Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

quinta-feira, setembro 15, 2011

Escassez de liderança

O PRESIDENTE da república dos Estados Unidos da América (EUA), Barack Houssein Obama enviou ao Congresso Nacional dos EUA seu novo plano de recuperação da economia norte-americana: investimentos e benefícios fiscais no valor de US$ 447 bilhões, projetados para criar empregos, incentivar o consumo, reativar a indústria e tornar o país mais eficiente. Enquanto isso, os mercados enfrentam mais uma onda de pânico em todo o mundo

MOMENTOS antes de encaminhar o projeto, Obama fez um minicomício num dos jardins da Casa Branca, defendendo seu plano perante um grande grupo de professores, veteranos, donos de pequenos negócios e outros possíveis beneficiários dos incentivos propostos pelo governo. O presidente Obama está empenhado em mobilizar apoio em todo o país para pressionar os congressistas norte-americanos e evitar o fracasso de mais essa iniciativa. Já na semana passada, líderes da Oposição haviam prometido, em carta a Obama, examinar suas ideias com atenção.

O SITE da Casa Branca na web registrava, até ontem à noite, 81 manifestações de apoio ao projeto, com declarações de congressistas, governadores, prefeitos, grandes empresários, líderes de entidades empresariais e dirigentes de organizações sindicais, entre elas algumas das mais poderosas, como a United Steelworkers (do setor siderúrgico) e a AFL-CIO, a mais conhecida e mais tradicional central trabalhista daquele país.

UMA negociação do projeto com os congressistas norte-americano deverá ser complicada, mas a ampla mobilização de apoio pode ser um grande trunfo para o governo Obama. De toda forma, a iniciativa de Barack Obama foi o esforço mais importante e mais promissor, em vários meses, para impedir o agravamento da crise no mundo rico.

NO instante em que o presidente norte-americano fazia seu minicomício na Casa Branca, as bolsas de valores da Europa desciam ladeira abaixo, acompanhando as bolsas de valores da Ásia, e mais uma jornada tensa começava em Nova York (EUA). O fim de semana havia passado sem se confirmar o rumor de um calote grego. Mas os mercados voltaram a funcionar, na última Segunda-feira, 12, como se houvesse pouca dúvida quanto ao risco de um desastre iminente. Ações de bancos franceses, com carteiras cheias de títulos da Grécia e de outros países altamente endividados, despencaram.

JÁ no último Domingo, 11, o governo da Grécia havia anunciado um novo imposto sobre imóveis, para conter o crescente déficit público, mas a notícia produziu pouco ou nenhum efeito. Deu-se mais atenção, nos mercados, a um artigo do ministro da Economia da Alemanha, Philipp Roesler, publicado no jornal Die Welt. "Para estabilizar o euro, não pode haver pensamentos proibidos no curto prazo, e isso inclui, se necessário, uma insolvência ordenada da Grécia, se os instrumentos necessários estiverem disponíveis", afirmou o ministro alemão.

NUNCA uma autoridade europeia falara com tanta clareza sobre a possibilidade de um calote grego. Já se havia proposto uma renegociação com os bancos, até agora sem muito sucesso, mas a frase do ministro alemão aponta para uma solução mais ampla e politicamente mais difícil.

ENTRETANTO, esse talvez seja o caminho mais seguro e menos custoso para uma solução eficiente do problema grego. Uma nova missão de representantes do Fundo Monetário Internacional (FMI), da Comissão Europeia e do Banco Central Europeu (BCE) chegou a Atenas provavelmente ontem. O novo imposto anunciado pelo governo pode funcionar como a senha para a liberação de nova fatia da ajuda prometida à Grécia.

ISSO poderá resolver dificuldades imediatas, mas a estabilização da economia grega é um desafio imensamente mais complicado. Uma reestruturação coordenada, com perdas planejadas e adequadamente distribuídas, pode ser, afinal, o melhor, se não o único, meio de equacionar o problema, definir com clareza os custos e afastar de uma vez o risco de contágio.

UMA solução desse tipo requer, no entanto, a ação de um político dotado de capacidade excepcional de liderança. Parece haver no mundo rico, neste momento, uma grave escassez de políticos dessa envergadura. O fiasco da reunião de ministros do Grupo dos 7 países mais ricos e industrializados do mundo (o G-7), no último fim semana, apenas confirmou a incapacidade dos governos de promover ações articuladas contra a crise.