O “estoriadô” bode velho!
MUSOLEU ao mandonismo, ao fisiologismo, ao compadrio, ao nepotismo, ao tráfico de influência - a tudo, enfim, o que de pior existe na política brasileira -, o presidente do Senado Federal e presidente da República (1985-90), o senador José (de Ribamar) Sarney (PMDB-AP), resolveu reescrever a História do Brasil, menosprezando a opinião pública e depreciando um dos mais edificantes momentos de mobilização cívica que a Nação viveu nos últimos tempos. Para Zé Sarney, o afastamento de Fernando Collor de Mello da Presidência da República, em 1992, "não é marcante", pois se trata de "apenas um acidente que não devia ter acontecido na História do Brasil". O impeachment do presidente da República "caçador de marajás" na verdade não chegou a acontecer como decisão do Congresso Nacional. Formalmente, Collor de Mello renunciou à Presidência da República. Mas só o fez porque a cassação de seu mandato se tornara inevitável como resultado do processo de impeachment provocado pelas denúncias de corrupção em seu governo (1990-92). O Poder Legislativo teve, portanto, papel decisivo na renúncia.
MESMO assim, esse episódio foi banido da galeria de eventos históricos do Congresso Nacional, reinaugurada na última Terça-feira, 31, por Sarney no "túnel do tempo", o amplo corredor que liga os gabinetes dos senadores ao plenário do Senado Federal. No dia seguinte Sarney recuou, determinando a reinclusão do episódio na galeria. Mas nada apaga o despautério da véspera.
DIANTE da perplexidade geral causada pela omissão, Sarney ordenara à Secretaria de Comunicação Social do Senado Federal, em nota oficial, botar a culpa nos historiadores: "A partir da Constituição de 1988, a opção dos historiadores foi destacar os fatos marcantes da atividade legislativa. O foco da exposição é mostrar a produção legislativa do Congresso Nacional. A discussão e aprovação das leis é a essência do que faz o Parlamento como poder republicano". Sarney reinterpretava a seu modo a Constituição Federal do Brasil (CFB), que atribui ao Poder Legislativo também a responsabilidade pela fiscalização dos atos do Poder Executivo. Para Zé, essa responsabilidade é secundária. Caso contrário não teria acatado - para depois voltar atrás - o critério dos "historiadores". Que foram generosos na valorização do papel do próprio Sarney em episódios como o da aprovação do projeto que assegura tratamento gratuito aos portadores de AIDS.
CERTAMENTE no afã de fazer sua parte no conchavo que tornou o agora senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL) um de seus fiéis aliados, o experiente Zé Sarney, um dos principais fiadores políticos do governo petista, pisou em falso - como ele próprio parece ter percebido - ao depreciar publicamente o papel dos "Caras-pintadas" em 1992 – aqueles jovens que empolgaram a Nação com sua indignação contra os desmandos de um governo corrupto e acabaram provocando a renúncia do primeiro presidente da República eleito pelo povo na "Nova República". Vai ser difícil para aqueles jovens de 1992 ou para qualquer brasileiro imbuído de sentimento cívico e, por isso mesmo, orgulhoso da mobilização que levou à queda de Collor de Mello engolir a desfeita de Zé Sarney. Não foi à toa que o presidente do Senado Federal se apressou a dar o dito por não dito. Falseando a História para bajular Collor de Mello, Sarney correu o risco de acender o estopim de uma onda nacional de indignação - o que é tudo de que o governo Dilma Rousseff (2011-14) não precisa, estando em curso o escândalo Palocci Filho.
SEMPRE restará ao presidente do Senado Federal protestar inocência, atribuindo a falsificação da História a uma conspiração de seus adversários para "fragilizar as instituições". Durante os últimos anos, sob a presidência do senador maranhense e de seu irmão de fé, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), a administração do Senado Federal protagonizou escândalos capazes de fazer corar um monge de pedra.
CONTUDO Sarney tem a consciência tranquila, como revelou dias atrás, ao discursar na comemoração dos 185 anos do Senado Federal: "Identifico muito essa campanha contra o Senado Federal ao fato de ele ser uma casa forte, a quem o Brasil deve muito com relação a sua construção. Em um momento em que se procura fragilizar instituições no Brasil, ataca-se muito o Senado, porque aqui continuamos a ser uma fonte permanente de ajuda ao Brasil". De autoajuda, melhor diria, o bode velho oligarquia maranhense.
MESMO assim, esse episódio foi banido da galeria de eventos históricos do Congresso Nacional, reinaugurada na última Terça-feira, 31, por Sarney no "túnel do tempo", o amplo corredor que liga os gabinetes dos senadores ao plenário do Senado Federal. No dia seguinte Sarney recuou, determinando a reinclusão do episódio na galeria. Mas nada apaga o despautério da véspera.
DIANTE da perplexidade geral causada pela omissão, Sarney ordenara à Secretaria de Comunicação Social do Senado Federal, em nota oficial, botar a culpa nos historiadores: "A partir da Constituição de 1988, a opção dos historiadores foi destacar os fatos marcantes da atividade legislativa. O foco da exposição é mostrar a produção legislativa do Congresso Nacional. A discussão e aprovação das leis é a essência do que faz o Parlamento como poder republicano". Sarney reinterpretava a seu modo a Constituição Federal do Brasil (CFB), que atribui ao Poder Legislativo também a responsabilidade pela fiscalização dos atos do Poder Executivo. Para Zé, essa responsabilidade é secundária. Caso contrário não teria acatado - para depois voltar atrás - o critério dos "historiadores". Que foram generosos na valorização do papel do próprio Sarney em episódios como o da aprovação do projeto que assegura tratamento gratuito aos portadores de AIDS.
CERTAMENTE no afã de fazer sua parte no conchavo que tornou o agora senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL) um de seus fiéis aliados, o experiente Zé Sarney, um dos principais fiadores políticos do governo petista, pisou em falso - como ele próprio parece ter percebido - ao depreciar publicamente o papel dos "Caras-pintadas" em 1992 – aqueles jovens que empolgaram a Nação com sua indignação contra os desmandos de um governo corrupto e acabaram provocando a renúncia do primeiro presidente da República eleito pelo povo na "Nova República". Vai ser difícil para aqueles jovens de 1992 ou para qualquer brasileiro imbuído de sentimento cívico e, por isso mesmo, orgulhoso da mobilização que levou à queda de Collor de Mello engolir a desfeita de Zé Sarney. Não foi à toa que o presidente do Senado Federal se apressou a dar o dito por não dito. Falseando a História para bajular Collor de Mello, Sarney correu o risco de acender o estopim de uma onda nacional de indignação - o que é tudo de que o governo Dilma Rousseff (2011-14) não precisa, estando em curso o escândalo Palocci Filho.
SEMPRE restará ao presidente do Senado Federal protestar inocência, atribuindo a falsificação da História a uma conspiração de seus adversários para "fragilizar as instituições". Durante os últimos anos, sob a presidência do senador maranhense e de seu irmão de fé, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), a administração do Senado Federal protagonizou escândalos capazes de fazer corar um monge de pedra.
CONTUDO Sarney tem a consciência tranquila, como revelou dias atrás, ao discursar na comemoração dos 185 anos do Senado Federal: "Identifico muito essa campanha contra o Senado Federal ao fato de ele ser uma casa forte, a quem o Brasil deve muito com relação a sua construção. Em um momento em que se procura fragilizar instituições no Brasil, ataca-se muito o Senado, porque aqui continuamos a ser uma fonte permanente de ajuda ao Brasil". De autoajuda, melhor diria, o bode velho oligarquia maranhense.
<< Página inicial