Construindo uma nova jornada de encontro com o eleitorado
EM seu discurso de estréia como líder oposicionista na tribuna do Senado Federal, o ex-governador do Estado de Minas Gerais, Aécio Neves da Cunha (PSDB-MG), que aspira a ser o candidato do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) na eleição presidencial em 2014, há de ter desapontado os que esperavam de sua fala, na última Quarta-feira, 06, um pronunciamento inaugural de campanha. Um chamado à batalha, capaz de devolver aos seus correligionários a confiança na sua aptidão para sacudir a maioria do eleitorado do estado de torpor crítico a que foi reduzida pelo carisma estelar do então presidente da República, Luiz Inácio da Silva (PT-SP).
DE FATO, a essa expectativa o senador mineiro não atendeu, não porque lhe faltem atributos de liderança ou uma percepção adequada do quadro político nacional, mas por saber que a hora, para a Oposição, ainda está longe de ser a de apresentar uma alternativa cabal à visão petista de poder e de País. Aécio Neves subiu à tribuna antes como quem ia depositar uma pedra fundamental do que descerrar uma obra política pronta. Nisso estava certo e disso se desincumbiu à altura de suas credenciais para o papel que a força das coisas lhe atribuiu - o de preparar os oposicionistas para a travessia da desorientação programática e dos desgastes paroquiais à descoberta de uma voz e de uma sintaxe política que façam sentido.
TAMBÉM, sim, Aécio Neves apresentou um elenco de propostas tópicas de gestão da coisa política, divisão de responsabilidades, recursos e competências entre os entes federativos - o que não é de pouca monta para as finanças estaduais e municipais em apuros - e de incentivos às micro e pequenas empresas, cujo potencial para o dinamismo econômico é mais reconhecido no papel do que promovido na prática. Mas o forte da sua alocução foi a contestação do caricato retrato lullista do Brasil. "Ao contrário do que alguns nos querem fazer crer", apontou, "o País não nasceu ontem”. Ademais, "o Brasil precisa de um choque de realidade porque o Brasil cor-de-rosa vendido competentemente pela propaganda política não se confirma na realidade".
O SENADOR Aécio Neves disse o que de há muito precisava ser dito e que a campanha presidencial oposicionista em 2010 evitou dizer. Se o tivesse feito, ainda que o desfecho da disputa fosse o mesmo, o PSDB e o ex-governador do Estado de São Paulo, e então candidato presidencial, José Serra (PSDB-SP), em particular não teriam acrescentado à derrota eleitoral a ainda mais grave debacle política. Os oposicionistas bem que poderiam despertar o eleitorado para uma regra geral, enunciada agora por Aécio Neves, cujas consequências adversas estão ao alcance da mão: "Sempre que precisou escolher entre os interesses do Brasil e a conveniência do partido, o PT escolheu o PT".
ENTÃO, pode-se discutir se o tom utilizado por Aécio Neves devia ou não ser mais agressivo. É aspecto secundário. Em primeiro lugar, a Oposição não precisa de um Luiz Inácio da Silva para se contrapor ao produto original. Segundo, partir para a estridência seria um favor que peessedebistas, demistas e pepeessistas lhe fariam, como a dar razão à sua teoria da conspiração das elites contra um governante que fez do progresso social a sua prioridade. Por último, a sociedade brasileira está madura para um líder que não confunde "adversário com inimigo", nem "o direito à defesa e ao contraditório com complacência ou compadrio", como Aécio Neves se situou. Desde que, é claro, tenha consistência.
NESSE andamento, o senador mineiro pode ao mesmo tempo lembrar que o Partido dos Trabalhadores (PT) se opôs a avanços extraordinários como o Plano Real (1994), a Lei de Responsabilidade Fiscal (2000) e os programas de transferência de renda (Bolsa-Escola e Vale-Gás) que deram origem ao Programa Bolsa-Família e reconhecer que "a manutenção dos fundamentos da política econômica implantada pelos governos anteriores é o primeiro e mais importante mérito" do governo Luiz Inácio da Silva (2003-10). Ou prever que o futuro considerará os governos Itamar Franco (1992-94), Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) e Luiz Inácio da Silva, um só período da história nacional e denunciar "a farra da gastança descontrolada, em especial do ano eleitoral", que faz renascer a doença da inflação.
