Uma visita de Estado
MILÃO – AINDA na antevéspera de sua visita de quatro dias aos Estados Unidos da América (EUA), para o oitavo encontro em dois anos com o presidente da República norte-americana, Barack Houssein Obama, o presidente da República Popular da China, Hu Jintao, afirmou a jornalistas norte-americanos, numa entrevista por escrito, que "a China e os EUA têm alta influência nos assuntos internacionais e compartilham importantes responsabilidades na manutenção da paz mundial e na promoção do desenvolvimento comum".
A PARTIR destas aparentes platitudes, o governo chinês dizia aos norte-americanos o que esperava das reuniões entre os respectivos dirigentes e dos contatos da delegação chinesa com a elite diplomática, militar e econômica norte-americana: o reconhecimento de que o colosso asiático se tornou uma superpotência em pé de igualdade com os EUA e que a sua projeção na esfera global independe da aprovação da nação líder do Ocidente. Eis também por que o governo chinês deu excepcional importância ao protocolo da acolhida a Jintao.
NO ano de 2006, o então presidente da República dos EUA, George W. Bush, se recusou a considerar a primeira viagem de Jintao aos EUA uma "visita de Estado", com toda a liturgia e demonstração de respeito que o termo denota, mas apenas uma "visita oficial", daquelas corriqueiras no mundo da diplomacia. O governo chinês revidou em 2009, dando ao presidente Obama uma recepção glacial. No ano seguinte, as relações sino/norte-americanas desceram ao seu ponto mais conturbado em muito tempo, a uma enorme distância da "harmonia" pregada por Jintao.
AGORA, o governo Obama se empenhou em harmonizar o tratamento de chefe de Estado exigido por Jintao com a exposição das queixas norte-americanas em relação à China. O presidente Jintao foi submetido a um festival gastronômico incomum até nas situações do gênero, a ponto de o almoço oferecido pelo vice-presidente da República dos EUA, Joe Biden, e a chanceler Hillary Clinton terminar apenas duas horas antes do aguardado banquete de Estado. O jantar de gala na Casa Branca foi a deferência com que os o governo dos EUA certificaram o novo status da nação concorrente.
AO mesmo tempo, Obama fez praça de cobrar de Jintao, em público e em privado, respeito aos direitos humanos. As recorrentes violências chinesas têm no encarcerado escritor Liu Xiabo o seu símbolo mais atual. A crítica, ainda que polida, era o mínimo a esperar do presidente que recebeu o Prêmio Nobel da Paz um ano antes do preso político, em 2009, e cuja secretária de Estado, Hillary Clinton, excluiu o assunto de sua agenda na primeira ida a China, naquele mesmo ano. Mas a grande novidade foi a resposta de Jintao à inevitável pergunta sobre o tema, na entrevista coletiva nos jardins da Casa Branca, também ela ornada de pompa e circunstância além da conta.
PELA primeira vez um governante comunista chinês reconheceu que os direitos humanos são um valor universal e que o seu país "ainda precisa fazer muito" a respeito. Pode ser retórica, mas, como notou um analista norte-americano, um tabu foi quebrado. Aqui e ali, o governo da China também fez concessões sutis ao governo dos EUA. Segundo fontes de Washington, os visitantes se comprometeram a combater a pirataria de inovações norte-americanas, acabar com a reserva de mercado às empresas chinesas nas licitações oficiais no setor de alta tecnologia e favorecer a interlocução entre os comandantes militares de ambos os países. (Os gastos chineses com defesa crescem mais do que a economia nacional).
A CHINA afinal concordou em defender o diálogo entre as duas Coreias, em vez de insistir na retomada de conversações multilaterais com o regime de Pyongyang para desanuviar as tensões na península e tratar de seu programa nuclear. Ainda pela primeira vez, as autoridades chinesas se disseram preocupadas com a usina norte-coreana de enriquecimento de urânio, recentemente revelada. Onde aparentemente nada mudou foi no contencioso sobre o Yuan (moeda oficial chinesa), que Jintao se recusa a desvalorizar para facilitar o acesso aos seus mercados. Anunciou-se, em todo caso, que a China comprará US$ 45 bilhões em produtos norte-americanos. Já é algo para o presidente Obama aplacar os críticos de sua política chinesa, no Capitólio e nos grandes conglomerados que financiam a Oposição.
