O sensacionalismo que não contribui em avanço algum
RESSALTANDO que "temos excelentes motivos para confiar nas nossas instituições", a presidente da República, Dilma Wana Rousseff (PT-RS) disse o que precisava ser dito para desarmar o falso dilema sobre a ordem das prioridades entre o combate à corrupção e a escolha dos meios empregados pelas autoridades policiais no cumprimento de ordens de prisão de possíveis corruptos. O pano de fundo dessa injustificada antinomia foram os escândalos que espocaram no Ministério dos Transportes, levando ao inédito afastamento de uma vintena de servidores daquele “quintal" enfeudado pelo Partido da República (PR), e em seguida no Ministério da Agricultura em posse do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB.
TODAS as denúncias em rápida sequência e o descontentamento indisfarçado de não poucos membros da base parlamentar do governo com a faxina no Ministério dos Transportes ordenada pela presidente da República prepararam o terreno para duas reações antagônicas como que à espera de um motivo para se exprimir. O estopim acabou sendo uma razzia também sem precedentes do Departamento da Polícia Federal (PF). Acionada pela Justiça Federal do Amapá, por sua vez provocada pelo Ministério Público Federal (MPF), o DPF prendeu e transportou para Macapá (AP), praticamente em uma só tacada, 35 acusados de envolvimento em falcatruas no Ministério do Turismo.
COMO se sabe, entre eles o secretário executivo daquele Ministério, Frederico Silva da Costa (PMDB-MA), afilhado de caciques peemedebistas; o seu antecessor, Mário Augusto Moysés (PT-SP), que foi chefe de gabinete da então titular do setor no governo Luiz Inácio da Silva (2003-10), a senadora da República Marta Suplicy (PT-SP); e o ex-deputado federal Colbert Martins, outro membro do PMDB, que dirige a Secretaria de Programas daquele Ministério. Eles foram fotografados com as mãos algemadas no embarque para o Amapá, o que provocou uma polêmica sobre uma prática humilhante, por isso mesmo limitada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a casos extremos e que se supunha abandonada pela PF.
PIOR ainda do que essa sensacionalista demonstração de serviço foram as fotografias vazadas dias depois para um jornal de circulação local em Macapá e reproduzidas em outros veículos em todo o País, mostrando um punhado de detidos sem camisa, enquanto seguravam ao peito placas com os seus nomes.
DESSA vez nem os policiais federais ousaram sair em defesa do que na gíria policial se chama "escracho" - o aviltamento de presos a pretexto de sua identificação formal. Dona Rousseff considerou o vazamento "inaceitável". O ministro de Estado da Justiça, José Eduardo Cardozo (PT-SP), falou em "grave violação". O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) determinou uma investigação sobre o episódio.
MUITO provavelmente, no entanto, não faltaram brasileiros, fartos até a medula da corrupção enraizada na administração pública e na política nacional, que condescenderam, quando não se regozijaram com o tratamento infligido a mais esses presumíveis bandalhos. No outro extremo, numa escrachada expressão de autodefesa, um certo número de políticos governistas, em clima de "ora, onde já se viu?", usou os condenáveis abusos do DPF para verberar esse começo de devassa nos usos e costumes de seus apadrinhados ou cúmplices. O que os move, evidentemente, não é a preocupação com a agressão aos direitos da pessoa, mas o intento de pressionar o governo federal para pôr fim ao "moralismo" de que teria sido acometido.
PODE-SE presumir, portanto, que não tenham ficado satisfeitos com a manifestação da presidente da República, aproveitando a solenidade de recondução ao cargo do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, na última Segunda-feira, 15. Sim, ela afirmou que fará tudo o que estiver ao seu alcance "para coibir abusos, excessos e afrontas à dignidade de qualquer cidadão que venha a ser investigado". Mas afirmou também, com igual ênfase, que "onde ocorrerem malfeitos, iremos combater com firmeza, utilizando todos os instrumentos de investigação de que o governo dispõe e sempre contando com a atuação isenta do Ministério Público, com a eficiência da Polícia e com o poder de decisão do Judiciário".
