Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

quarta-feira, junho 08, 2011

Mãos sujas!

NÃO havia outra forma de a administração petista tentar estancar essa crise política, que já dura quase um mês, provocada pela revelação da reportagem do Jornal Folha de S. Paulo a cerca do prodigioso enriquecimento do, agora, deputado federal, Antonio Palocci Filho (PT-SP), antes deste se tornar o principal ministro de Estado do governo Dilma Rousseff (2011-14): seu afastamento da chefia da Casa Civil da Presidência da República. A exoneração tornou-se iminente a partir do instante em que Palocci desperdiçou a última oportunidade de colocar a situação em pratos limpos, ao não apresentar em sua defesa nenhuma informação nova e relevante nas entrevistas seletivas e tardiamente concedidas na última Sexta-feira, 03, à reportagem do JORNAL NACIONAL (TV GLOBO) e do próprio Jornal Folha de S. Paulo.

O ENTÃO ministro-chefe da Casa Civil da Presidência da República se limitou a protestar inocência diante das suspeitas de tráfico de influência, negando-se a fornecer qualquer informação ou esclarecimento sobre seus clientes ou sobre a natureza dos serviços a eles prestados. Não fez mais do que deixar no ar um apelo que, nas circunstâncias, soou patético: acreditem em mim.

SEUS argumentos, em sua defesa foram de início, o argumento de que não ficou comprovada nenhuma "ilegalidade" nos fatos que lhe são imputados e o ônus da prova cabe a quem acusa - o que seria correto se a questão fosse apenas jurídica - e, depois, o argumento de que está eticamente impedido de divulgar os nomes de seus clientes porque não pode "expor terceiros nesse conflito". As duas alegações são insubsistentes.

A PRIMEIRA, porque o escândalo assumiu proporções tão graves que, até pela necessidade de dissipar a crise política criada dentro do governo, já havia algum tempo se impunha, para além de qualquer consideração jurídica, a necessidade de que explicações cabais fossem dadas à opinião pública. Era mais do que hora, portanto, de Palocci Filho provar a improcedência das suspeitas que sobre ele pesam. Na mesma linha de raciocínio, o impedimento ético para nomear as empresas às quais prestou serviços se anula diante da maior relevância da exigência de atender ao clamor público por transparência no comportamento de uma figura proeminente do governo.

MAS Palocci Filho frustrou com suas negaças as expectativas de que lançaria alguma luz sobre mais esse escândalo em que se vê envolvido. Tendo comprovadamente mentido uma vez no episódio que provocou sua saída do Ministério da Fazenda, em Março de 2006 - sem falar nos nebulosos episódios que marcaram suas duas gestões à frente da Prefeitura Municipal de Ribeirão Preto (SP) -, é demais esperar que ele pudesse contar agora com a indulgência de quem quer que acredite que o exercício de funções públicas exige compromisso com a probidade. Chegou, portanto, ao fim da linha em mais esta passagem, desta vez muito breve, pelos altos escalões da República.

SENDO a substituição do titular da Casa Civil um fato que só não se consumaria por conta de alguma enorme improbabilidade - por exemplo, a presidente da República, Dilma Wanna Rousseff (PT-RS) assumir, diante do desgaste seu e do seu governo, um risco que nem mesmo o ex-presidente da República, Luiz Inácio da Silva (PT-SP), se dispôs a encarar em 2006 -, resta tentar compreender o que esse episódio, qualquer que fosse seu desfecho, sinaliza para o futuro político e administrativo deste País a curto e médio prazos. Se os contratempos que enfrentou nesses primeiro cinco meses de governo, tais como as dificuldades para preencher os cargos de segundo e terceiro escalões da administração pública federal, refletem a preocupação da presidente Rousseff de impor critérios mais técnicos e menos fisiológicos na maneira de conduzir o governo, o novo escândalo Palocci Filho provavelmente a fará, se já não o fez, se dar conta de que, daqui para frente, dificilmente se livrará da condição de refém da maneira lullopetista de governar e de sua regra de ouro: pela "governabilidade" paga-se qualquer preço.

BOA parte dos petistas reza por essa cartilha há muito tempo. O Mensalão empreendido pelo delubiovalerioduto até a primeira metade do governo Luiz Inácio da Silva (2003-10), foi apenas o começo. Agora, esses sócios do petismo foram os primeiros a lavar as mãos e até mesmo pedir a saída de Palocci, aqueles que perceberam que podiam tirar vantagem disso. E o Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) sob a liderança do presidente do Senado Federal, senador José Sarney (PMDB-AP) e companhia, que nunca iludiu ninguém sobre os motivos de sua aliança com o Partido dos Trabalhadores (PT), dando um exemplo que foi imediatamente seguido por outras legendas da base parlamentar governista, não teve o menor constrangimento de chantagear a presidente Rousseff em troca de suposto apoio ao fragilizado Palocci Filho.

INSTITUCIONALMENTE mais uma vez é esse grande e bobo País que retrocede, não devido a saída de um ministro de Estado, pela porta dos fundos, mas por tudo que esse lamentável episódio coloca a nu para todos os brasileiros; quanta humilhação! Que vergonha!