Consumidos pela própria ignorância
ESSA semana o governo iraniano rejeitou, em termos ríspidos, a oferta do vosso guia, Luiz Inácio da Silva (PT-SP), de dar asilo à viúva Sakineh Mohammadi Ashtiani, condenada à morte por apedrejamento por crime de adultério - caso que mobilizou as organizações de defesa dos direitos humanos em muitos países e deu origem, no Brasil, ao movimento "Fala Lula", difundido pela web. "O presidente da Silva tem uma personalidade muito emotiva e humana", disse o porta-voz do Ministério do Exterior da República Islâmica do Irã, Ramin Mehmanparast, "mas provavelmente não tem informação suficiente sobre o assunto".
E PORTANTO, aos olhos daquela teocracia liderado pelo presidente Mahmoud Ahmadinejad, de quem ele se considera amigo e por quem diz sentir carinho, “O-CARA!” é um exaltado que não sabe do que está falando. Na véspera, uma agência de notícias arquiconservadora ligada à Guarda Revolucionária do Irã, que age como uma espécie de polícia de costumes da teocracia, acusou o brasileiro de interferir em questões internas do Irã, "sob influência da mídia estrangeira". O que não se esperava era a canelada do próprio governo que tem em “O-CARA!” o seu único aliado respeitável no mundo ocindental.
AQUELA República Islâmica é o que é e Ahmadinejad representa a linha-dura dos aiatolás no poder civil, mas vosso guia, efetivamente, tem demonstrado fartamente que "não tem informação suficiente sobre o assunto", como diria o porta-voz da chancelaria iraniana. Não tendo, quem sabe imaginasse que, depois de tudo que fez por Ahmadinejad no contencioso sobre o programa nuclear de seu país, teria direito a uma recompensa que o projetaria como salvador de uma vida a ser extinta por um dos meios mais bárbaros já inventados. Isso atenuaria o que ele disse no ano passado da brutal repressão aos dissidentes iranianos - "apenas uma coisa entre flamenguistas e vascaínos". E talvez apagasse a lembrança da sua manifestação inicial sobre a tragédia de Sakineh, a mãe de 2 filhos presa desde 2006, já punida com 99 chibatadas por alegado "relacionamento ilícito", e que, se não for afinal apedrejada, poderá morrer na forca aos 43 anos. Há uma semana, coerente com a sua folha corrida em matéria de direitos humanos - que o digam os prisioneiros políticos cubanos que comparou a "bandidos presos em São Paulo" -, “O-CARA!” recusou-se a interceder pela cidadã iraniana com este desastrado argumento: "Se (as pessoas) começarem a desobedecer as leis deles para atender o pedido de chefes de Estado, daqui a pouco vira uma avacalhação", declarou, no mais castiço lulês.
NA INTIMIDADE do lullismo, alguém há de ter levado as mãos à cabeça e chamado a atenção do chefe para o provável custo eleitoral da enormidade que proferira, logo ele que escolheu uma mulher para lhe suceder. É a explicação mais plausível para a reviravolta que se seguiu, a menos que se acredite na versão de um assessor palaciano em Brasília (DF), segundo o qual "o presidente Luiz Inácio ouviu a voz da consciência". O fato é que, na primeira ocasião apropriada - um comício em Curitiba (PR), no Sábado último, 31, ao lado da candidata Dilma Rousseff (PT-RS) -, ele fez a sua oferta, com a promessa de ligar para o colega Ahmadinejad.
SE TELEFONOU, não se sabe. Mas, à parte o áspero recado iraniano, o episódio é um exemplo dos improvisos e desencontros deste governo (2003-10) na execução de sua desastrada política externa. A crer no ministro de Estado das Relações Exteriores, Celso Amorim (PMDB-RJ), ele havia pedido ao seu colega iraniano, Manouchehr Mottaki, que o governo iraniano perdoasse Sakineh. Amorim disse ter feito o apelo, que o seu interlocutor ouviu em silêncio, há duas semanas - antes, portanto, de seu guia falar em "avacalhação". Além disso, o ministro Amorim deixou implícito que “O-CARA!” deu o dito pelo não dito sem combinar com a turma do Palácio do Itamaraty. Dois dias depois da guinada, Amorim comentou que ainda precisaria conversar com o vosso guia sobre a melhor maneira de formalizar a sua proposta de asilo.
