Paralisia de calouros
BEM nos meses estreantes de governo (2011-14), a presidente da República, Dilma Wana Rousseff (PT-RS) era aplaudida por duas características que representavam um bem-vindo contraste com o estilo de seu mentor Luiz Inácio da Silva (PT-SP). Para os ouvidos fartos da verborragia do então presidente da Republica e para as vistas cansadas das suas incessantes aparições, a economia de palavras e a concentração da sucessora nos seus afazeres foram recebidas com um misto de alívio e otimismo. Assim também os relatos do exame minucioso que dedicava aos assuntos de sua alçada e do rigor com que cobrava da equipe a correção das lacunas ou imperfeições identificadas nos documentos que pousavam na sua mesa de trabalho - a antítese da aversão de Luiz Inácio da Silva pelos textos levados à sua leitura que excedessem um par de páginas.
PORÉM, a política é impiedosa. Bastaram os primeiros sintomas de incerteza nas decisões do governo (sobre o reconhecimento de que a inflação começara a voltar e a escolha dos instrumentos para contê-la, por exemplo) e as primeiras rusgas com a balofa base parlamentar governista (sobre cargos e verbas, como sempre) para que as avaliações da conduta presidencial passassem a produzir conclusões diferentes. As suas aparentes virtudes seriam, na realidade, limitações. Se ela fala pouco, é porque, além da inaptidão para se expressar em público, pouco tem a dizer. Se ela dedica tempo e energia a perscrutar com lupa os calhamaços da administração, é porque padece do vício do detalhismo e do gosto tecnocrático pela microgestão, em detrimento do diálogo com as suas forças no Congresso Nacional. Foi em meio a essa mudança de louvores para reparos que dona Rousseff sofreu dois golpes.
PRIMEIRO, a pneumonia que não só a obrigou a se recolher ao Palácio da Alvorada, a sua residência oficial, e a reduzir o ritmo de sua atividade, como evidenciou, com o passar do tempo, que sua assessoria de Imprensa e Comunicação Social mentiu sobre a gravidade da doença que a acometeu. O segundo golpe, naturalmente, foi a revelação do enriquecimento, em meros 4 anos, do principal coordenador de sua vitoriosa campanha eleitoral em 2010, o então deputado federal, Antonio Palocci Filho (PT-SP), que dona Rousseff promoveu a personagem central do governo, como ministro-chefe da Casa Civil da Presidência da República e seu interlocutor com as elites nacionais. O silêncio - só na última Quinta-feira, 26, rompido - e a aparente inexistência de qualquer iniciativa da presidente da República em face do escândalo deram azo a uma fuzilaria de críticas: procedentes, as da opinião pública; oportunistas, as dos políticos da base aliada, descontentes com o pouco-caso de Rousseff e Palocci Filho.
O COMANDO da base vinha bloqueando, até por meios truculentos, as tentativas da Oposição de convidar o ministro de Estado a se explicar. Mas o confronto entre a presidente da República e o Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) a propósito da vitoriosa emenda ao projeto do Código Florestal, que anistia os cultivos feitos até 2008 em áreas de proteção permanente, instalou um clima de mala sangre entre o governo e sua base parlamentar de que a Oposição, sobretudo no Senado Federal, poderia tirar proveito para trazer Palocci Filho às falas, no âmbito de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI). Não se sabe se a presidente da República e o ministro de Estado já tinham se dado conta da erosão do seu patrimônio político no Congresso Nacional - e, em caso positivo, o que pretendiam fazer para recuperá-lo. O fato é que, com a sua proverbial intuição, o ex-presidente da República, Luiz Inácio da Silva, se abalou a Brasília (DF) e chamou a si o controle da crise. O resultado de sua intervenção é incerto, mas, com a sua entrada em cena, a presidente Rousseff foi "ultrapassada", como se diz na caserna quando um comandante tem diminuída a sua autoridade.
SOB a batuta lullista, que a instou a "abrir mais" o seu governo, dona Rousseff marcou sucessivos encontros com políticos petistas e aliados. Ao mesmo tempo, para dissuadir as bancadas religiosas na Câmara dos Deputados de abandonar Palocci Filho à própria sorte, mandou para o arquivo morto o polêmico kit anti-homofobia - uma cartilha e cinco vídeos que o Ministério da Educação (MEC) pretendia distribuir nas escolas públicas do Ensino Médio a pretexto de promover a tolerância entre os estudantes. Decerto ainda é pouco para aplacar a irritação dos políticos, a julgar pela pilha de reclamações que deixaram com Luiz Inácio da Silva sobre a "indiferença" de Rousseff e a "arrogância" de Palocci Filho. Guiada pelo antecessor, Rousseff tem o telefone e a caneta para ir ajeitando as coisas. Mas Palocci Filho continua tendo de fazer o que até agora evitou: dar satisfações dos seus negócios. Do contrário, também será ultrapassado.
