Colegiado "corroborado" da corrupção no Ministério dos Transportes
ENTREVISTADA esta semana, a presidente da República, Dilma Wana Rousseff (PT-RS), minimizou as suas atribulações ao dizer que "tem dias" que fica triste "quando acontece alguma coisa errada" no seu governo. Dado que a política é indissociável da governança, as coisas erradas nessa frente não apenas não são esporádicas, mas de tal forma se empilham que a presidente Rousseff teria motivos para viver em estado de permanente tristeza. Ela fez a sua relutante confissão na tarde da última Terça-feira, 12. Naquele dia, depondo numa comissão do Senado, o diretor do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), Luiz Antonio Pagot (PR-SP), deu-lhe a alegria de elogiar o seu zelo e de desmentir explicitamente os rumores de que citaria o então ministro de Estado do Planejamento Orçamento e Gestão (e que hoje se encontra à frente do Ministério das Comunicações), Paulo Bernardo (PT-PR), e sua esposa, a então senadora da República, Gleisi Hoffmann (PT-PR), atual titular da chefia da Casa Civil da Presidência da República, numa nebulosa história de doações eleitorais e obras sob medida para os doadores. Mas o resto foi só mágoa.
DE FATO não se tem notícia, até aqui, de que Pagot teria base para levantar suspeitas sobre o casal ministerial paranaense, como não se sabe nem sequer a situação em que ele se encontra e qual será o seu destino - e esses mistérios têm tudo que ver com as entristecedoras coisas erradas que se sucedem no Planalto. Sabe-se apenas que a sua comportada conduta no Senado Federal resultou de uma negociação indireta com dona Rousseff. O intermediário foi o padrinho político do figurão do Dnit, o ex-governador do Estado de Mato Grosso e hoje senador da República, Blairo Maggi (PR-MT). Apontado em reportagem da Revista Veja (Editora Abril) como um dos personagens-chave de um esquema de corrupção armado no Ministério dos Transportes, Pagot soube pelo seu ainda chefe, ministro Alfredo Nascimento (PR-GO), que a presidente Rousseff determinara o seu imediato afastamento (e o dos demais citados). Retrucou que é demissível, mas não afastável, e de mais a mais tinha entrado em férias.
ZELOSA e ciosa de sua autoridade, dona Rousseff mandou avisar que ele seria exonerado assim que voltasse ao trabalho. Eis por que se especulava que ele se vingaria no seu depoimento. Não só não se vingou, como teve o cuidado de ressaltar que todas as decisões relativas a obras, licitações, contratos e os afamados aditivos - o foco provável da corrupção - eram tomadas em colegiados e "corroboradas" pelo secretário executivo do Ministério dos Transportes, Paulo Sérgio Passos (PR-GO), o substituto de Nascimento pinçado por Rousseff para zanga do Partido da República (PR) do parlamentar mensaleiro Valdemar Costa Neto (PR-SP), secretário-geral daquela legenda. Em suma, nem ele, Pagot, nem nenhum dos seus parceiros fizeram qualquer coisa que pudesse ser considerada irregular, para não dizer ilícita, nesse tempo todo.
DESMENTINDO, assim, a presidente Rousseff, o diretor do Dnit foi praticamente beatificado por seus companheiros de legenda, pelos aliados da base parlamentar do governo - incluindo o líder do governo na Câmara dos Deputados, Cândido Vaccarezza (PT-RS), que aproveitou para se "solidarizar" com o ministro de Estado que se demitira -, e pelo novo titular do Ministério dos Transportes, para quem Pagot é um "profissional responsável", contra o qual nada pesa. Mais do que depressa, armou-se na base um movimento para Rousseff mantê-lo na função. Só faltou dizerem em público que ela precisaria pedir desculpas por ter endossado e reforçado as denúncias de falcatruas no seu governo. Esse é o drama da presidente da República. A coalizão que em tese deveria apoiá-la não lhe perdoa ter feito a coisa certa, porque feriu os interesses de um dos 14 partidos políticos que a integram - e, nessas circunstâncias, é um por todos e todos por um.
