerância: só eu e os meus somos capazes de tanta glória. Houve quem dissesse: ‘O Estado sou eu’. Lula dirá: ‘O Brasil sou eu!’. Ecos de um autoritarismo mais chegado à direita.
LAMENTO que Lula se deixe contaminar por impulsos tão toscos e perigosos. Ele possui méritos de sobra para defender a candidatura que queira. Deu passos adiante no que fora plantado por seus antecessores. Para que, então, baixar o nível da política à dissimulação e à mentira?
A ESTRATÉGIA do petismo-lulista é simples: desconstruir o inimigo principal, o PSDB e FHC (muita honra para um pobre marquês...). Por que seríamos o inimigo principal? Porque podemos ganhar as eleições. Como desconstruir o inimigo? Negando o que de bom foi feito e apossando-se de tudo o que dele herdaram como se deles sempre tivesse sido. Onde está a política mais consciente e benéfica para todos? No ralo.
NA CAMPANHA haverá um mote - o governo do PSDB foi "neoliberal" - e dois alvos principais: a privatização das estatais e a suposta inação na área social. Os dados dizem outra coisa. Mas os dados, ora, os dados... O que conta é repetir a versão conveniente. Há três semanas Lula disse que recebeu um governo estagnado, sem plano de desenvolvimento. Esqueceu-se da estabilidade da moeda, da Lei de Responsabilidade Fiscal, da recuperação do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), da modernização da Petrobrás, que triplicou a produção depois do fim do monopólio e, premida pela competição e beneficiada pela flexibilidade, chegou à descoberta do pré-sal. Esqueceu-se do fortalecimento do Banco do Brasil, capitalizado com mais de R$ 6 bilhões, e junto com a Caixa Econômica Federal (CEF), libertados da politicagem e recuperados para a execução de políticas de Estado. Esqueceu-se dos investimentos do Programa Avança Brasil, que, com menos alarde e mais eficiência que o PAC, permitiu concluir um número maior de obras essenciais ao País. Esqueceu-se dos ganhos que a privatização do sistema Telebrás trouxe para o povo brasileiro, com a democratização do acesso à internet e aos celulares, do fato de que a Vale (Companhia Vale do Rio Doce) desestatizada paga mais impostos ao governo do que este jamais recebeu em dividendos quando a empresa era estatal, de que a Embraer, hoje orgulho nacional, só pôde dar o salto que deu depois de desestatizada, de que essas empresas continuam em mãos brasileiras, gerando empregos e desenvolvimento no País.
ESQUECEU-SE de que o País pagou um custo alto por anos de ‘bravata’ do PT e dele próprio. Esqueceu-se de sua responsabilidade e de seu partido pelo temor que tomou conta dos mercados em 2002, quando fomos obrigados a pedir socorro ao FMI (Fundo Monetário Internacional) - com aval de Lula, diga-se - para que houvesse um colchão de reservas no início do governo seguinte. Esqueceu-se de que foi esse temor que atiçou a inflação e levou seu governo a elevar o superávit primário e os juros às nuvens em 2003, para comprar a confiança dos mercados, mesmo que à custa de tudo o que haviam pregado, ele e seu partido, nos anos anteriores.
OS EXEMPLOS são inúmeros para desmontar o espantalho petista sobre o suposto ‘neoliberalismo’ peessedebista. Alguns vêm do próprio campo petista. Vejam o que disse o atual presidente do partido, José Eduardo Dutra ex-presidente da etrobrás, citado por Adriano Pires em artigo na edição do Jornal Brasil Econômico de 13/1: ‘Se eu voltar ao parlamento e tiver uma emenda propondo a situação anterior (monopólio), voto contra. Quando foi quebrado o monopólio, a Petrobrás produzia 600 mil barris por dia e tinha 6 milhões de barris de reservas. Dez anos depois produz 1,8 milhão por dia, tem reservas de 13 bilhões. Venceu a realidade, que muitas vezes é bem diferente da idealização que a gente faz dela’.
O OUTRO alvo da distorção petista se refere à insensibilidade social de quem só se preocuparia com a economia. Os fatos são diferentes: com o real, a população pobre diminuiu de 35% para 28% do total. A pobreza continuou caindo, com alguma oscilação, até atingir 18% em 2007, fruto do efeito acumulado de políticas sociais e econômicas, entre elas o aumento do salário mínimo. De 1995 a 2002 houve um aumento real de 47,4%; de 2003 a 2009, de 49,5%. O rendimento médio mensal dos trabalhadores, descontada a inflação, não cresceu espetacularmente no período, salvo entre 1993 e 1997, quando saltou de R$ 800 para aproximadamente R$ 1.200. Hoje se encontra abaixo do nível alcançado nos anos iniciais do Plano Real.
