A lassidão ética do lullismo
BARCELONA – O VOSSO ex-presidente da República, Inácio da Silva (PT-SP), não precisou nem de uma semana para demonstrar ao País e ao mundo que, apesar de alardear ser uma pessoa de origem humilde, um homem do povo igual a todo mundo, julga-se, na verdade, no mínimo, um primeiro entre iguais, merecedor, portanto, de privilégios e regalias especiais. Vosso ex-guia está realmente convencido, do alto de seus oitenta e tanto por cento de aprovação popular, de que conquistou a condição incontrastável de líder supremo dos brasileiros. Alguém que tudo pode, a quem tudo é permitido.
É FATO que qualquer homem público com algum sentido de decoro, com alguma noção de limites de comportamento, com algum pudor no trato com o bem comum, jamais se teria permitido dar os maus exemplos protagonizados pelo “CARA!” na sua penosa transição para a condição de ex-presidente da República desse grande e bobo País do hemisfério Sul: o uso de dependências das Forças Armadas do Brasil para gozar, com a família, de alguns dias de lazer à beira-mar e a concessão a dois filhos seus, pelo Ministério das Relações Exteriores, nos últimos dias de Dezembro de 2010, de passaportes diplomáticos válidos por quatro anos.
E DOIS dias depois de ter passado a faixa presidencial a sua sucessora, Dilma Wana Rousseff (PT-RS), vosso ex-guia e família desembarcaram no aprazível recanto do Forte dos Andradas, dependência do Exército Brasileiro situada numa das pontas da praia do Tombo, no Guarujá (SP). Como presidente da República (2003-10), “O-CARA!” já havia estado lá um par de vezes, para curtos períodos de descanso. A reação geral foi imediata: um ex-presidente da República tem direito a essa regalia? Consultado o Ministério da Defesa, o ministro de Estado, Nelson Jobim (PMDB-RS) mandou dizer que “O-CARA!” estava no Forte dos Andradas como seu convidado. Então, é isso.
MAIS ou menos ao mesmo tempo vazou a notícia de que, ao apagar das luzes de 2010, e do mandato de Luiz Inácio da Silva, seus filhos Marcos Cláudio, 39, e Luiz Cláudio, 25, e ainda um neto, foram contemplados pelo Ministério das Relações Exteriores com a concessão de passaportes diplomáticos. Esse é um privilégio a que têm direito algumas altas autoridades públicas e seus dependentes, desde que tenham até 21 anos de idade, ou sejam portadores de algum tipo de deficiência. Como nenhum dos dois filhos do ex-presidente da República se enquadra nessas condições, questionado pelos jornalistas o Ministério das Relações Exteriores explicou que a concessão foi autorizada pelo ex-chanceler Celso Amorim (PMDB-RJ) "em caráter excepcional", atendendo ao "interesse do país". Ninguém se deu ao trabalho de explicar que "interesse" seria esse, mas fontes da Chancelaria revelaram que o pedido dos passaportes fora feito pelo então presidente da República diretamente ao então ministro Amorim, poucos dias antes de deixarem os cargos.
POR que não? Que há de mal nisso? Afinal, Luiz Inácio da Silva não pode? Que pode, pode. Está visto. Mas não deve. E quem não entende por que, não tem o direito de reclamar da lassidão ética que corrompe a atividade política em todos os níveis de governo e dos enormes prejuízos que isso acaba significando para a cidadania. O comportamento do ex-presidente da República é um péssimo exemplo para o país por pelo menos uma boa razão, além da óbvia questão ética: eterno defensor e protetor dos fracos e oprimidos (ops!), o combate aos privilégios dos poderosos sempre foi bandeira política de Luiz Inácio da Silva e do Partido dos Trabalhadores (PT) antes de alcançarem a Presidência da República do Brasil. É difícil de justificar, portanto, que o ex-metalúrgico, que hoje tem condições financeiras para pagar do próprio bolso uma semana de férias para toda a família em qualquer resort elegante do Brasil ou do mundo, inclusive nas condições de segurança e privacidade a que, estas sim, ele e seus familiares têm todo o direito - se valha dos privilégios inerentes à Presidência da Republica depois de deixar o cargo. Só mesmo um desvio de conduta explica a tranquilidade com que, no caso das férias no forte, Luiz Inácio da Silva botou na conta da viúva o custo do auto-outorgado privilégio.
O RECÉM-empossado ministro de Estado das Relações Exteriores, Antonio Patriota (PMDB-RJ), evitou diplomaticamente comentar a questão dos passaportes. Já o assessor da Presidência da República para Assuntos Internacionais, professor Marco Aurélio Garcia (PT-SP) - uma das incômodas heranças que Luiz Inácio da Silva deixou para a presidente Rousseff -, com o habitual sarcasmo, e à falta de melhor argumento, classificou o assunto como "de uma irrelevância absoluta".