PORÉM, a política é impiedosa. Bastaram os primeiros sintomas de incerteza nas decisões do governo (sobre o reconhecimento de que a inflação começara a voltar e a escolha dos instrumentos para contê-la, por exemplo) e as primeiras rusgas com a balofa base parlamentar governista (sobre cargos e verbas, como sempre) para que as avaliações da conduta presidencial passassem a produzir conclusões diferentes. As suas aparentes virtudes seriam, na realidade, limitações. Se ela fala pouco, é porque, além da inaptidão para se expressar em público, pouco tem a dizer. Se ela dedica tempo e energia a perscrutar com lupa os calhamaços da administração, é porque padece do vício do detalhismo e do gosto tecnocrático pela microgestão, em detrimento do diálogo com as suas forças no Congresso Nacional. Foi em meio a essa mudança de louvores para reparos que dona Rousseff sofreu dois golpes.
PRIMEIRO, a pneumonia que não só a obrigou a se recolher ao Palácio da Alvorada, a sua residência oficial, e a reduzir o ritmo de sua atividade, como evidenciou, com o passar do tempo, que sua assessoria de Imprensa e Comunicação Social mentiu sobre a gravidade da doença que a acometeu. O segundo golpe, naturalmente, foi a revelação do enriquecimento, em meros 4 anos, do principal coordenador de sua vitoriosa campanha eleitoral em 2010, o então deputado federal, Antonio Palocci Filho (PT-SP), que dona Rousseff promoveu a personagem central do governo, como ministro-chefe da Casa Civil da Presidência da República e seu interlocutor com as elites nacionais. O silêncio - só na última Quinta-feira, 26, rompido - e a aparente inexistência de qualquer iniciativa da presidente da República em face do escândalo deram azo a uma fuzilaria de críticas: procedentes, as da opinião pública; oportunistas, as dos políticos da base aliada, descontentes com o pouco-caso de Rousseff e Palocci Filho.
O COMANDO da base vinha bloqueando, até por meios truculentos, as tentativas da Oposição de convidar o ministro de Estado a se explicar. Mas o confronto entre a presidente da República e o Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) a propósito da vitoriosa emenda ao projeto do Código Florestal, que anistia os cultivos feitos até 2008 em áreas de proteção permanente, instalou um clima de mala sangre entre o governo e sua base parlamentar de que a Oposição, sobretudo no Senado Federal, poderia tirar proveito para trazer Palocci Filho às falas, no âmbito de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI). Não se sabe se a presidente da República e o ministro de Estado já tinham se dado conta da erosão do seu patrimônio político no Congresso Nacional - e, em caso positivo, o que pretendiam fazer para recuperá-lo. O fato é que, com a sua proverbial intuição, o ex-presidente da República, Luiz Inácio da Silva, se abalou a Brasília (DF) e chamou a si o controle da crise. O resultado de sua intervenção é incerto, mas, com a sua entrada em cena, a presidente Rousseff foi "ultrapassada", como se diz na caserna quando um comandante tem diminuída a sua autoridade.
SOB a batuta lullista, que a instou a "abrir mais" o seu governo, dona Rousseff marcou sucessivos encontros com políticos petistas e aliados. Ao mesmo tempo, para dissuadir as bancadas religiosas na Câmara dos Deputados de abandonar Palocci Filho à própria sorte, mandou para o arquivo morto o polêmico kit anti-homofobia - uma cartilha e cinco vídeos que o Ministério da Educação (MEC) pretendia distribuir nas escolas públicas do Ensino Médio a pretexto de promover a tolerância entre os estudantes. Decerto ainda é pouco para aplacar a irritação dos políticos, a julgar pela pilha de reclamações que deixaram com Luiz Inácio da Silva sobre a "indiferença" de Rousseff e a "arrogância" de Palocci Filho. Guiada pelo antecessor, Rousseff tem o telefone e a caneta para ir ajeitando as coisas. Mas Palocci Filho continua tendo de fazer o que até agora evitou: dar satisfações dos seus negócios. Do contrário, também será ultrapassado.
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