Onde está a porta de saída?
O DINHEIRO do Programa Bolsa-Família hoje chega a 12,9 milhões de famílias com renda mensal per capita inferior a R$ 140. Em termos assistenciais o programa é uma história de sucesso. O número de famílias beneficiadas passou de 3,6 milhões em 2003 para 12,8 milhões em dezembro de 2010. O orçamento cresceu de R$ 3,4 bilhões para R$ 13,4 bilhões no ano passado. A grande pergunta, hoje, é a mesma formulada por muitos observadores nos primeiros anos dessa experiência: quantas famílias poderiam manter-se fora da miséria, se a transferência de renda fosse suspensa nos próximos meses, talvez no fim deste ano?
A MINISTRA de Estado do Desenvolvimento Social, Tereza Campello (PT-RS), tem mostrado preocupação com esse problema. É preciso, segundo ela, proporcionar aos beneficiários do programa condições para ascender economicamente por seu trabalho e para tornar-se independentes da ajuda governamental. Já existem linhas de microcrédito para as famílias assistidas, mas é necessário avançar.
O PLANO de Campello inclui, segundo informou à reportagem do Jornal VALOR ECONÔMICO, ações para estimular o desenvolvimento de atividades empresariais pelas pessoas de baixa renda. Investimentos em restaurantes, armazéns, salões de cabeleireiro e outras pequenas empresas de prestação de serviços poderiam criar oportunidades para mais famílias dispensarem a ajuda oficial. Seria possível, imagina-se, aproveitar os conhecimentos do Sebrae, a agência oficial com mais experiência no apoio a pequenos e microempresários.
A PREOCUPAÇÃO revelada por Campello já é altamente positiva. Mas a tarefa é um enorme desafio e para cumpri-la será preciso tratar com redobrado empenho o problema, há muito discutido, da porta de saída.
A EXPERIÊNCIA com o microcrédito, por exemplo, deu resultados modestíssimos até agora. O Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) tem convênio com o Banco do Nordeste do Brasil (BNB) para o fornecimento de microcrédito aos beneficiários do Programa Bolsa-Família. Mas o número de clientes dessa conta, cerca de 260 mil em 2010, corresponde a pouco mais de 2% dos beneficiários nordestinos com idade para receber empréstimos.
O ESTÍMULO à criação de negócios próprios pode contribuir para a ascensão de muitas famílias, mas obviamente não basta oferecer o dinheiro. Como também não basta oferecer apoio ao agricultor familiar. Essa expressão é enganadora e tem servido mais a propósitos políticos do que a uma estratégia de produção e de promoção social.
AGRICULTUROES familiares têm, de fato, um importante papel na oferta de alimentos, mas esses produtores são, em grande parte, integrados no agronegócio, eficientes na produção e voltados para o mercado. Eles necessitam de uma boa política agrícola, não de ações de tipo assistencial. Àqueles muito pobres o governo deve oferecer algo mais elementar - a oportunidade de realizar um trabalho produtivo, no campo ou fora dele.
FORMAÇÃO para o mercado de trabalho parece muito mais importante que o apoio à criação de micronegócios, embora valha a pena explorar também essa linha de ação. O MDS opera um Programa de Inclusão Produtiva (PIP) e mantém convênios para formação de trabalhadores. Em outubro, por exemplo, foram oferecidas no Estado da Bahia 400 vagas para treinamento de profissionais da construção civil.
MAS o próprio MDS tem sido discreto em relação a progressos nessa área. A ênfase de Campello ao propor avanços na criação de oportunidades profissionais parece confirmar a escassez de resultados. O então presidente da República, Luiz Inácio da Silva (PT-SP), participou de cerimônias de formatura de beneficiários do Programa Bolsa-Família. Mas o governo petista (2003-14) propagandeia muito mais a extensão da ajuda pecuniária do que a conquista da autonomia pelos assistidos. É importante ajudar as famílias pobres. Mas a efetiva redução da pobreza só ocorre quando os beneficiários conseguem com o próprio trabalho um padrão de vida tolerável. No entanto, o governo se esforçou muito mais para alargar a entrada dos cursos universitários - com resultados discutíveis - do que a porta de ingresso na vida produtiva.
A MINISTRA de Estado do Desenvolvimento Social, Tereza Campello (PT-RS), tem mostrado preocupação com esse problema. É preciso, segundo ela, proporcionar aos beneficiários do programa condições para ascender economicamente por seu trabalho e para tornar-se independentes da ajuda governamental. Já existem linhas de microcrédito para as famílias assistidas, mas é necessário avançar.
O PLANO de Campello inclui, segundo informou à reportagem do Jornal VALOR ECONÔMICO, ações para estimular o desenvolvimento de atividades empresariais pelas pessoas de baixa renda. Investimentos em restaurantes, armazéns, salões de cabeleireiro e outras pequenas empresas de prestação de serviços poderiam criar oportunidades para mais famílias dispensarem a ajuda oficial. Seria possível, imagina-se, aproveitar os conhecimentos do Sebrae, a agência oficial com mais experiência no apoio a pequenos e microempresários.
A PREOCUPAÇÃO revelada por Campello já é altamente positiva. Mas a tarefa é um enorme desafio e para cumpri-la será preciso tratar com redobrado empenho o problema, há muito discutido, da porta de saída.
A EXPERIÊNCIA com o microcrédito, por exemplo, deu resultados modestíssimos até agora. O Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) tem convênio com o Banco do Nordeste do Brasil (BNB) para o fornecimento de microcrédito aos beneficiários do Programa Bolsa-Família. Mas o número de clientes dessa conta, cerca de 260 mil em 2010, corresponde a pouco mais de 2% dos beneficiários nordestinos com idade para receber empréstimos.
O ESTÍMULO à criação de negócios próprios pode contribuir para a ascensão de muitas famílias, mas obviamente não basta oferecer o dinheiro. Como também não basta oferecer apoio ao agricultor familiar. Essa expressão é enganadora e tem servido mais a propósitos políticos do que a uma estratégia de produção e de promoção social.
AGRICULTUROES familiares têm, de fato, um importante papel na oferta de alimentos, mas esses produtores são, em grande parte, integrados no agronegócio, eficientes na produção e voltados para o mercado. Eles necessitam de uma boa política agrícola, não de ações de tipo assistencial. Àqueles muito pobres o governo deve oferecer algo mais elementar - a oportunidade de realizar um trabalho produtivo, no campo ou fora dele.
FORMAÇÃO para o mercado de trabalho parece muito mais importante que o apoio à criação de micronegócios, embora valha a pena explorar também essa linha de ação. O MDS opera um Programa de Inclusão Produtiva (PIP) e mantém convênios para formação de trabalhadores. Em outubro, por exemplo, foram oferecidas no Estado da Bahia 400 vagas para treinamento de profissionais da construção civil.
MAS o próprio MDS tem sido discreto em relação a progressos nessa área. A ênfase de Campello ao propor avanços na criação de oportunidades profissionais parece confirmar a escassez de resultados. O então presidente da República, Luiz Inácio da Silva (PT-SP), participou de cerimônias de formatura de beneficiários do Programa Bolsa-Família. Mas o governo petista (2003-14) propagandeia muito mais a extensão da ajuda pecuniária do que a conquista da autonomia pelos assistidos. É importante ajudar as famílias pobres. Mas a efetiva redução da pobreza só ocorre quando os beneficiários conseguem com o próprio trabalho um padrão de vida tolerável. No entanto, o governo se esforçou muito mais para alargar a entrada dos cursos universitários - com resultados discutíveis - do que a porta de ingresso na vida produtiva.
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