O germe porteño do autoritarismo
AQUELA ação de caminhoneiros liderados pelo presidente da Confederação Geral do Trabalho (CGT) argentina, Hugo Moyano - principal comandante da tropa de choque a que o governo Kirchner recorre sempre que precisa -, de impedir a circulação dos dois principais jornais do país, Clarín e La Nación, foi mais uma grave demonstração de que, derrotado nas urnas há alguns meses, o kirchnerismo está cada vez mais disposto a silenciar seus opositores, quaisquer que sejam os meios que tenha de utilizar.
DURANTE duas noites e duas madrugadas, caminhoneiros ligados ao sindicato controlado por Pablo Moyano, filho de Hugo, bloquearam as saídas dos parques gráficos dos dois jornais, localizados no bairro de Barracas, em Buenos Aires, e, depois, se dirigiram aos centros de distribuição dos diários, retardando a chegada dos exemplares aos leitores.
A REIVINDICAÇÃO, claro, de natureza corporativista dos caminhoneiros - a filiação dos motoristas de seis cooperativas independentes ao sindicato chefiado por Moyano - não passou de um pretexto para intimidar as diretorias dos dois jornais, os maiores daquele país, que vêm publicando críticas ao governo da presidente da República Argentina, Cristina Kirchner. "É necessário contextualizar essa ação no clima de agressão e hostilidade com relação à imprensa que vem sendo registrado na Argentina, e do qual não têm sido alheios setores ligados ao poder político", denunciou, em nota, a Associação das Entidades Jornalísticas Argentinas (Adepa). "Os diários e os leitores voltaram a ser transformados em reféns de um conflito que não lhes diz respeito”.
E A OMISSÃO da polícia argentina no caso, embora chamada várias vezes pela direção dos dois jornais, é apenas mais uma prova do envolvimento do governo no episódio. "Só a estratégia do governo nacional de limitar o exercício da liberdade de imprensa permite compreender a ação perpetrada com o objetivo de impedir que os diários Clarín e La Nación chegassem a seus leitores", afirmou o Clarín em editorial.
APÓS aquela crise que criou com os produtores rurais no ano passado, o governo Kirchner II passou a ser criticado mais duramente pela Imprensa. A resposta oficial tem sido a adoção de medidas intimidatórias, como a discriminação empresas editoras dos jornais oposicionistas na distribuição das verbas de publicidade oficial, a ameaça a alguns jornalistas, o envio de duas centenas de fiscais para a sede do Clarín, a mobilização de um rolo compressor no Congresso para a aprovação da nova lei dos meios de comunicação audiovisuais - que fortalece o poder do governo e obriga alguns grupos editoriais, como o que edita o Clarín e o que edita o jornal espanhol El País, a se desfazer de algumas operações - e, agora, o cerco à distribuição dos principais diários do país. "Tudo isso faz parte de um plano do governo para eliminar o pensamento crítico e a crítica jornalística", reagiu a deputada Silvana Giudici, da União Cívica Radical, que é membro da Comissão de Liberdade de Expressão da Câmara. "Não podemos desvincular fatos como este da necessidade do governo de controlar o que publicam os meios de comunicação."
E ESTA tem sido a orientação do governo Kirchner II, desde o mandato de Néstor, marido de Cristina. Hugo Moyano é um dos principais aliados do casal Kirchner e tem utilizado o poder de que dispõe no movimento sindical para paralisar as atividades de alguns setores, se isso for do interesse do governo. Nos últimos dias, o Sindicato dos Caminhoneiros chefiado por seu filho - e que agora comanda a Administração de Programas Especiais do governo nacional, que distribui quase 1 bilhão de pesos por ano para obras sociais dos sindicatos - conseguiu mais 300 adesões, o que aumenta seu poder de criar dificuldades para a circulação dos jornais e das revistas. Quanto maior o poder de Moyano, maior o risco de um dia a Argentina amanhecer sem jornais nas bancas. "Quando se desenvolve o germe do autoritarismo, a primeira liberdade a ser desrespeitada é a liberdade de imprensa, porque sua destruição permite manter a sociedade na ignorância e atentar, sem sanção alguma, contra seus direitos e garantias sob o amparo do silêncio", escreveu Gregorio Badeni, em artigo para o La Nación.
