Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

sexta-feira, março 06, 2009

Jarbas põe o bloco na rua

O Carnaval mal terminou, e o senador da República, Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), voltou a animar a Oposição na noite da última Terça-feira, 03, ao ocupar a tribuna do Senado Federal para insistir na tese de que o País está abalado moralmente, que a política está aviltada e que o Governo é o grande vilão de toda essa balbúrdia que achincalha a vida nacional. O plenário do Senado, meio a contragosto, acabou de alguma forma se transformando numa lavanderia, não sem antes Jarbas Vasconcelos defender o óbvio - o País precisa de uma reforma política urgente.




O senador pernambucano, dono de uma rica biografia, sem dúvida, mas nem por isso isento da paixão partidária e já com candidato definido para 2010, começou seu discurso fazendo uma acusação genérica. A de que arapongas, não nominados nem identificados, estariam a essa altura fazendo alguma investigação sobre sua vida pública. Como bom pernambucano, advertiu que não tem medo da suposta devassa que alguém, não se sabe exatamente quem, está promovendo em sua vida. Nesse ponto, Vasconcelos, mais uma vez, ainda que justificando não ter vocação para a delação, não citou uma informação que pudesse levar quem o ouvia a saber para que lado ficam os ninhos dos arapongas - nem se existem.





De forma que o discurso de Vasconcelos, anunciado e saudado pela Oposição, foi de fato um momento forte da tentativa que se faz, em vários pontos do país, de restabelecer a ética no país. O senador, ainda que não citando nomes, avançou ao anunciar que apresentará um projeto que proibirá políticos de assumirem ou indicarem diretores financeiros de empresas estatais, no entender de Vasconcelos o grande ninho da corrupção ativa e passiva. O difícil é imaginar que o Congresso possa aprovar um projeto desses,não apenas pela sua singularidade, mas sobretudo porque o que se nota já nesses dias é o deflagrar da guerra eleitoral, tendo Vasconcelos dado início a ela com sua histriônica entrevista à reportagem da revista VEJA, há quase 30 dias - entrevista, aliás, que não trouxe nenhuma novidade, a não ser a de transformar o que o país sabe em letras de forma.




E tanto é verdade que a entrevista e o discurso de Vasconcelos fazem parte dessa luta eleitoral que, ainda Terça-feira, era visível, durante a sessão do Senado, o desconforto de boa parte dos governistas e a exaltação dos oposicionistas. Até em coisas simples, como a proposta do senador Aloizio Mercadante (PT-SP), de dotar de mandato o diretor-geral do Senado, ao comentar a saída de Agaciel Maia, era nítida a distinção entre governistas e oposicionistas, a começar pelo senador Heráclito Fortes (DEM-AM) de ridicularizar a proposta de Mercadante, logo ele, Heráclito, que, dois dias antes, ao estourar o escândalo do diretor-geral, tentou escapar do tema dizendo que a aquisição da tal mansão era coisa antiga e que o Senado não poderia fazer nada. Equivocou-se o senador democrata. O Senado, talvez, não quisesse fazer nada, mas teve que ceder à pressão da imprensa e da própria Oposição ao presidente do Congresso Nacional, José Sarney (PMDB-AP), que acabou aceitando o pedido de exoneração de Agaciel, para alívio geral, certamente.




Vasconcelos, de outra parte, parece ter escolhido a dedo o dia do seu pronunciamento. Ainda ontem, o PMDB do Rio de Janeiro, um dos alvos preferenciais da s críticas do senador pernambucano, estava afoito para criar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara dos Deputados para vasculhar os fundos de pensão, numa tentativa de retaliar os que se opuseram ao assalto da bancada fluminense ao Fundo Real Grandeza, dos funcionários de Furnas Centrais Elétricas S/A. Na tentativa de evitar que um prato desse tamanho caia nas mãos da Oposição na véspera de um ano eleitoral, o Governo mais que depressa começou a mobilizar a sua bancada para evitar o “fogo amigo” do PMDB fluminense, por sua vez bombardeado pelo discurso de Jarbas Vasconcelos que dedicou uma boa parte de seu discurso à voracidade dos peemedebistas do Rio de Janeiro. A propósito, não custa lembrar: o PMDB do Rio de Janeiro ocupou Furnas Centrais Elétricas com o beneplácito do PMDB mineiro, que abriu mão da presidência da empresa, genuinamente mineira, em troca de dois ou três cargos de outras empresas estatais, entre elas o Banco do Brasil e a Petrobras S/A. Em suma, há um movimento pela ética surgindo, mas nas ondas da campanha eleitoral.