AÉCIO Neves se guardou de avaliar os 100 dias iniciais do governo Dilma Rousseff (2011-14) e, embora elogiasse o seu esforço de impor personalidade própria ao governo, denunciou não haver ruptura entre o velho e o novo, "mas o continuísmo das graves contradições dos últimos anos". A partir dessa constatação, a Oposição pode construir a sua jornada para se reencontrar com o eleitorado.
DE FATO, a essa expectativa o senador mineiro não atendeu, não porque lhe faltem atributos de liderança ou uma percepção adequada do quadro político nacional, mas por saber que a hora, para a Oposição, ainda está longe de ser a de apresentar uma alternativa cabal à visão petista de poder e de País. Aécio Neves subiu à tribuna antes como quem ia depositar uma pedra fundamental do que descerrar uma obra política pronta. Nisso estava certo e disso se desincumbiu à altura de suas credenciais para o papel que a força das coisas lhe atribuiu - o de preparar os oposicionistas para a travessia da desorientação programática e dos desgastes paroquiais à descoberta de uma voz e de uma sintaxe política que façam sentido.
TAMBÉM, sim, Aécio Neves apresentou um elenco de propostas tópicas de gestão da coisa política, divisão de responsabilidades, recursos e competências entre os entes federativos - o que não é de pouca monta para as finanças estaduais e municipais em apuros - e de incentivos às micro e pequenas empresas, cujo potencial para o dinamismo econômico é mais reconhecido no papel do que promovido na prática. Mas o forte da sua alocução foi a contestação do caricato retrato lullista do Brasil. "Ao contrário do que alguns nos querem fazer crer", apontou, "o País não nasceu ontem”. Ademais, "o Brasil precisa de um choque de realidade porque o Brasil cor-de-rosa vendido competentemente pela propaganda política não se confirma na realidade".
O SENADOR Aécio Neves disse o que de há muito precisava ser dito e que a campanha presidencial oposicionista em 2010 evitou dizer. Se o tivesse feito, ainda que o desfecho da disputa fosse o mesmo, o PSDB e o ex-governador do Estado de São Paulo, e então candidato presidencial, José Serra (PSDB-SP), em particular não teriam acrescentado à derrota eleitoral a ainda mais grave debacle política. Os oposicionistas bem que poderiam despertar o eleitorado para uma regra geral, enunciada agora por Aécio Neves, cujas consequências adversas estão ao alcance da mão: "Sempre que precisou escolher entre os interesses do Brasil e a conveniência do partido, o PT escolheu o PT".
ENTÃO, pode-se discutir se o tom utilizado por Aécio Neves devia ou não ser mais agressivo. É aspecto secundário. Em primeiro lugar, a Oposição não precisa de um Luiz Inácio da Silva para se contrapor ao produto original. Segundo, partir para a estridência seria um favor que peessedebistas, demistas e pepeessistas lhe fariam, como a dar razão à sua teoria da conspiração das elites contra um governante que fez do progresso social a sua prioridade. Por último, a sociedade brasileira está madura para um líder que não confunde "adversário com inimigo", nem "o direito à defesa e ao contraditório com complacência ou compadrio", como Aécio Neves se situou. Desde que, é claro, tenha consistência.
NESSE andamento, o senador mineiro pode ao mesmo tempo lembrar que o Partido dos Trabalhadores (PT) se opôs a avanços extraordinários como o Plano Real (1994), a Lei de Responsabilidade Fiscal (2000) e os programas de transferência de renda (Bolsa-Escola e Vale-Gás) que deram origem ao Programa Bolsa-Família e reconhecer que "a manutenção dos fundamentos da política econômica implantada pelos governos anteriores é o primeiro e mais importante mérito" do governo Luiz Inácio da Silva (2003-10). Ou prever que o futuro considerará os governos Itamar Franco (1992-94), Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) e Luiz Inácio da Silva, um só período da história nacional e denunciar "a farra da gastança descontrolada, em especial do ano eleitoral", que faz renascer a doença da inflação.
AÉCIO Neves se guardou de avaliar os 100 dias iniciais do governo Dilma Rousseff (2011-14) e, embora elogiasse o seu esforço de impor personalidade própria ao governo, denunciou não haver ruptura entre o velho e o novo, "mas o continuísmo das graves contradições dos últimos anos". A partir dessa constatação, a Oposição pode construir a sua jornada para se reencontrar com o eleitorado.
<< Página inicial