Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

segunda-feira, março 21, 2011

De falatórios e nhémnhémnhéns!

RIO DE JANEIRO (RJ) - É FATO que existem argumentos melhores para considerar importante a vinda do presidente da República dos Estados Unidos da América (EUA), Barack Houssein Obama, ao Brasil neste último fim de semana - escala inicial de uma viagem que o levará hoje ao Chile e depois a El Salvador, mas não à Argentina - do que lembrar que pela primeira vez um chefe do governo norte-americano visitou este grande e bobo País antes que o seu homólogo em Brasília (DF) tenha ido aos EUA. Ou do que atribuir um significado histórico ao encontro entre eles, por serem, um, o primeiro negro a chegar ao cargo político mais importante e poderoso do universo, e, outra, a primeira mulher a sentar praça na chefia do governo e do Estado brasileiro. Parece mais apropriado afirmar que o dia em que uma visita do gênero não for importante por si mesma, quaisquer que sejam os líderes dos dois países, o mundo terá se tornado irreconhecível.

DE QUALQUER forma, melhor para as relações bilaterais que esses líderes sejam os de hoje e não os que os precederam, apesar da celebrada e, afinal, irrelevante química pessoal entre o ex-presidente da República dos EUA, George W. Bush, e o ex-presidente da República do Brasil, Luiz Inácio da Silva. E muito embora Obama certa vez tenha apresentado jovialmente o brasileiro a outros dignitários como "o cara", enquanto o segurava pelo braço, o cerebral ex-professor de direito em Harvard e o intuitivo ex-sindicalista não poderiam mesmo forjar vínculos que detivessem, no que disso dependesse, a radicalização antiamericana da política externa do lullopetismo no poder. Numa perspectiva mais ampla, por fim, ninguém em seu juízo perfeito dirá que tanto faz para a política global que a voz do Estado norte-americano seja a de um político democrata ilustrado e de mente aberta e não mais a de um rústico político republicano supremacista. Isso conta também para o Brasil.

UM dos princípios que orientam, não de agora, a diplomacia brasileira é a defesa do multilateral ismo nas relações internacionais. Assim como a defesa de soluções pacíficas e negociadas para os conflitos entre os países e a redução das desigualdades em escala global, aquela é uma premissa que não precisa ser explicada para um chefe de governo como Barack Obama, sejam quais forem as contingências que o impeçam de dar curso às medidas indispensáveis que conduzam a tais objetivos. Mas a convergência pelo menos conceitual a esse respeito entre ele e a presidente da República Federativa do Brasil, Dilma Wana Rousseff (PT-RS), decerto constitui uma base segura para revigorar o entendimento brasileiro-norte-americano. Este esteve prejudicado, de uma parte, pelo belicismo da era W. Bush e, de outra, pelo aventureirismo da política externa forjada pelo lullopetismo (2003-10), pronta a pagar qualquer preço pelo que os seus condutores imaginavam ser a aquisição de um papel de liderança no concerto mundial.

TAL meta não mudou nem o governo Rousseff (2011-14) deixará de buscar, como encarnação dessa conquista, um assento permanente no Conselho de Segurança (CS) da Organização das Nações Unidas (ONU), mediante reforma do sistema de poder no organismo que passe a refletir as novas realidades globais, transcorrido mais de meio século de sua constituição. Ainda que as chances da pretendida mudança continuem rarefeitas, o Brasil forma com a Alemanha, o Japão e a Índia o grupo que a demanda mais ativamente. No fim do ano passado, numa visita a Nova Délhi, Barack Obama defendeu com ênfase a inclusão da Índia no colegiado, com status igual ao dos EUA, a Rússia, a China, o Reino Unido da Grã-Bretanha e a França, os sócios fundadores do clube nuclear a que a Índia e o Paquistão se filiaram enquanto o Ocidente e a antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) fingiam olhar para o outro lado.

SENDO o que são os interesses em jogo na esfera global, seria ilusório pretender que o governo norte-americano queira ceder ao Brasil um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU tanto quanto o quer ceder à Índia e ao Japão. Mas o ex-presidente Luiz Inácio da Silva não precisava ter reforçado o viés antiamericano, no seu governo, ao votar, a troco de uma fantasia, contra a imposição de mais uma rodada de sanções ao governo do Irã por suas violações do Tratado de Não Proliferação Nuclear. Era duvidoso que, em Brasília, Obama endossasse a reivindicação brasileira, embora tenha tentado afagá-la com palavras bonitas. Enalteceu também, como todos os seus antecessores até onde a memória alcança, a importância do País no subcontinente - e além. Mas tão óbvio como isso é o fato de que nem a América Latina (AL) nem mesmo o Brasil são prioridade para o governo dos EUA neste presente momento histórico, apesar de todo o falatório sobre parcerias estratégicas. Bem pensadas as coisas, antes assim.