Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

terça-feira, março 22, 2011

Na rabeira do conhecimento universal

NOSSAS universidades continuam fora das primeiras 200 posições nos rankings internacionais mundo afora. Há várias entidades internacionalmente respeitadas que fazem anualmente rigorosas avaliações comparativas do setor e, nelas, nem mesmo a Universidade de São Paulo (USP) - a maior e mais importante universidade brasileira - aparece em posição de destaque.

NESTE ranking mais recente, elaborado pela organização inglesa Times Higher Education, a nossa USP ocupa apenas a 232.ª posição. A pesquisa foi feita com mais de 13 mil professores de 131 países, que destacaram os pontos fortes de suas respectivas universidades. Em termos de desempenho escolar, de produtividade científica e de reputação acadêmica, a liderança ficou com a norte-americana Universidade Harvard, que obteve a pontuação máxima em todos os itens da pesquisa, seguida pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e pela Universidade de Cambridge, ambas Instituições norte-americanas de Ensino Superior. Das 20 melhores universidades, 13 são norte-americanas, 4 são britânicas, 2 são japonesas e 1 é canadense.

ENTRE as universidades da América Latina (AL), a USP continua sendo a mais bem classificada. Contudo, no âmbito dos Brics - o bloco de economias emergentes, integrado pelo Brasil, Rússia, Índia e China - o Brasil é o único membro que não tem nenhuma universidade entre as cem melhores no ranking da Times Higher Education. Já a Rússia aparece em 33.º lugar, com a Universidade Lomonosov; a China, ocupa as 35.ª, 42.ª e 43.ª posições, com a Universidade de Tsinghua, a Universidade de Hong Kong e a Universidade de Pequim; e a Índia está em 91.º lugar, com o Instituto de Ciência de Bombaim.

NO Brasil, o Ensino Superior cresceu significativamente nas duas últimas décadas para acolher o crescente número de formandos do ensino médio. No entanto, a maioria tem bibliotecas universitárias desatualizadas e laboratórios de ensino defasados. O nível médio de preparo e informação do corpo discente também é baixo e a maioria das universidades do País adota critérios lenientes de avaliação. Elas permitem que alunos reprovados façam provas de reavaliação. E, se forem reprovados outra vez, ficam em "dependência" - com isso, não perdem o semestre.

ADEMAIS, os trabalhos de conclusão de Curso de Graduação - os TCCs, no jargão acadêmico - estão se convertendo em compilações de artigos extraídos da internet. Como os professores não cobram nem rigor metodológico nem um mínimo de originalidade, os alunos não se sentem estimulados a fazer pesquisa. Nas cem melhores universidades mundiais, alunos reprovados num exame não têm direito a nova oportunidade - perdem o ano e, em alguns casos, não podem continuar estudando na Instituição.

PARA os especialistas, se quiser classificar pelo menos uma instituição de Ensino Superior num ranking com as 200 melhores universidades mundiais, o Brasil terá de adotar uma estratégia com quatro objetivos. O primeiro é aumentar o intercâmbio de alunos e professores, para internacionalizar a universidade brasileira. O segundo é ampliar o número de trabalhos de docentes e cientistas brasileiros publicados nas mais prestigiosas revistas acadêmicas e científicas mundiais. O terceiro objetivo é dar plena autonomia às instituições, permitindo-lhes abrir novos cursos sem depender de autorização governamental e libertá-las da ditadura do chamado "currículo mínimo". O quarto objetivo é estimular a formação de universidades de elites, que formam os docentes para lecionar nas demais instituições e conduzir pesquisas de ponta.

NOS últimos anos, corporações e partidos políticos pressionaram as universidades brasileiras a democratizar seus órgãos colegiados e o Ministério da Educação (MEC) chegou a patrocinar um projeto com esse propósito, entre 2003 e 2005. A questão, porém, não é política, mas pedagógica - e, quanto mais eficiente e produtiva for a Universidade brasileira, melhor para a sociedade brasileira.

SEGUNDO estes mesmos especialistas, uma política voltada à consecução desses quatro objetivos demora de dois a três anos para dar resultados. Na prática, isso significa que tão cedo as universidades brasileiras não subirão de posição nos rankings mundiais de reputação acadêmica.