Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

terça-feira, outubro 12, 2010

Um confronto, afinal!

SÃO PAULO (SP) - ESTE último debate dos presidenciáveis, Dilma Rousseff (PT-RS) e José Serra (PSDB-SP), ocorrido no último Domingo, 10, na TV Bandeirantes, de longe foi o melhor debate até agora, sobretudo em termos técnicos. Os dois candidatos fizeram perguntas entre si, abordaram temas do momento, falaram com mais eloquência. Rousseff abriu com temperatura alta, dizendo-se caluniada pela campanha do adversário, e a partir dali os dois logo esquentaram as cordas vocais.

A EX-MINISTRA-chefe do Gabinete Civil da Presidência da República, Dilma Rousseff, pareceu um pouco mais tensa, o que o número de frases incompletas evidenciou. Sua insistência no tema da desestatização – sugerindo que Serra só não vendeu a companhia Petróleo do Brasil S/A (Petrobras) porque não deixaram – foi estratégica, mas não sei até que ponto o eleitor é levado por isso. Serra se saiu bem, dizendo que o Brasil de Rousseff seria o Brasil “do orelhão”, porque sem a desestatização do setor das telecomunicações no governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) quase ninguém teria acesso ao telefone fixo e muito menos ao telefone móvel (celular) no País hoje (o mercado beira a 200 milhões de aparelhos em operação), e lembrando operações do Banco do Brasil (BB) e vendas de bancos estaduais pelo governo Luiz Inácio da Silva (2003-10).

SERRA teve mais momentos relaxados e falou sobre os medicamentos genéricos, a criação de uma guarda de fronteira, o escândalo “Erenice Guerra” (a seguidora e sucessora de Rousseff no Gabinete Civil da Presidência da República, que deixou no mês passado o governo por suspeitas de trafico de influência). Sua principal linha foi dizer que o Partido dos Trabalhadores (PT) tem duas caras, que fala uma coisa e faz outra. Mas também foi acuado. Rousseff esperou, por exemplo, o fim de um bloco para mencionar um assessor de Serra que teria fugido com dinheiro da campanha. Disse que ele tinha regulamentado a lei do aborto; ele explicou que apenas normatizou a permissão de 1940 para casos de risco de morte da mãe e estupro, mas não sei se ficou claro para o espectador. Ela também perguntou várias vezes quantos processos de desestatização ele comandou no governo Fernando Henrique Cardoso, o que ele respondeu pontualmente.

ROUSSEFF partiu para o ataque a Serra no debate da TV Bandeirantes principalmente para recuperar o ânimo da militância petista, abatido pela não confirmação de vitória no primeiro turno das eleições presidenciais. O objetivo ficou evidente pela utilização de muitos trechos do debate durante o programa eleitoral da petista na última Segunda-feira, 11.

CONTUDO a nova atitude de Rousseff marca outra diferença, mais sutil. Ela deixou de se comportar como quem, na definição do vosso guia Luiz Inácio da Silva, estava ganhando de 2 a 0 e só precisava esperar o jogo acabar. O partir para o ataque é sinal de que os petistas mudaram seu cenário eleitoral. Trabalham agora como se a eleição estivesse aberta, sem favoritos, e que, portanto, precisa ser ganha. Eles estão certos nisso: a eleição está indefinida. A vantagem aparente da candidata governista apurada pelo Instituto Datafolha é uma garantia menor de vitória do que era sua margem no primeiro turno. Ou seja, não é garantia nenhuma.

ADEMAIS, os petistas parecem estar convencidos de que sua candidata foi bem no debate. Ao ponto de confirmar a presença de Rousseff no próximo confronto com Serra, marcado para o próximo Domingo, 17, na RedeTV!. Resta saber se os eleitores concordam com essa avaliação.

NESSE balanço, a meu ver, Serra se saiu um pouco melhor, mas duvido que isso implique um número alto de mudança de votos. Como cidadão, senti falta de muitos temas, já que houve muita repetição de alguns envelhecidos.