Com o bafo no cangote
EM entrevista à nossa reportagem e pressentindo a guinada dos ventos nas relações diplomáticas entre o Brasil e o Irã, o chanceler iraniano, Ali Akbar Salehi, disse que o seu governo ficará "muito decepcionado" se o Brasil mudar de posição na Organização das Nações Unidas (ONU) em relação ao Irã. Ele falava, naturalmente, do que poderá ser a nova atitude brasileira, na contramão da linha seguida durante o governo Luiz Inácio da Silva (2003-10), de condenar a teocracia iraniana por violações de direitos humanos e votar a favor de uma investigação internacional a respeito.
ISSO foi há 18 dias, quando se instalou em Genebra a 16.ª reunião ordinária do Conselho de Direitos Humanos da ONU, que deverá se pronunciar sobre as denúncias acerca do Irã no próximo dia 21. Mas Teerã já tem por que se decepcionar com o Brasil. No último dia 07, num gesto sem precedentes, a representação do País junto à sede europeia das Nações Unidas recebeu, em almoço, a iraniana que encarna mais do que ninguém a luta de seus concidadãos contra as violências a que os submete o regime do presidente da República Islâmico do Irã, Mahmoud Ahmadinejad - sobretudo desde os protestos desatados contra a fraude eleitoral com que se reelegeu em 2009.
TRATA-SE da dissidente exilada Shirin Ebadi, ganhadora do Prêmio Nobel da Paz de 2003. Com esse ato, evidentemente acertado entre a embaixadora do Brasil em Genebra, Maria Nazareth Farani Azevedo, e a cúpula do Itamaraty, o Brasil transpôs uma fronteira. O governo da presidente da República, Dilma Wana Rousseff (PT-RS), já não anuncia apenas por palavras que se dissociou da complacência do então presidente da República (2003-10), Luiz Inácio da Silva (PT-SP), diante das atrocidades praticadas pelos regimes despóticos com os quais se alinhou, numa tosca tentativa de desfilar o seu antiamericanismo pelo mundo afora, que, afinal, só serviu para envergonhar o Brasil.
COM o convite à ativista para um encontro amistoso, na presença, entre outros, do embaixador dos Estados Unidos da América (EUA) em Genebra, a diplomacia brasileira indicou, no mínimo, a disposição de se inteirar das expectativas da oposição iraniana quanto às pressões que a comunidade internacional deve exercer sobre o governo teocrata do Irã em defesa dos direitos elementares dos que ousam erguer a voz contra a tirania teocrática. Aos convidados, a embaixadora Nazareth disse que o Brasil "apoia" a posição de Ebadi. Ela reivindica a criação de uma comissão, no âmbito da ONU, para investigar as práticas brutais recorrentes em seu país e a adoção de sanções contra os envolvidos com a repressão.
SEMANAS atrás, quando as milícias leais ao ditador líbio, Muamar Kadafi, e os mercenários importados pelo regime recorreram pela primeira vez à selvageria para reprimir os protestos populares contra o tirano, o Brasil não só votou a favor das sanções contra a Líbia no Conselho de Segurança da ONU, mas trabalhou para que o país fosse suspenso do Conselho de Direitos Humanos do organismo internacional. O governo do Brasil estaria apenas sendo coerente com essa atitude se copatrocinasse o projeto de resolução para investigar o Irã. "Se o Brasil e a comunidade internacional não querem mais uma Líbia", diz Shirin Ebadi, "precisam começar a se mover imediatamente para promover um novo diálogo com Ahmadinejad, antes que ele siga o caminho de Kadafi".
APARENTEMENTE não falta muito. "Líderes da oposição são silenciados e torturados nas prisões. Somos o país com o maior número de jornalistas presos. Somos também o país com o maior número de menores detidos. A situação da mulher é uma calamidade", enumera a ativista iraniana. Deve piorar. Semana passada, com o afastamento do ex-presidente (1989-1997) Akbar Hashemi Rafsanjani da chefia do organismo conhecido como Assembleia dos Especialistas, que, entre outras atribuições, escolhe o líder supremo da República Islâmica do Irã, foi-se o último moderado na estrutura de poder da teocracia iraniana. Ele foi substituído por um radical.
