Barata voa!
RIO DE JANEIRO (RJ) – DEPOIS que o então presidente da República (2003-10), Luiz Inácio da Silva (PT-SP), escaldado pela sucessão de inquéritos parlamentares sobre o Mensalão empreendido pelo delubiovalerioduto sob os auspícios do então alto comissário e, agora, ex-deputado federal (cassado) José Dirceu (PT-SP), trouxe para o regaço do poder o Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) e outros partidos políticos menos votados, pagando-lhes parceladamente as gratificações devidas, o Congresso Nacional amansou o bastante para não impedi-lo de fazer "o melhor governo da história brasileira", como não se cansaria de apregoar com o costumeiro desdém pelos fatos.
SUA sucessora, e apadrinhada política, Dilma Wana Rousseff (PT-RS), herdou a agigantada base paralmentar lullista, mas não aprendeu com o seu mentor a jogar o jogo dos novos parceiros. Desafeita, por temperamento e formação, aos tapinhas nas costas, abraços apertados, risos afrouxados, conversas sobre futebol e piadas impublicáveis com que Luiz Inácio da Silva, “o encantador de serpentes”, “lubrificava” cuidadosamente o seu rentável relacionamento com os políticos, e decerto por encarar de maneira diferente da do antecessor os misteres da função presidencial republicana, dona Rousseff só conseguiu agastar os aliados.
FORMALMENTE delegou a interlocução política a um opaco deputado federal, Luiz Sérgio (PT-SP), sem traquejo para o ofício e sem meios efetivos de aplacar os apetites da base, enquanto o então ministro-chefe da Casa Civil da Presidência da República, Antonio Palocci Filho (PT-SP), com quem o pessoal realmente queria se entender, nem aos seus telefonemas respondia. Caído Palocci em desgraça, e removido para chefiar o Ministério da Pesca o obscuro Luiz Sérgio, a presidente Rousseff deu a entender à tigrada que daí para a frente tudo seria diferente, com a servidão de cuidar de suas demandas atribuída à senadora da República Ideli Salvatti (PT-SC).
SÓ QUE, além de Salvatti se revelar "fraquinha", na impiedosa avaliação do então ministro de Estado da Defesa, Nelson Jobim (PMDB-RS), duas situações novas ajudaram a turvar a atmosfera entre o Palácio Planalto e o Congresso Nacional em Brasília (DF). A primeira, naturalmente, foi a varrição no Ministério dos Transportes, que Luiz Inácio da Silva havia transformado em quintal do Partido da República (PR). As denúncias que se seguiram, no Ministério da Agricultura e no Ministério do Turismo apropriados pelo PMDB, agravaram o azedume dos políticos a ponto de eles passarem a alardear o seu desgosto com a presidente da República.
A SEGUNDA situação foi a crescente convicção do governo de que a crise internacional exige uma política de controle de gastos tida como incompatível, também, com a liberação sem peias dos recursos para as emendas parlamentares. Poucos exemplos podem retratar tão fielmente o divórcio entre as preocupações dominantes dos dois lados da Praça dos Três Poderes em Brasília como, numa ponta, um alerta de Rousseff e, na outra, uma queixa literalmente paroquial de um deputado federal.
REUNIDA com o enxundioso Conselho Político do governo, a presidente da República considerou "gravíssimo" o quadro externo. O que levou o líder do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) na Câmara dos Deputados, o deputado federal Jovair Arantes (PTB-GO), a comentar que "Paris e Londres estão a mais de 7 mil quilômetros da minha cidade", que precisa de obras. Não é que ao tempo presidencial de Luiz Inácio da Silva o dinheiro para as emendas jorrasse com a presteza desejada pelos seus autores. Mas o peso de sua popularidade, a sua aptidão para passar a mão na cabeça dos políticos e a certeza deles de que seriam recompensados os mantinham na linha.
NÃO sendo Rousseff um Luiz Inácio da Silva, não contando com interlocutores capazes de suprir as suas carências no departamento do diálogo e tendo os políticos farejado sangue, começaram as represálias e as chantagens. Na última Quinta-feira, 10, não foi a Oposição, mas um bloco informal de 200 deputados federais da base governista que impediu a votação de um Projeto de Decreto Legislativo de rotina, como quem avisa que isso é apenas uma amostra da disposição de enquadrar dona Rousseff. No clima "gelado e com cerração" que o presidente da Câmara dos Deputados, Marco Maia (PMDB-SP), identificou naquela Casa do Poder Legislativo, estalaram advertências de uma eventual adesão de setores governistas à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar a corrupção no governo petista que a Oposição quer criar no Congresso Nacional.
NO desensarilhar das armas, ouviram-se ameaças como a de obstruir a prorrogação até 2015 do dispositivo que permite ao governo manejar como queira 20% dos recursos do Orçamento Geral da União (OGU) e que expira no fim deste ano; e aquela de aprovar duas emendas constitucionais que são anátema para o governo - a que cria um piso salarial nacional para a Polícia Militar (PM), para a Polícia Civil (PC) e o Corpo de Bombeiros dos Estados, em todo País, e aquela que fixa um porcentual mínimo de gastos com a saúde. Embora prometa dar um tratamento espartano ao OGU de 2012, o governo já indicou aos aliados que vai afrouxar os cordões da “bolsa da viúva”. Que remédio?