SE esse é o saldo de uma semana de Luiz Inácio da Silva sem a faixa presidencial, não é difícil imaginar o que ainda está por vir.
É FATO que qualquer homem público com algum sentido de decoro, com alguma noção de limites de comportamento, com algum pudor no trato com o bem comum, jamais se teria permitido dar os maus exemplos protagonizados pelo “CARA!” na sua penosa transição para a condição de ex-presidente da República desse grande e bobo País do hemisfério Sul: o uso de dependências das Forças Armadas do Brasil para gozar, com a família, de alguns dias de lazer à beira-mar e a concessão a dois filhos seus, pelo Ministério das Relações Exteriores, nos últimos dias de Dezembro de 2010, de passaportes diplomáticos válidos por quatro anos.
E DOIS dias depois de ter passado a faixa presidencial a sua sucessora, Dilma Wana Rousseff (PT-RS), vosso ex-guia e família desembarcaram no aprazível recanto do Forte dos Andradas, dependência do Exército Brasileiro situada numa das pontas da praia do Tombo, no Guarujá (SP). Como presidente da República (2003-10), “O-CARA!” já havia estado lá um par de vezes, para curtos períodos de descanso. A reação geral foi imediata: um ex-presidente da República tem direito a essa regalia? Consultado o Ministério da Defesa, o ministro de Estado, Nelson Jobim (PMDB-RS) mandou dizer que “O-CARA!” estava no Forte dos Andradas como seu convidado. Então, é isso.
MAIS ou menos ao mesmo tempo vazou a notícia de que, ao apagar das luzes de 2010, e do mandato de Luiz Inácio da Silva, seus filhos Marcos Cláudio, 39, e Luiz Cláudio, 25, e ainda um neto, foram contemplados pelo Ministério das Relações Exteriores com a concessão de passaportes diplomáticos. Esse é um privilégio a que têm direito algumas altas autoridades públicas e seus dependentes, desde que tenham até 21 anos de idade, ou sejam portadores de algum tipo de deficiência. Como nenhum dos dois filhos do ex-presidente da República se enquadra nessas condições, questionado pelos jornalistas o Ministério das Relações Exteriores explicou que a concessão foi autorizada pelo ex-chanceler Celso Amorim (PMDB-RJ) "em caráter excepcional", atendendo ao "interesse do país". Ninguém se deu ao trabalho de explicar que "interesse" seria esse, mas fontes da Chancelaria revelaram que o pedido dos passaportes fora feito pelo então presidente da República diretamente ao então ministro Amorim, poucos dias antes de deixarem os cargos.
POR que não? Que há de mal nisso? Afinal, Luiz Inácio da Silva não pode? Que pode, pode. Está visto. Mas não deve. E quem não entende por que, não tem o direito de reclamar da lassidão ética que corrompe a atividade política em todos os níveis de governo e dos enormes prejuízos que isso acaba significando para a cidadania. O comportamento do ex-presidente da República é um péssimo exemplo para o país por pelo menos uma boa razão, além da óbvia questão ética: eterno defensor e protetor dos fracos e oprimidos (ops!), o combate aos privilégios dos poderosos sempre foi bandeira política de Luiz Inácio da Silva e do Partido dos Trabalhadores (PT) antes de alcançarem a Presidência da República do Brasil. É difícil de justificar, portanto, que o ex-metalúrgico, que hoje tem condições financeiras para pagar do próprio bolso uma semana de férias para toda a família em qualquer resort elegante do Brasil ou do mundo, inclusive nas condições de segurança e privacidade a que, estas sim, ele e seus familiares têm todo o direito - se valha dos privilégios inerentes à Presidência da Republica depois de deixar o cargo. Só mesmo um desvio de conduta explica a tranquilidade com que, no caso das férias no forte, Luiz Inácio da Silva botou na conta da viúva o custo do auto-outorgado privilégio.
O RECÉM-empossado ministro de Estado das Relações Exteriores, Antonio Patriota (PMDB-RJ), evitou diplomaticamente comentar a questão dos passaportes. Já o assessor da Presidência da República para Assuntos Internacionais, professor Marco Aurélio Garcia (PT-SP) - uma das incômodas heranças que Luiz Inácio da Silva deixou para a presidente Rousseff -, com o habitual sarcasmo, e à falta de melhor argumento, classificou o assunto como "de uma irrelevância absoluta".
SE esse é o saldo de uma semana de Luiz Inácio da Silva sem a faixa presidencial, não é difícil imaginar o que ainda está por vir.
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