PARA a diplomacia brasileira, o endurecimento do regime representa um desafio e uma oportunidade. O desafio, naturalmente, é o de responder à altura, na ONU, à deterioração do quadro iraniano. "O Brasil precisa nos apoiar enquanto houver massacres", ressaltou Ebadi ao Estado. E a oportunidade é a de mostrar que, efetivamente, "o Brasil começa a se redimir", como diz ela, "de ter apoiado tantos ditadores nos últimos anos".
ISSO foi há 18 dias, quando se instalou em Genebra a 16.ª reunião ordinária do Conselho de Direitos Humanos da ONU, que deverá se pronunciar sobre as denúncias acerca do Irã no próximo dia 21. Mas Teerã já tem por que se decepcionar com o Brasil. No último dia 07, num gesto sem precedentes, a representação do País junto à sede europeia das Nações Unidas recebeu, em almoço, a iraniana que encarna mais do que ninguém a luta de seus concidadãos contra as violências a que os submete o regime do presidente da República Islâmico do Irã, Mahmoud Ahmadinejad - sobretudo desde os protestos desatados contra a fraude eleitoral com que se reelegeu em 2009.
TRATA-SE da dissidente exilada Shirin Ebadi, ganhadora do Prêmio Nobel da Paz de 2003. Com esse ato, evidentemente acertado entre a embaixadora do Brasil em Genebra, Maria Nazareth Farani Azevedo, e a cúpula do Itamaraty, o Brasil transpôs uma fronteira. O governo da presidente da República, Dilma Wana Rousseff (PT-RS), já não anuncia apenas por palavras que se dissociou da complacência do então presidente da República (2003-10), Luiz Inácio da Silva (PT-SP), diante das atrocidades praticadas pelos regimes despóticos com os quais se alinhou, numa tosca tentativa de desfilar o seu antiamericanismo pelo mundo afora, que, afinal, só serviu para envergonhar o Brasil.
COM o convite à ativista para um encontro amistoso, na presença, entre outros, do embaixador dos Estados Unidos da América (EUA) em Genebra, a diplomacia brasileira indicou, no mínimo, a disposição de se inteirar das expectativas da oposição iraniana quanto às pressões que a comunidade internacional deve exercer sobre o governo teocrata do Irã em defesa dos direitos elementares dos que ousam erguer a voz contra a tirania teocrática. Aos convidados, a embaixadora Nazareth disse que o Brasil "apoia" a posição de Ebadi. Ela reivindica a criação de uma comissão, no âmbito da ONU, para investigar as práticas brutais recorrentes em seu país e a adoção de sanções contra os envolvidos com a repressão.
SEMANAS atrás, quando as milícias leais ao ditador líbio, Muamar Kadafi, e os mercenários importados pelo regime recorreram pela primeira vez à selvageria para reprimir os protestos populares contra o tirano, o Brasil não só votou a favor das sanções contra a Líbia no Conselho de Segurança da ONU, mas trabalhou para que o país fosse suspenso do Conselho de Direitos Humanos do organismo internacional. O governo do Brasil estaria apenas sendo coerente com essa atitude se copatrocinasse o projeto de resolução para investigar o Irã. "Se o Brasil e a comunidade internacional não querem mais uma Líbia", diz Shirin Ebadi, "precisam começar a se mover imediatamente para promover um novo diálogo com Ahmadinejad, antes que ele siga o caminho de Kadafi".
APARENTEMENTE não falta muito. "Líderes da oposição são silenciados e torturados nas prisões. Somos o país com o maior número de jornalistas presos. Somos também o país com o maior número de menores detidos. A situação da mulher é uma calamidade", enumera a ativista iraniana. Deve piorar. Semana passada, com o afastamento do ex-presidente (1989-1997) Akbar Hashemi Rafsanjani da chefia do organismo conhecido como Assembleia dos Especialistas, que, entre outras atribuições, escolhe o líder supremo da República Islâmica do Irã, foi-se o último moderado na estrutura de poder da teocracia iraniana. Ele foi substituído por um radical.
PARA a diplomacia brasileira, o endurecimento do regime representa um desafio e uma oportunidade. O desafio, naturalmente, é o de responder à altura, na ONU, à deterioração do quadro iraniano. "O Brasil precisa nos apoiar enquanto houver massacres", ressaltou Ebadi ao Estado. E a oportunidade é a de mostrar que, efetivamente, "o Brasil começa a se redimir", como diz ela, "de ter apoiado tantos ditadores nos últimos anos".
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