A PARTIR destas aparentes platitudes, o governo chinês dizia aos norte-americanos o que esperava das reuniões entre os respectivos dirigentes e dos contatos da delegação chinesa com a elite diplomática, militar e econômica norte-americana: o reconhecimento de que o colosso asiático se tornou uma superpotência em pé de igualdade com os EUA e que a sua projeção na esfera global independe da aprovação da nação líder do Ocidente. Eis também por que o governo chinês deu excepcional importância ao protocolo da acolhida a Jintao.
NO ano de 2006, o então presidente da República dos EUA, George W. Bush, se recusou a considerar a primeira viagem de Jintao aos EUA uma "visita de Estado", com toda a liturgia e demonstração de respeito que o termo denota, mas apenas uma "visita oficial", daquelas corriqueiras no mundo da diplomacia. O governo chinês revidou em 2009, dando ao presidente Obama uma recepção glacial. No ano seguinte, as relações sino/norte-americanas desceram ao seu ponto mais conturbado em muito tempo, a uma enorme distância da "harmonia" pregada por Jintao.
AGORA, o governo Obama se empenhou em harmonizar o tratamento de chefe de Estado exigido por Jintao com a exposição das queixas norte-americanas em relação à China. O presidente Jintao foi submetido a um festival gastronômico incomum até nas situações do gênero, a ponto de o almoço oferecido pelo vice-presidente da República dos EUA, Joe Biden, e a chanceler Hillary Clinton terminar apenas duas horas antes do aguardado banquete de Estado. O jantar de gala na Casa Branca foi a deferência com que os o governo dos EUA certificaram o novo status da nação concorrente.
AO mesmo tempo, Obama fez praça de cobrar de Jintao, em público e em privado, respeito aos direitos humanos. As recorrentes violências chinesas têm no encarcerado escritor Liu Xiabo o seu símbolo mais atual. A crítica, ainda que polida, era o mínimo a esperar do presidente que recebeu o Prêmio Nobel da Paz um ano antes do preso político, em 2009, e cuja secretária de Estado, Hillary Clinton, excluiu o assunto de sua agenda na primeira ida a China, naquele mesmo ano. Mas a grande novidade foi a resposta de Jintao à inevitável pergunta sobre o tema, na entrevista coletiva nos jardins da Casa Branca, também ela ornada de pompa e circunstância além da conta.
PELA primeira vez um governante comunista chinês reconheceu que os direitos humanos são um valor universal e que o seu país "ainda precisa fazer muito" a respeito. Pode ser retórica, mas, como notou um analista norte-americano, um tabu foi quebrado. Aqui e ali, o governo da China também fez concessões sutis ao governo dos EUA. Segundo fontes de Washington, os visitantes se comprometeram a combater a pirataria de inovações norte-americanas, acabar com a reserva de mercado às empresas chinesas nas licitações oficiais no setor de alta tecnologia e favorecer a interlocução entre os comandantes militares de ambos os países. (Os gastos chineses com defesa crescem mais do que a economia nacional).
A CHINA afinal concordou em defender o diálogo entre as duas Coreias, em vez de insistir na retomada de conversações multilaterais com o regime de Pyongyang para desanuviar as tensões na península e tratar de seu programa nuclear. Ainda pela primeira vez, as autoridades chinesas se disseram preocupadas com a usina norte-coreana de enriquecimento de urânio, recentemente revelada. Onde aparentemente nada mudou foi no contencioso sobre o Yuan (moeda oficial chinesa), que Jintao se recusa a desvalorizar para facilitar o acesso aos seus mercados. Anunciou-se, em todo caso, que a China comprará US$ 45 bilhões em produtos norte-americanos. Já é algo para o presidente Obama aplacar os críticos de sua política chinesa, no Capitólio e nos grandes conglomerados que financiam a Oposição.
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