CONTUDO, isso não empana o mérito do “CARA!”. Apesar da confusão e do atraso - e quaisquer que tenham sido os seus motivos -, ele fez a coisa certa ao sair em defesa da iraniana. As provações de Sakineh Mohammadi Ashtiani e a monstruosa ameaça que paira sobre ela ofendem o mais elementar senso de decência humana.
ESPEREMOS que, mais bem informado, agora, sobre a essência totalitária do regime iraniano, vosso guia modere o apoio que lhe dá.
E PORTANTO, aos olhos daquela teocracia liderado pelo presidente Mahmoud Ahmadinejad, de quem ele se considera amigo e por quem diz sentir carinho, “O-CARA!” é um exaltado que não sabe do que está falando. Na véspera, uma agência de notícias arquiconservadora ligada à Guarda Revolucionária do Irã, que age como uma espécie de polícia de costumes da teocracia, acusou o brasileiro de interferir em questões internas do Irã, "sob influência da mídia estrangeira". O que não se esperava era a canelada do próprio governo que tem em “O-CARA!” o seu único aliado respeitável no mundo ocindental.
AQUELA República Islâmica é o que é e Ahmadinejad representa a linha-dura dos aiatolás no poder civil, mas vosso guia, efetivamente, tem demonstrado fartamente que "não tem informação suficiente sobre o assunto", como diria o porta-voz da chancelaria iraniana. Não tendo, quem sabe imaginasse que, depois de tudo que fez por Ahmadinejad no contencioso sobre o programa nuclear de seu país, teria direito a uma recompensa que o projetaria como salvador de uma vida a ser extinta por um dos meios mais bárbaros já inventados. Isso atenuaria o que ele disse no ano passado da brutal repressão aos dissidentes iranianos - "apenas uma coisa entre flamenguistas e vascaínos". E talvez apagasse a lembrança da sua manifestação inicial sobre a tragédia de Sakineh, a mãe de 2 filhos presa desde 2006, já punida com 99 chibatadas por alegado "relacionamento ilícito", e que, se não for afinal apedrejada, poderá morrer na forca aos 43 anos. Há uma semana, coerente com a sua folha corrida em matéria de direitos humanos - que o digam os prisioneiros políticos cubanos que comparou a "bandidos presos em São Paulo" -, “O-CARA!” recusou-se a interceder pela cidadã iraniana com este desastrado argumento: "Se (as pessoas) começarem a desobedecer as leis deles para atender o pedido de chefes de Estado, daqui a pouco vira uma avacalhação", declarou, no mais castiço lulês.
NA INTIMIDADE do lullismo, alguém há de ter levado as mãos à cabeça e chamado a atenção do chefe para o provável custo eleitoral da enormidade que proferira, logo ele que escolheu uma mulher para lhe suceder. É a explicação mais plausível para a reviravolta que se seguiu, a menos que se acredite na versão de um assessor palaciano em Brasília (DF), segundo o qual "o presidente Luiz Inácio ouviu a voz da consciência". O fato é que, na primeira ocasião apropriada - um comício em Curitiba (PR), no Sábado último, 31, ao lado da candidata Dilma Rousseff (PT-RS) -, ele fez a sua oferta, com a promessa de ligar para o colega Ahmadinejad.
SE TELEFONOU, não se sabe. Mas, à parte o áspero recado iraniano, o episódio é um exemplo dos improvisos e desencontros deste governo (2003-10) na execução de sua desastrada política externa. A crer no ministro de Estado das Relações Exteriores, Celso Amorim (PMDB-RJ), ele havia pedido ao seu colega iraniano, Manouchehr Mottaki, que o governo iraniano perdoasse Sakineh. Amorim disse ter feito o apelo, que o seu interlocutor ouviu em silêncio, há duas semanas - antes, portanto, de seu guia falar em "avacalhação". Além disso, o ministro Amorim deixou implícito que “O-CARA!” deu o dito pelo não dito sem combinar com a turma do Palácio do Itamaraty. Dois dias depois da guinada, Amorim comentou que ainda precisaria conversar com o vosso guia sobre a melhor maneira de formalizar a sua proposta de asilo.
CONTUDO, isso não empana o mérito do “CARA!”. Apesar da confusão e do atraso - e quaisquer que tenham sido os seus motivos -, ele fez a coisa certa ao sair em defesa da iraniana. As provações de Sakineh Mohammadi Ashtiani e a monstruosa ameaça que paira sobre ela ofendem o mais elementar senso de decência humana.
ESPEREMOS que, mais bem informado, agora, sobre a essência totalitária do regime iraniano, vosso guia modere o apoio que lhe dá.
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