Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

quarta-feira, agosto 12, 2009

Protagonista no mercado

O NOSSO País continua sendo um dos destinos preferidos dos investimentos das empresas transnacionais. No ano passado, quando o fluxo internacional de investimentos caiu 15%, o Brasil recebeu US$ 45 bilhões, 30% mais do que em 2007. Com isso, passou da oitava para a quarta posição entre os países emergentes que mais absorvem esses investimentos, atrás da China, de Hong Kong e da Rússia, e à frente de concorrentes como o México, a Índia, a Turquia e Cingapura.

O BRASIL deve continuar atraente para os investidores externos nos próximos anos. A crise mundial criou um cenário relativamente favorável para economias como a brasileira, caracterizadas por grande mercado interno, apreciável potencial de crescimento, fornecedores de matérias-primas e componentes disponíveis e facilidades de acesso ao mercado regional.

ESTUDO realizado pela Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad) colocou a economia do Brasil entre os quatro mercados que mais deverão receber investimentos de um grupo de 241 empresas transnacionais consultadas. À frente estão apenas a China, os Estados Unidos da América (EUA) e a Índia. Em relação à pesquisa do ano passado, quando o País ocupou a quinta posição, o Brasil superou dois importantes competidores, o Reino Unido e a Rússia, mas foi superado pela Índia.

FOI uma melhora apenas relativa, pois, abaladas pelos efeitos da crise - que reduziu drasticamente seus lucros, secou as principais fontes de financiamento, fechou oportunidades no mercado e ainda não acabou -, as empresas transnacionais, em sua maioria, cortaram ou estão cortando os investimentos externos em 2009. Pretendem retomá-los cautelosamente em 2010 e esperam que, em 2011, o volume investido no exterior seja superior ao de 2008.

O TAMANHO e o potencial de crescimento do mercado interno são os dois principais fatores que pesam nas decisões dos responsáveis pelos programas de investimentos externos das grandes transnacionais. Mas outros são levados em conta na definição desses investimentos, e sua importância varia de país para país.

AOS DOIS principais fatores, seguem-se a disponibilidade de fornecedores locais, acesso a outros mercados, estabilidade e confiabilidade do ambiente para negócios, disponibilidade de mão de obra preparada, qualidade da infraestrutura, custo da mão de obra, eficiência do governo, capacidade de acompanhar os principais competidores, recursos naturais, acesso ao mercado de capitais e incentivos.

O PAÍS está mal situado em relação aos demais países em dois itens de crescente importância nas decisões dos investimentos. São a eficiência do governo e a qualidade da infraestrutura. Nos principais destinos dos futuros investimentos das grandes empresas, esses dois itens são bastante citados como determinantes da decisão de investir. Nas citações da eficiência governamental como fator de decisão dos investimentos, o Brasil só ganha da Índia, entre 15 países. Quanto à infraestrutura, o Brasil só está em melhor situação do que a Índia, a Rússia, o Vietnã e o México.

MO BRASIL, os dois fatores estão interligados, pois a melhoria da infraestrutura depende, em grande medida, de decisões do governo, que ainda controla diretamente vários setores e, na maioria dos demais, tem poder para autorizar e fiscalizar a atuação da iniciativa privada. Onde controla diretamente, o governo - apesar da insistência com que se refere ao eleitoreiro Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) - pouco tem investido. Nos setores abertos ao capital privado, tem retardado decisões e, desse modo, impedido que os investimentos particulares se façam no ritmo desejado e necessário para sustentar o crescimento mais rápido da economia.

ATÉ o momento, o tamanho da economia brasileira e seu desempenho têm sido suficientes para atrair investidores internacionais. Mas, quando outros fatores passarem a pesar mais nas decisões das empresas transnacionais - como já pesam nos países industrializados -, o Brasil poderá ficar para trás na disputa por investimentos, se até lá não tiver melhorado sua infraestrutura e a qualidade das ações governamentais.