No último fim de semana, a Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) se reuniu em Buenos Aires, numa tomada de posição contra as restrições à liberdade de Imprensa promovidas pelo casal Kirchner.
DURANTE duas noites e duas madrugadas, caminhoneiros ligados ao sindicato controlado por Pablo Moyano, filho de Hugo, bloquearam as saídas dos parques gráficos dos dois jornais, localizados no bairro de Barracas, em Buenos Aires, e, depois, se dirigiram aos centros de distribuição dos diários, retardando a chegada dos exemplares aos leitores.
A REIVINDICAÇÃO, claro, de natureza corporativista dos caminhoneiros - a filiação dos motoristas de seis cooperativas independentes ao sindicato chefiado por Moyano - não passou de um pretexto para intimidar as diretorias dos dois jornais, os maiores daquele país, que vêm publicando críticas ao governo da presidente da República Argentina, Cristina Kirchner. "É necessário contextualizar essa ação no clima de agressão e hostilidade com relação à imprensa que vem sendo registrado na Argentina, e do qual não têm sido alheios setores ligados ao poder político", denunciou, em nota, a Associação das Entidades Jornalísticas Argentinas (Adepa). "Os diários e os leitores voltaram a ser transformados em reféns de um conflito que não lhes diz respeito”.
E A OMISSÃO da polícia argentina no caso, embora chamada várias vezes pela direção dos dois jornais, é apenas mais uma prova do envolvimento do governo no episódio. "Só a estratégia do governo nacional de limitar o exercício da liberdade de imprensa permite compreender a ação perpetrada com o objetivo de impedir que os diários Clarín e La Nación chegassem a seus leitores", afirmou o Clarín em editorial.
APÓS aquela crise que criou com os produtores rurais no ano passado, o governo Kirchner II passou a ser criticado mais duramente pela Imprensa. A resposta oficial tem sido a adoção de medidas intimidatórias, como a discriminação empresas editoras dos jornais oposicionistas na distribuição das verbas de publicidade oficial, a ameaça a alguns jornalistas, o envio de duas centenas de fiscais para a sede do Clarín, a mobilização de um rolo compressor no Congresso para a aprovação da nova lei dos meios de comunicação audiovisuais - que fortalece o poder do governo e obriga alguns grupos editoriais, como o que edita o Clarín e o que edita o jornal espanhol El País, a se desfazer de algumas operações - e, agora, o cerco à distribuição dos principais diários do país. "Tudo isso faz parte de um plano do governo para eliminar o pensamento crítico e a crítica jornalística", reagiu a deputada Silvana Giudici, da União Cívica Radical, que é membro da Comissão de Liberdade de Expressão da Câmara. "Não podemos desvincular fatos como este da necessidade do governo de controlar o que publicam os meios de comunicação."
E ESTA tem sido a orientação do governo Kirchner II, desde o mandato de Néstor, marido de Cristina. Hugo Moyano é um dos principais aliados do casal Kirchner e tem utilizado o poder de que dispõe no movimento sindical para paralisar as atividades de alguns setores, se isso for do interesse do governo. Nos últimos dias, o Sindicato dos Caminhoneiros chefiado por seu filho - e que agora comanda a Administração de Programas Especiais do governo nacional, que distribui quase 1 bilhão de pesos por ano para obras sociais dos sindicatos - conseguiu mais 300 adesões, o que aumenta seu poder de criar dificuldades para a circulação dos jornais e das revistas. Quanto maior o poder de Moyano, maior o risco de um dia a Argentina amanhecer sem jornais nas bancas. "Quando se desenvolve o germe do autoritarismo, a primeira liberdade a ser desrespeitada é a liberdade de imprensa, porque sua destruição permite manter a sociedade na ignorância e atentar, sem sanção alguma, contra seus direitos e garantias sob o amparo do silêncio", escreveu Gregorio Badeni, em artigo para o La Nación.
No último fim de semana, a Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) se reuniu em Buenos Aires, numa tomada de posição contra as restrições à liberdade de Imprensa promovidas pelo casal Kirchner.
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