Brincando com fogo
O JURISTA Nelson Jobim (PMDB-RS) fez por merecer a decisão da presidente da República, DilmaWana Rousseff (PT-RS) de exigir que se demitisse do Ministério da Defesa, para não obrigá-la a demiti-lo. A frente do Ministério da Defesa desde 2007, Jobim foi mantido a pedido de seu admirador Luiz Inácio da Silva (PT-SP). Rousseff atendeu ao pedido, mas confinou o apadrinhado ao seu cantão, sem ser chamado para opinar sobre questões políticas e jurídicas alheias à sua área, como seu antecessor na Presidência da República fazia a três por quatro, nutrindo as ambições políticas de Jobim. Foi além, o ex-presidente da República, em suas mesuras ao seu protegido, ao manobrar para que chegasse ao comando do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) a fim de que o partido o indicasse para vice-presidente da República na chapa eleitoral governista em 2010.
COM tal retrospecto, não será difícil de imaginar o ressentimento de Jobim com a perda de prestígio no governo Rousseff, certamente agravado pelos cortes no orçamento militar que atingiram duramente os projetos de reequipamento das Forças Armadas do Brasil e pelas diferenças entre ele e Rousseff sobre a questão dos guerrilheiros desaparecidos no Araguaia, entre outros motivos para frustração. A frustração foi o que decerto o levou a dar vazão ao que o seu temperamento tem de mais criticável - a pesporrência que leva à insopitável incontinência verbal a que ele se entregou com frequência ao longo da carreira política, sempre se retratando em seguida. Desta vez a retratação pública não evitou o que parece ser o fim dessa carreira.
JOBIM já tinha sido no mínimo indelicado com a presidente da República, à qual devia obediência e respeito, ao insinuar que "os idiotas" se aboletaram no governo e ao tornar público que na última eleição votara no amigo oposicionista José Serra (PSDB-SP) para a Presidência da República. Tudo isso Rousseff ouviu em silêncio. O que definitivamente não poderia admitir, sob pena de desmoralização, foi aquela entrevista de Jobim à reportagem da revista Piauí. Menos pelas grosserias com que se referiu às colegas ministras de Estado, Ideli Salvatti (PT-SC) e Gleisi Hoffman (PT-PR), do que pela versão que deu a uma conversa com Rousseff sobre a nomeação do mensaleiro petista José Genoino (PT-SP) para assessorá-lo no Ministério da Defesa. Perguntado sobre a utilidade do ex-deputado federal Genuino na função, ele respondeu: "Quem sabe se ele pode ou não ser útil sou eu".
APÓS fazer a coisa certa, ato contínuo dona Rousseff fez o seu contrário. Na ânsia de encerrar rapidamente mais este episódio infeliz do seu breve governo, escolheu o ex-ministro de Estado das Relações Exteriores, Celso Amorim (PT-RJ), para substituir Jobim, sem dedicar algum tempo à avaliação dos problemas que poderá criar para o seu governo no Ministério da Defesa. Se tivesse feito isso poderia ver o que salta à vista de todo estudioso do governo Luiz Inácio da Silva (2003-10), ou seja, que nem as Forças Armadas do Brasil mereciam isso depois de ser comandadas pelo primeiro civil que se fizera respeitar por elas nem o País merecia isso depois de Jobim ter sido o primeiro naquele Ministério a consolidar os instrumentos legais, políticos e administrativos que asseguram a subordinação da esfera militar ao poder civil. Julguem-se como se queiram todas as demais atitudes de Jobim, nisso ele foi exemplar.
EIS que é sucedido pelo homem errado no lugar errado. Primeiro, dona Rousseff errou por entregar a Defesa a quem passou os últimos oito anos - com o entusiasmado aval de Luiz Inácio da Silva - impondo um viés ideológico bolivariano à diplomacia brasileira, com a agravante de ter sido um fracasso total. O apoio ao governo autocrático da República Islâmica do Irã, a identificação com a Cuba dos irmãos Castro e a confraternização com a Venezuela do coronel-paraquedista Hugo Chávez configuraram uma política que "contrariou princípios e valores" das Forças Armadas do Brasil, na avaliação de oficiais-generais da ativa ouvidos por nossa reportagem sob a condição de anonimato.