O VIGOR das instituições, em última análise, é o que corruptores e corruptos mais temem. Especialmente, como disse dona Rousseff, "uma Justiça eficaz, célere, mas sóbria e democrática, senhora da razão e incontestável nas suas atitudes e providências".
TODAS as denúncias em rápida sequência e o descontentamento indisfarçado de não poucos membros da base parlamentar do governo com a faxina no Ministério dos Transportes ordenada pela presidente da República prepararam o terreno para duas reações antagônicas como que à espera de um motivo para se exprimir. O estopim acabou sendo uma razzia também sem precedentes do Departamento da Polícia Federal (PF). Acionada pela Justiça Federal do Amapá, por sua vez provocada pelo Ministério Público Federal (MPF), o DPF prendeu e transportou para Macapá (AP), praticamente em uma só tacada, 35 acusados de envolvimento em falcatruas no Ministério do Turismo.
COMO se sabe, entre eles o secretário executivo daquele Ministério, Frederico Silva da Costa (PMDB-MA), afilhado de caciques peemedebistas; o seu antecessor, Mário Augusto Moysés (PT-SP), que foi chefe de gabinete da então titular do setor no governo Luiz Inácio da Silva (2003-10), a senadora da República Marta Suplicy (PT-SP); e o ex-deputado federal Colbert Martins, outro membro do PMDB, que dirige a Secretaria de Programas daquele Ministério. Eles foram fotografados com as mãos algemadas no embarque para o Amapá, o que provocou uma polêmica sobre uma prática humilhante, por isso mesmo limitada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a casos extremos e que se supunha abandonada pela PF.
PIOR ainda do que essa sensacionalista demonstração de serviço foram as fotografias vazadas dias depois para um jornal de circulação local em Macapá e reproduzidas em outros veículos em todo o País, mostrando um punhado de detidos sem camisa, enquanto seguravam ao peito placas com os seus nomes.
DESSA vez nem os policiais federais ousaram sair em defesa do que na gíria policial se chama "escracho" - o aviltamento de presos a pretexto de sua identificação formal. Dona Rousseff considerou o vazamento "inaceitável". O ministro de Estado da Justiça, José Eduardo Cardozo (PT-SP), falou em "grave violação". O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) determinou uma investigação sobre o episódio.
MUITO provavelmente, no entanto, não faltaram brasileiros, fartos até a medula da corrupção enraizada na administração pública e na política nacional, que condescenderam, quando não se regozijaram com o tratamento infligido a mais esses presumíveis bandalhos. No outro extremo, numa escrachada expressão de autodefesa, um certo número de políticos governistas, em clima de "ora, onde já se viu?", usou os condenáveis abusos do DPF para verberar esse começo de devassa nos usos e costumes de seus apadrinhados ou cúmplices. O que os move, evidentemente, não é a preocupação com a agressão aos direitos da pessoa, mas o intento de pressionar o governo federal para pôr fim ao "moralismo" de que teria sido acometido.
PODE-SE presumir, portanto, que não tenham ficado satisfeitos com a manifestação da presidente da República, aproveitando a solenidade de recondução ao cargo do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, na última Segunda-feira, 15. Sim, ela afirmou que fará tudo o que estiver ao seu alcance "para coibir abusos, excessos e afrontas à dignidade de qualquer cidadão que venha a ser investigado". Mas afirmou também, com igual ênfase, que "onde ocorrerem malfeitos, iremos combater com firmeza, utilizando todos os instrumentos de investigação de que o governo dispõe e sempre contando com a atuação isenta do Ministério Público, com a eficiência da Polícia e com o poder de decisão do Judiciário".
O VIGOR das instituições, em última análise, é o que corruptores e corruptos mais temem. Especialmente, como disse dona Rousseff, "uma Justiça eficaz, célere, mas sóbria e democrática, senhora da razão e incontestável nas suas atitudes e providências".
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