SUA sucessora, e apadrinhada política, Dilma Wana Rousseff (PT-RS), herdou a agigantada base paralmentar lullista, mas não aprendeu com o seu mentor a jogar o jogo dos novos parceiros. Desafeita, por temperamento e formação, aos tapinhas nas costas, abraços apertados, risos afrouxados, conversas sobre futebol e piadas impublicáveis com que Luiz Inácio da Silva, “o encantador de serpentes”, “lubrificava” cuidadosamente o seu rentável relacionamento com os políticos, e decerto por encarar de maneira diferente da do antecessor os misteres da função presidencial republicana, dona Rousseff só conseguiu agastar os aliados.
FORMALMENTE delegou a interlocução política a um opaco deputado federal, Luiz Sérgio (PT-SP), sem traquejo para o ofício e sem meios efetivos de aplacar os apetites da base, enquanto o então ministro-chefe da Casa Civil da Presidência da República, Antonio Palocci Filho (PT-SP), com quem o pessoal realmente queria se entender, nem aos seus telefonemas respondia. Caído Palocci em desgraça, e removido para chefiar o Ministério da Pesca o obscuro Luiz Sérgio, a presidente Rousseff deu a entender à tigrada que daí para a frente tudo seria diferente, com a servidão de cuidar de suas demandas atribuída à senadora da República Ideli Salvatti (PT-SC).
SÓ QUE, além de Salvatti se revelar "fraquinha", na impiedosa avaliação do então ministro de Estado da Defesa, Nelson Jobim (PMDB-RS), duas situações novas ajudaram a turvar a atmosfera entre o Palácio Planalto e o Congresso Nacional em Brasília (DF). A primeira, naturalmente, foi a varrição no Ministério dos Transportes, que Luiz Inácio da Silva havia transformado em quintal do Partido da República (PR). As denúncias que se seguiram, no Ministério da Agricultura e no Ministério do Turismo apropriados pelo PMDB, agravaram o azedume dos políticos a ponto de eles passarem a alardear o seu desgosto com a presidente da República.
A SEGUNDA situação foi a crescente convicção do governo de que a crise internacional exige uma política de controle de gastos tida como incompatível, também, com a liberação sem peias dos recursos para as emendas parlamentares. Poucos exemplos podem retratar tão fielmente o divórcio entre as preocupações dominantes dos dois lados da Praça dos Três Poderes em Brasília como, numa ponta, um alerta de Rousseff e, na outra, uma queixa literalmente paroquial de um deputado federal.
REUNIDA com o enxundioso Conselho Político do governo, a presidente da República considerou "gravíssimo" o quadro externo. O que levou o líder do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) na Câmara dos Deputados, o deputado federal Jovair Arantes (PTB-GO), a comentar que "Paris e Londres estão a mais de 7 mil quilômetros da minha cidade", que precisa de obras. Não é que ao tempo presidencial de Luiz Inácio da Silva o dinheiro para as emendas jorrasse com a presteza desejada pelos seus autores. Mas o peso de sua popularidade, a sua aptidão para passar a mão na cabeça dos políticos e a certeza deles de que seriam recompensados os mantinham na linha.
NÃO sendo Rousseff um Luiz Inácio da Silva, não contando com interlocutores capazes de suprir as suas carências no departamento do diálogo e tendo os políticos farejado sangue, começaram as represálias e as chantagens. Na última Quinta-feira, 10, não foi a Oposição, mas um bloco informal de 200 deputados federais da base governista que impediu a votação de um Projeto de Decreto Legislativo de rotina, como quem avisa que isso é apenas uma amostra da disposição de enquadrar dona Rousseff. No clima "gelado e com cerração" que o presidente da Câmara dos Deputados, Marco Maia (PMDB-SP), identificou naquela Casa do Poder Legislativo, estalaram advertências de uma eventual adesão de setores governistas à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar a corrupção no governo petista que a Oposição quer criar no Congresso Nacional.
NO desensarilhar das armas, ouviram-se ameaças como a de obstruir a prorrogação até 2015 do dispositivo que permite ao governo manejar como queira 20% dos recursos do Orçamento Geral da União (OGU) e que expira no fim deste ano; e aquela de aprovar duas emendas constitucionais que são anátema para o governo - a que cria um piso salarial nacional para a Polícia Militar (PM), para a Polícia Civil (PC) e o Corpo de Bombeiros dos Estados, em todo País, e aquela que fixa um porcentual mínimo de gastos com a saúde. Embora prometa dar um tratamento espartano ao OGU de 2012, o governo já indicou aos aliados que vai afrouxar os cordões da “bolsa da viúva”. Que remédio?
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