ADEMAIS, Rousseff errou por nomear um egresso do Itamaraty para cuidar dos assuntos militares, aparentemente alheia à verdade elementar de que a função do soldado começa quando se esgota a do negociador. A guerra pode ser a continuação da política por outros meios, mas há um abismo entre a mentalidade de um general e a de um diplomata. As duas áreas cruciais do Estado devem se articular nas circunstâncias necessárias. Mas as culturas profissionais inerentes a uma e a outra são distintas, quando não, distantes. Essa questão de fundo continuaria a existir fosse o escolhido de Rousseff um ex-chanceler que tivesse se pautado pelo interesse nacional como o interpretam os militares. Com um ideólogo, então, é brincar com fogo.
COM tal retrospecto, não será difícil de imaginar o ressentimento de Jobim com a perda de prestígio no governo Rousseff, certamente agravado pelos cortes no orçamento militar que atingiram duramente os projetos de reequipamento das Forças Armadas do Brasil e pelas diferenças entre ele e Rousseff sobre a questão dos guerrilheiros desaparecidos no Araguaia, entre outros motivos para frustração. A frustração foi o que decerto o levou a dar vazão ao que o seu temperamento tem de mais criticável - a pesporrência que leva à insopitável incontinência verbal a que ele se entregou com frequência ao longo da carreira política, sempre se retratando em seguida. Desta vez a retratação pública não evitou o que parece ser o fim dessa carreira.
JOBIM já tinha sido no mínimo indelicado com a presidente da República, à qual devia obediência e respeito, ao insinuar que "os idiotas" se aboletaram no governo e ao tornar público que na última eleição votara no amigo oposicionista José Serra (PSDB-SP) para a Presidência da República. Tudo isso Rousseff ouviu em silêncio. O que definitivamente não poderia admitir, sob pena de desmoralização, foi aquela entrevista de Jobim à reportagem da revista Piauí. Menos pelas grosserias com que se referiu às colegas ministras de Estado, Ideli Salvatti (PT-SC) e Gleisi Hoffman (PT-PR), do que pela versão que deu a uma conversa com Rousseff sobre a nomeação do mensaleiro petista José Genoino (PT-SP) para assessorá-lo no Ministério da Defesa. Perguntado sobre a utilidade do ex-deputado federal Genuino na função, ele respondeu: "Quem sabe se ele pode ou não ser útil sou eu".
APÓS fazer a coisa certa, ato contínuo dona Rousseff fez o seu contrário. Na ânsia de encerrar rapidamente mais este episódio infeliz do seu breve governo, escolheu o ex-ministro de Estado das Relações Exteriores, Celso Amorim (PT-RJ), para substituir Jobim, sem dedicar algum tempo à avaliação dos problemas que poderá criar para o seu governo no Ministério da Defesa. Se tivesse feito isso poderia ver o que salta à vista de todo estudioso do governo Luiz Inácio da Silva (2003-10), ou seja, que nem as Forças Armadas do Brasil mereciam isso depois de ser comandadas pelo primeiro civil que se fizera respeitar por elas nem o País merecia isso depois de Jobim ter sido o primeiro naquele Ministério a consolidar os instrumentos legais, políticos e administrativos que asseguram a subordinação da esfera militar ao poder civil. Julguem-se como se queiram todas as demais atitudes de Jobim, nisso ele foi exemplar.
EIS que é sucedido pelo homem errado no lugar errado. Primeiro, dona Rousseff errou por entregar a Defesa a quem passou os últimos oito anos - com o entusiasmado aval de Luiz Inácio da Silva - impondo um viés ideológico bolivariano à diplomacia brasileira, com a agravante de ter sido um fracasso total. O apoio ao governo autocrático da República Islâmica do Irã, a identificação com a Cuba dos irmãos Castro e a confraternização com a Venezuela do coronel-paraquedista Hugo Chávez configuraram uma política que "contrariou princípios e valores" das Forças Armadas do Brasil, na avaliação de oficiais-generais da ativa ouvidos por nossa reportagem sob a condição de anonimato.
ADEMAIS, Rousseff errou por nomear um egresso do Itamaraty para cuidar dos assuntos militares, aparentemente alheia à verdade elementar de que a função do soldado começa quando se esgota a do negociador. A guerra pode ser a continuação da política por outros meios, mas há um abismo entre a mentalidade de um general e a de um diplomata. As duas áreas cruciais do Estado devem se articular nas circunstâncias necessárias. Mas as culturas profissionais inerentes a uma e a outra são distintas, quando não, distantes. Essa questão de fundo continuaria a existir fosse o escolhido de Rousseff um ex-chanceler que tivesse se pautado pelo interesse nacional como o interpretam os militares. Com um ideólogo, então, é brincar com fogo.
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