POR FIM, os programas de transferência direta de renda (hoje o Programa Bolsa-Família), vendidos como uma exclusividade deste governo. Na verdade, eles começaram num município (Campinas-SP) e no Distrito Federal (DF), estenderam-se para Estados (Goiás) e ganharam abrangência nacional em meu governo. O Programa Bolsa-Escola atingiu cerca de 5 milhões de famílias, às quais o governo atual juntou outros 6 milhões, já com o nome de Bolsa-Família, englobando numa só bolsa os programas anteriores.
É mentira, portanto, dizer que o PSDB ‘não olhou para o social’. Não apenas olhou como fez e fez muito nessa área: o SUS (Sistema Único de Saúde) saiu do papel para a realidade; o program nacional de combate à aids tornou-se referência mundial; viabilizamos os medicamentos genéricos, sem temor às multinacionais; as equipes do Programa Saúde da Família, pouco mais de 300 em 1994, tornaram-se mais de 16 mil em 2002; o Programa Toda Criança na Escola trouxe para o ensino fundamental quase 100% das crianças de 7 a 14 anos. Foi também no governo do PSDB que se pôs em prática a política que assiste hoje mais de 3 milhões de idosos e deficientes (em 1996 eram apenas 300 mil).
ELEIÇÕES não se ganham com o retrovisor. O eleitor vota em quem confia e lhe abre um horizonte de esperanças. Mas se o lullismo quiser comparar, sem mentir e sem descontextualizar, a briga é boa. Nada a temer.
*FERNANDO Henrique Cardoso, PhD em Ciências Sociais , fundador do Instituto Fernando Henrique Cardoso (IFHC), co-fundador e presidente de Honra do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB); foi Livre-Docente da Universidade de São Paulo (Usp) até 1968 – quando foi impedido de lecionar no País e teve seus direitos políticos cassados com o advento do Ato Institucional Número 5 (AI-5) em plena Ditadura Militar (1964-1985), senador da República (1987-1993), ministro de Estado das Relações Exteriores (1992-93)), ministro de Estado da Fazenda (1993-94) e presidente da República do Brasil (1995-2002).
Sem medo do passado
FERNANDO HENRIQUE CARDOSO
“O PRESIDENTE Luiz Inácio Lula da Silva passa por momentos de euforia que o levam a inventar inimigos e enunciar inverdades. Para ganhar sua guerra imaginária distorce o ocorrido no governo do antecessor, autoglorifica-se na comparação e sugere que se a oposição ganhar será o caos. Por trás dessas bravatas estão o personalismo e o fantasma da intolerância: só eu e os meus somos capazes de tanta glória. Houve quem dissesse: ‘O Estado sou eu’. Lula dirá: ‘O Brasil sou eu!’. Ecos de um autoritarismo mais chegado à direita.
LAMENTO que Lula se deixe contaminar por impulsos tão toscos e perigosos. Ele possui méritos de sobra para defender a candidatura que queira. Deu passos adiante no que fora plantado por seus antecessores. Para que, então, baixar o nível da política à dissimulação e à mentira?
A ESTRATÉGIA do petismo-lulista é simples: desconstruir o inimigo principal, o PSDB e FHC (muita honra para um pobre marquês...). Por que seríamos o inimigo principal? Porque podemos ganhar as eleições. Como desconstruir o inimigo? Negando o que de bom foi feito e apossando-se de tudo o que dele herdaram como se deles sempre tivesse sido. Onde está a política mais consciente e benéfica para todos? No ralo.
NA CAMPANHA haverá um mote - o governo do PSDB foi "neoliberal" - e dois alvos principais: a privatização das estatais e a suposta inação na área social. Os dados dizem outra coisa. Mas os dados, ora, os dados... O que conta é repetir a versão conveniente. Há três semanas Lula disse que recebeu um governo estagnado, sem plano de desenvolvimento. Esqueceu-se da estabilidade da moeda, da Lei de Responsabilidade Fiscal, da recuperação do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), da modernização da Petrobrás, que triplicou a produção depois do fim do monopólio e, premida pela competição e beneficiada pela flexibilidade, chegou à descoberta do pré-sal. Esqueceu-se do fortalecimento do Banco do Brasil, capitalizado com mais de R$ 6 bilhões, e junto com a Caixa Econômica Federal (CEF), libertados da politicagem e recuperados para a execução de políticas de Estado. Esqueceu-se dos investimentos do Programa Avança Brasil, que, com menos alarde e mais eficiência que o PAC, permitiu concluir um número maior de obras essenciais ao País. Esqueceu-se dos ganhos que a privatização do sistema Telebrás trouxe para o povo brasileiro, com a democratização do acesso à internet e aos celulares, do fato de que a Vale (Companhia Vale do Rio Doce) desestatizada paga mais impostos ao governo do que este jamais recebeu em dividendos quando a empresa era estatal, de que a Embraer, hoje orgulho nacional, só pôde dar o salto que deu depois de desestatizada, de que essas empresas continuam em mãos brasileiras, gerando empregos e desenvolvimento no País.
