Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

sábado, fevereiro 06, 2010

Megalomania explicitada aos quatro cantos do mundo

RIO DE JANEIRO (RJ) - VOSSO presidente da República, Luiz Inácio da Silva (PT-SP), impedido por um surto de hipertensão de viajar a Davos, na Suíça, para receber o Prêmio Estadista Global, delegou ao ministro de Estado das Relações Exteriores, chanceler Celso Amorim (PMDB-RJ) a leitura do discurso de agradecimento pela láurea recebida do Fórum Econômico Global (FEG). Com isso, tiveram repercussão menor do que mereciam as palavras proferidas diante de um auditório também esvaziado pela ausência do designado estadista. Pena, porque "nunca antes" em Davos se assistiu a uma exibição de megalomania tão digna de figurar no Livro Guinness de Recordes. Nem conhecidos adoradores de si próprios, como o coronel-presidente da República venezuelana, Hugo Chávez, e o líbio Muammar Kadafi, chegaram às alturas da apoteose mental que o brasileiro galgou ao cobrir de glórias o seu governo e de críticas o mundo inteiro. "Sete anos depois (de anunciar em Davos o que faria como presidente) posso olhar nos olhos de cada um de vocês e, mais que isso, nos olhos do meu povo e dizer que o Brasil, mesmo com todas as dificuldades, fez a sua parte", congratulou-se. Enquanto isso, "o que aconteceu com o mundo nos últimos sete anos? Podemos dizer que o mundo, igual ao Brasil, também melhorou?" Apenas melhorará, ensinou, quando "reinventarmos o mundo e suas instituições", decerto segundo o modelo llulista que - deu a entender - consiste na "recuperação do papel de governar". Como foi possível essa recuperação no Brasil se pode avaliar por outras declarações do “CARA!”, no dia seguinte à leitura do texto em que se canonizou como o primeiro entre os iguais na condução dos destinos do mundo. Deixando o hospital em São Paulo onde passara, aparentemente com êxito, por uma bateria de exames, declarou-se pronto "para entrar em campo".

REFERA-SE, naturalmente, às maratonas a que se submete no País e no exterior - e que justificariam chamá-lo de presidente frequent flyer. No ano passado, gastou 83 dias circulando pelo Brasil e 91 dias por 31 países. No mês passado, foi a sete Estados. De fevereiro a julho irá a 22 países, da América Central à China, dos Estados Unidos da América (EUA) à Rússia, de Israel ao Irã. “O-CARA!” explica as viagens domésticas em nome da recuperação do papel de governar: elas se justificariam pela simples razão de que, sem elas, o governo estanca. "Quem engorda o porco é o olho do dono", argumentou, transformando em suíno o boi do velho ditado. E aí humilhou os seus colaboradores: "Se o dono não estiver olhando para as coisas acontecerem, elas não acontecem. Se o presidente não ficar em cima, não ficar cobrando, não ficar viajando, as coisas são mais difíceis".

O RECURSO à teoria da governança itinerante, claro, haja o que nela houver de verdade, é pouco mais do que uma engambelação. “O-CARA!” não se desloca exaustivamente pelo território para fazer a sua administração funcionar. (Como ela funciona ou não funciona). Ele o faz para engordar a candidatura da ministra Dilma (Pinóquio) Rousseff (PT-RS), associando a sua imagem à dele e a de ambos ao que seria a estupenda coleção de realizações desse governo que faz tudo direito. “O-CARA!” sabe que voa contra o tempo. A partir de Abril, quando já não for ministra-chefe do Gabinete Civil da Presidência da República, Dilma Rousseff - ou "Dilma do chefe", como se ouviu de prefeitos pernambucanos na semana passada - terá de se apartar do seu patrocinador, passando uma temporada no limbo: longe dos comícios administrativos que ele continuará a fazer e ainda sem poder subir aos próprios palanques (oficialmente, a campanha começa em Julho). Dilma tem ido bem nas pesquisas. Manterá a tendência quando não tiver “O-CARA!” a tiracolo?

SUAS aparições solo não devem baixar a pressão de seu patrocinador. Semanas atrás, disse que "gostaria muito de levar os brasileiros ao paraíso". Outro dia, enquanto o chefe repousava em São Bernardo do Campo (SP), Rousseff disse que "o presidente precisa de um sucessor a sua altura e eu gostaria de ser essa sucessora", apressando-se a emendar: "Não sou hoje". Além disso, falou da felicidade de ser avó. Mas esses são problemas da dupla e de sua gente. O do País é saber quem governa quando o Brasil fica a descoberto. A resposta-padrão do “CARA!” era "a ministra-chefe da Casa Civil". Ele vai precisar de outra, quando continuar viajando e ela imergir no seu curso preparatório de candidata chapa-branca. A verdade é que não há quem exerça no Palácio do Planalto o papel de governar que “O-CARA!” se preparara para louvar de viva-voz em Davos, no maior espetáculo de soberba de sua presidência.