Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

sexta-feira, maio 14, 2010

Sinopse mal desenvolvida

ESSA telenovela "Viver a Vida", de Manoel Carlos (o Maneco, 77), produzida, e exibida pela TV GLOBO em seu horário nobre (Segunda à Sábado, 21h), e que chega ao fim nesta Sexta-feira, 14, já não deixa saudades. Apesar do sucesso da história, que atingiu bons índices de audiência (média de 36 e pico de 56 pontos no DataIbope da Cidade de São Paulo; mesmo longe de ser um blockbuster no principal horário da maior emissora de TV do País) e que envolveu o espectador com suas emoções, é bom que se lembre que nem tudo aconteceu como o planejado nos domínios do Maneco. Durante a telenovela, muitas tramas que prometiam provocar polêmica foram diminuídas ou até mesmo esquecidas ao longo dos oito meses em que ficou no ar.


JÁ NO início da história, nos seus primeiros capítulos, a protagonista Helena (a linda e talentosa atriz Taís Araújo, a primeira negra a assumir o posto no horário mais nobre da telinha da GLOBO), mantinha contato com o personagem André, um modelo, interpretado pelo ator Antônio Firmino. Os dois personagens viveram um tórrido romance no passado, Helena chegou a engravidar e fez um aborto. O início da trama prometia mostrar a amizade depois do amor, o que irira provocar ciúmes de Marcos (José Mayer), mas o personagem André fez uma ou duas cenas e depois sumiu.


UM OUTRO personagem que passaria por um drama no núcleo da modelo é Sr. Oswaldo, o pai de Helena. Na trama, o personagem, vivido pelo execelente ator e músico Laércio de Freitas, tocava na night de Búzios e tinha uma vida desregrada. Ele iria abordar o cuidado com a saúde, principalmente os malefícios do cigarro. Nos últimos capítulos da telenovela, Laércio pouco apareceu, sendo apenas citado por outros personagens.


NO NÚCLEO médico, uma das tramas que prometia muita polêmica envolvia o relacionamento que Ariane (Christine Fernandes) teria com o marido (Leonardo Machado) de uma de suas pacientes terminais, Marta. A atriz Gisela Reimann chegou a raspar a cabeça para dar mais veracidade à trama. Mas, em um dado momento da história, ela e o marido saíram de cena e foram continuar o tratamento contra o câncer em Belo Horizonte (MG) e de Ariane, que chegou a ter conversas sobre o assunto com Ellen (Daniele Suzuki), mas nunca levou a história para frente.


O PERSONAGEM Marcos também iria viver um drama que foi descartado pelo autor. O empresário, dono de um hotel, teria problemas com sonegação de impostos e chegaria a falir, o que não aconteceu.


E O QUE dizer dos romances da trama? Jorge (Mateus Solano) começou a telenovela namorando Luciana (Alinne Moraes) mas Paixão (Priscila Sol) - amiga da modelo - sempre nutriu um amor secreto pelo arquiteto. Depois do rompimento, o irmão gêmeo de Miguel teve um affair com a prostituta Myrna (Aline Fanju) e vai se casar com a médica Ariane (Christine Fernandes), mas a estagiária nunca revelou seu sentimento - o que poderia acontecer apenas no último capítulo. Outra personagem apaixonada pelo galã, a sócia Suzana (Carolina Chalita), que também, originalmente, brigaria por ele, ficou apenas na promessa, com poucas que mostraram, de fato, os seus objetivos.


E A PRIMEIRA noite de amor de Mia (Paloma Bernardi) também não aconteceu até agora. A filha adotiva de Marcos e Tereza (Lília Cabral) até se apaixonou pelo médico Neto (Rafael Sieg) e engatou um romance com ele. Mas, a não ser que Maneco nos surpreenda com a cena esta noite, no último capítulo, a moça termina a história como comçeou, virgem. E esta não é a única situação sem desfecho vivida pela irmã de Luciana. Adotada, a personagem seria filha biológica de Marcos com uma empregada, mas o assunto nunca foi comentado na telenovela.


TAMBEM não aconteceu o aguardado conflito entre idades diferentes no namoro de Clarisse (Cecília Dassi) e Bernardo (Bruno Perillo). O dono do restaurante "Gengibre" chegou a trair a namorada com a sedutora Alice, interpretada pela excelente atriz Maria Luisa Mendonça, e confessou ter dificuldades com a imaturidade da namorada, mas os conflitos gerados pela situação não foram levados adiante pelo autor.


MARIA Luiza Mendonça também se envolveu com Osmar (Marcelo Valle). O produtor de moda iria defender o bissexualismo durante toda a novela, o que não vingou. Apenas nos últimos dias de "Viver a Vida" o assunto foi abordado levemente, com Osmar apresentando um "amigo" para a moça.


PARA quem teve acesso a sinópse desta história, sabe que na teleninha poderia ter sido melhor aproveitada, com um resultado bem mais interessante. Talvez até pela escolha de alguns interpretes, a começar pela péssima atuação do protótipo de jornalista de economia interpretada pela limitada atriz Camila Morgado. Fraquíssima e carregadíssima, também, a atuação de Bárbara Paz em sua estréia em produções da TV GLOBO. E sobretudo, a direção "sonolenta" e arrastada do Diretor de Núcleo de Dramaturgia e Diretor-Geral de "Viver a Vida" Jayme Monjardim Matarazzo, para ficar apenas em alguns escorregões da produção. Tais tropeços, sem qualquer sombra de dúvida, contribuiram decididamente para o inesperado fracasso dessa telenovela do Maneco (um dos grandes autores da teledramaturgia no Brasil). Nota: 06!