Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

sexta-feira, junho 03, 2011

A presidente encolheu!

EM lugares onde não costuma chover, quando chove é um dilúvio. No governo Dilma, fazia bom tempo até que o céu veio abaixo por força da conjunção de duas questões tempestuosas: a revelação do enriquecimento em surdina, entre 2006 e 2010, do ministro-chefe da Casa Civil da Presidência da República, Antonio Palocci Filho (PT-RS), e o trâmite da reforma do Código Florestal, aprovada na semana passada pela Câmara dos Deputados. A tormenta ilhou o Palácio do Planalto, expôs a fragilidade congênita da base parlamentar do governo, cuja amplitude é inversamente proporcional à sua consistência programática, e trouxe de volta ao centro das decisões o ex-presidente da República, Luiz Inácio da Silva (PT-SP), com o inevitável apequenamento da liderança e do capital político de sua sucessora, Dilma Wana Rousseff (PT-RS).

ESSA crise em dose dupla levou à beira da desagregação o enlace de conveniência entre Partido dos Trabalhadores (PT) e o Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), já combalido pelo ressentimento da legenda do vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB-SP), com a expansão da presença petista no governo e a preferência da presidente da República, Dilma Rousseff, por quadros técnicos pinçados por ela mesma, em detrimento de apadrinhados políticos. Para a presidente Rousseff, ficou difícil escolher o pior dos males, entre a má vontade do PMDB em assumir a defesa de Palocci Filho - e o flerte de uma parcela de seus congressistas com a iniciativa da Oposição de criar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o súbito enriquecimento do patrimônio de Palocci Filho - e a obstinação do líder do partido na Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves (PMDB-PB), em fazer aprovar a emenda ao projeto do código que anistia plantações em áreas de proteção permanente e que dona Rousseff considerou "vergonhosa".

A SEU mando, Palocci Filho ligou no dia da votação para Temer para informá-lo de que os cinco ministros do PMDB, a começar do titular da Agricultura, Wagner Rossi (PMDB-SP) - indicado pessoalmente pelo interlocutor -, seriam exonerados caso o partido seguisse na contramão das posições da presidente. Abespinhado, o vice-presidente da República retrucou que a demissão seria desnecessária "porque amanhã cedo mesmo todos entregarão os seus cargos". A ríspida conversa, testemunhada em ambas as pontas da linha, revela, de um lado, a mão pesada de dona Rousseff e a sua tremenda falta de traquejo político; de outro, a arrogância de seu "primeiro-ministro", conhecido antes pela sua afabilidade com aqueles em quem reconhece atributos de poder. Mais tarde, Palocci telefonou para se desculpar, mas o estrago estava feito. Luiz Inácio da Silva decerto não deixaria as coisas chegar a tal ponto.

ELE sabe que a presidente Rousseff precisa do PMDB, não tivesse sido ele quem costurou com aquela sigla a aliança eleitoral pró-Rousseff - e, no embalo, acatou a demanda de Temer de ser o vice-presidente -, de olho tanto nas urnas quanto na governança. Ele acha também que Rousseff não pode passar sem Palocci Filho. Na mesma conversa com senadores petistas em que o comparou a Pelé, Luiz Inácio da Silva teria prognosticado que, desprovido do ministro Palocci Filho, o governo Rousseff (2011-14) "se arrastaria até o final do mandato". Está claro que foi por instigação de seu mentor que ela enfim veio a público "assegurar" que Palocci estava dando todas as explicações necessárias e atacar a Oposição por "politizar" o caso, citando a acusação peessedebista à Receita Federal do Brasil (RFB) de privilegiar uma empresa cliente d a consultoria de Palocci Filho, a empresa WTorre.

POR inadvertência ou cautela, porém definitivamente não a pedido de seu mentor, Rousseff se guardou de dizer que tinha "absoluta confiança" no ministro de Estado, como afirmou diante dos boatos - alegadamente insuflados por ele - de que o ministro de Estado da Fazenda, Guido Mantega (PT-SP), estava com os dias contados no governo. Faz parte das aptidões dos políticos profissionais prestar atenção não só no que diz um governante, como também no que omite. É verdade que o PMDB parece ter se desvinculado de qualquer tentativa de inquirição parlamentar do ministro Palocci Filho que foi de excepcional rudeza com o seu dirigente, mas, como diria Rousseff (quando perguntada se manteria suspensas as multas aos desflorestadores), "o futuro a Deus pertence".

E O futuro continua carregado para Palocci Filho. O Ministério Público Federal (MPF) em Brasília (DF) abril uma investigação, na esfera cível, para averiguar se os valores faturados pela empresa Projeto Consultoria Ltda, a empresa aberta em 2006 pelo então deputado federal Antonio Palocci Filho, são compatíveis com os serviços prestados por ele.