Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

segunda-feira, setembro 12, 2011

Indignação popular

ALGUNS concidadãos deste grande e bobo País estão começando a perder a paciência com a corrupção que assola a República. As comemorações da Independência no último dia 07 ensejaram manifestações populares convocadas pelas redes sociais em várias capitais estaduais e no Distrito Federal (DF), onde 25 mil pessoas desfilaram pacificamente pela Esplanada dos Ministérios proclamando palavras de ordem contra a corrupção e os corruptos. Em São Paulo, centenas de manifestantes ocuparam pela manhã a Avenida Paulista, com o mesmo propósito. A Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) lançou na véspera e publicou na Imprensa fluminense, na última Quarta-feira, 07, em página dupla, o Manifesto do empresariado brasileiro em favor da ética na política, em que afirma que o combate à corrupção "é uma bandeira coletiva, que representa a aspiração de todo um país".

NA nossa história recente foi assim que começaram os grandes movimentos populares que, por exemplo, se transformaram, em 1984, na Campanha das Diretas Já e, em 1992, na mobilização dos jovens caras-pintadas, que fez eco ao clamor popular contra as maracutaias do governo do "caçador de marajás" e forçou o impeachment do então presidente da República, Fernando Collor de Mello. Agora, é perceptível a revolta latente da população contra os desmandos na administração pública, em todos os níveis. As manifestações do último dia 07 de Setembro poderão ser um indício de que esse sentimento começa a se generalizar e a se potencializar, ou seja, a procurar formas mais ativas e concretas de expressão.

AS razões por detrás dessa fermentação são óbvias e vão se acumulando: a indecorosa decisão dos deputados federais de absolver uma colega, Jaqueline Roriz (PTC-DFP, que tinha a cassação de mandato recomendada pela Comissão de Ética da Câmara dos Deputados por ter sido flagrada recebendo propina, dinheiro vivo, quando era candidata a deputada distrital em Brasília (DF); a impressionante sucessão de denúncias na mídia e as investigações policiais sobre bandalheiras em órgãos da administração federal, que resultaram na demissão de pelo menos três ministros em curto prazo, graças à "faxina" da presidente da República, Dilma Wana Rousseff (PT-RS); mais recentemente, o movimento de governistas e do Partido dos Trabalhadores (PT) & companhia para minimizar a importância e a abrangência dessa mesma "faxina", forte a ponto de constranger a própria chefe do governo a declarar que não é movida pela intenção de fazer uma devassa nos Ministérios, mas apenas pela obrigação de investigar e punir eventuais irregularidades.

TAL tática diversionista, aparentemente motivada pelo receio de que a tal "faxina" acabe sendo debitada na conta do chefão Luiz Inácio da Silva (PT-SP) - afinal, os três ministros de Estado demitidos foram herdados de seu governo (2003-10) -, pode afrontar ainda mais a opinião pública, já indignada.

DA mesma forma que as pesquisas de opinião demonstraram grande apoio à ação saneadora da presidente Rousseff nos episódios das demissões dos ministros de Estado, poderão vir a revelar exatamente o oposto se em algum momento as pessoas começarem a achar que o governo Rousseff se tornou condescendente com a bandalheira.

POR enquanto, aqueles que acham que deve continuar prevalecendo a cínica ideia de que não há nada de errado - ao contrário, são males necessários, e por isso toleráveis - num superfaturamento aqui, num desvio de verba ali ou num nepotismo acolá podem contar com o fato de que, embora despontem os primeiros indícios de protestos, não existe ainda uma efetiva mobilização nacional contra a corrupção.

ENTIDADES representativas dos trabalhadores, sindicatos e centrais, por exemplo, bem como instituições como a União Nacional dos Estudantes (UNE), decisiva na mobilização dos caras-pintadas de 1992, até o momento não parecem sensibilizadas com a questão. Algumas delas promoveram manifestações no dia 07 de Setembro, mas exclusivamente para enfatizar reivindicações corporativas.

NA tentativa de negar a evidência de que a corrupção é endêmica na administração federal e colocar panos quentes no combate à corrupção, os governistas podem estar dando um tiro no pé. A indignação popular, quando se agrava, geralmente se transforma numa bola de neve e fica incontrolável.