ESQUECEU-SE de que o País pagou um custo alto por anos de ‘bravata’ do PT e dele próprio. Esqueceu-se de sua responsabilidade e de seu partido pelo temor que tomou conta dos mercados em 2002, quando fomos obrigados a pedir socorro ao FMI (Fundo Monetário Internacional) - com aval de Lula, diga-se - para que houvesse um colchão de reservas no início do governo seguinte. Esqueceu-se de que foi esse temor que atiçou a inflação e levou seu governo a elevar o superávit primário e os juros às nuvens em 2003, para comprar a confiança dos mercados, mesmo que à custa de tudo o que haviam pregado, ele e seu partido, nos anos anteriores.
OS EXEMPLOS são inúmeros para desmontar o espantalho petista sobre o suposto ‘neoliberalismo’ peessedebista. Alguns vêm do próprio campo petista. Vejam o que disse o atual presidente do partido, José Eduardo Dutra ex-presidente da etrobrás, citado por Adriano Pires em artigo na edição do Jornal Brasil Econômico de 13/1: ‘Se eu voltar ao parlamento e tiver uma emenda propondo a situação anterior (monopólio), voto contra. Quando foi quebrado o monopólio, a Petrobrás produzia 600 mil barris por dia e tinha 6 milhões de barris de reservas. Dez anos depois produz 1,8 milhão por dia, tem reservas de 13 bilhões. Venceu a realidade, que muitas vezes é bem diferente da idealização que a gente faz dela’.
O OUTRO alvo da distorção petista se refere à insensibilidade social de quem só se preocuparia com a economia. Os fatos são diferentes: com o real, a população pobre diminuiu de 35% para 28% do total. A pobreza continuou caindo, com alguma oscilação, até atingir 18% em 2007, fruto do efeito acumulado de políticas sociais e econômicas, entre elas o aumento do salário mínimo. De 1995 a 2002 houve um aumento real de 47,4%; de 2003 a 2009, de 49,5%. O rendimento médio mensal dos trabalhadores, descontada a inflação, não cresceu espetacularmente no período, salvo entre 1993 e 1997, quando saltou de R$ 800 para aproximadamente R$ 1.200. Hoje se encontra abaixo do nível alcançado nos anos iniciais do Plano Real.
POR FIM, os programas de transferência direta de renda (hoje o Programa Bolsa-Família), vendidos como uma exclusividade deste governo. Na verdade, eles começaram num município (Campinas-SP) e no Distrito Federal (DF), estenderam-se para Estados (Goiás) e ganharam abrangência nacional em meu governo. O Programa Bolsa-Escola atingiu cerca de 5 milhões de famílias, às quais o governo atual juntou outros 6 milhões, já com o nome de Bolsa-Família, englobando numa só bolsa os programas anteriores.
É mentira, portanto, dizer que o PSDB ‘não olhou para o social’. Não apenas olhou como fez e fez muito nessa área: o SUS (Sistema Único de Saúde) saiu do papel para a realidade; o program nacional de combate à aids tornou-se referência mundial; viabilizamos os medicamentos genéricos, sem temor às multinacionais; as equipes do Programa Saúde da Família, pouco mais de 300 em 1994, tornaram-se mais de 16 mil em 2002; o Programa Toda Criança na Escola trouxe para o ensino fundamental quase 100% das crianças de 7 a 14 anos. Foi também no governo do PSDB que se pôs em prática a política que assiste hoje mais de 3 milhões de idosos e deficientes (em 1996 eram apenas 300 mil).
ELEIÇÕES não se ganham com o retrovisor. O eleitor vota em quem confia e lhe abre um horizonte de esperanças. Mas se o lullismo quiser comparar, sem mentir e sem descontextualizar, a briga é boa. Nada a temer.
*FERNANDO Henrique Cardoso, PhD em Ciências Sociais , fundador do Instituto Fernando Henrique Cardoso (IFHC), co-fundador e presidente de Honra do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB); foi Livre-Docente da Universidade de São Paulo (Usp) até 1968 – quando foi impedido de lecionar no País e teve seus direitos políticos cassados com o advento do Ato Institucional Número 5 (AI-5) em plena Ditadura Militar (1964-1985), senador da República (1987-1993), ministro de Estado das Relações Exteriores (1992-93)), ministro de Estado da Fazenda (1993-94) e presidente da República do Brasil (1995-2002).
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