TODOS eles também se unem na expectativa de que ela pague pontualmente o preço que cobram por seu apoio. Nos oito anos passados eles não precisavam lembrar-se de seus deveres a um presidente obcecado em fazer o sucessor por quaisquer meios. Além de não deixá-los na mão, Luiz Inácio da Silva (PT-SP) exacerbou os vícios do sistema político brasileiro. Com o seu "presidencialismo de resultados", entregou o Ministério dos Transportes aos apetites do PR de Costa Neto e congêneres. Em 2002, na sua encarnação anterior como Partido Liberal (PL), a legenda recebeu R$ 10 milhões da tesouraria do Partido dos Trabalhadores (PT). O negócio foi fechado na mesma hora do acerto do então candidato presidencial Luiz Inácio da Silva com o seu então candidato a vice, José Alencar Gomes da Silva (PR-MG). No fim das contas, as máfias políticas que ele cevou para eleger dona Rousseff são as mesmas que agora a deixam numa tristeza sem remissão à vista.
DE FATO não se tem notícia, até aqui, de que Pagot teria base para levantar suspeitas sobre o casal ministerial paranaense, como não se sabe nem sequer a situação em que ele se encontra e qual será o seu destino - e esses mistérios têm tudo que ver com as entristecedoras coisas erradas que se sucedem no Planalto. Sabe-se apenas que a sua comportada conduta no Senado Federal resultou de uma negociação indireta com dona Rousseff. O intermediário foi o padrinho político do figurão do Dnit, o ex-governador do Estado de Mato Grosso e hoje senador da República, Blairo Maggi (PR-MT). Apontado em reportagem da Revista Veja (Editora Abril) como um dos personagens-chave de um esquema de corrupção armado no Ministério dos Transportes, Pagot soube pelo seu ainda chefe, ministro Alfredo Nascimento (PR-GO), que a presidente Rousseff determinara o seu imediato afastamento (e o dos demais citados). Retrucou que é demissível, mas não afastável, e de mais a mais tinha entrado em férias.
ZELOSA e ciosa de sua autoridade, dona Rousseff mandou avisar que ele seria exonerado assim que voltasse ao trabalho. Eis por que se especulava que ele se vingaria no seu depoimento. Não só não se vingou, como teve o cuidado de ressaltar que todas as decisões relativas a obras, licitações, contratos e os afamados aditivos - o foco provável da corrupção - eram tomadas em colegiados e "corroboradas" pelo secretário executivo do Ministério dos Transportes, Paulo Sérgio Passos (PR-GO), o substituto de Nascimento pinçado por Rousseff para zanga do Partido da República (PR) do parlamentar mensaleiro Valdemar Costa Neto (PR-SP), secretário-geral daquela legenda. Em suma, nem ele, Pagot, nem nenhum dos seus parceiros fizeram qualquer coisa que pudesse ser considerada irregular, para não dizer ilícita, nesse tempo todo.
DESMENTINDO, assim, a presidente Rousseff, o diretor do Dnit foi praticamente beatificado por seus companheiros de legenda, pelos aliados da base parlamentar do governo - incluindo o líder do governo na Câmara dos Deputados, Cândido Vaccarezza (PT-RS), que aproveitou para se "solidarizar" com o ministro de Estado que se demitira -, e pelo novo titular do Ministério dos Transportes, para quem Pagot é um "profissional responsável", contra o qual nada pesa. Mais do que depressa, armou-se na base um movimento para Rousseff mantê-lo na função. Só faltou dizerem em público que ela precisaria pedir desculpas por ter endossado e reforçado as denúncias de falcatruas no seu governo. Esse é o drama da presidente da República. A coalizão que em tese deveria apoiá-la não lhe perdoa ter feito a coisa certa, porque feriu os interesses de um dos 14 partidos políticos que a integram - e, nessas circunstâncias, é um por todos e todos por um.
TODOS eles também se unem na expectativa de que ela pague pontualmente o preço que cobram por seu apoio. Nos oito anos passados eles não precisavam lembrar-se de seus deveres a um presidente obcecado em fazer o sucessor por quaisquer meios. Além de não deixá-los na mão, Luiz Inácio da Silva (PT-SP) exacerbou os vícios do sistema político brasileiro. Com o seu "presidencialismo de resultados", entregou o Ministério dos Transportes aos apetites do PR de Costa Neto e congêneres. Em 2002, na sua encarnação anterior como Partido Liberal (PL), a legenda recebeu R$ 10 milhões da tesouraria do Partido dos Trabalhadores (PT). O negócio foi fechado na mesma hora do acerto do então candidato presidencial Luiz Inácio da Silva com o seu então candidato a vice, José Alencar Gomes da Silva (PR-MG). No fim das contas, as máfias políticas que ele cevou para eleger dona Rousseff são as mesmas que agora a deixam numa tristeza sem remissão à vista.
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