Prudência e caldo de galinha
E SE aplica à presente eleição, na qual os institutos de pesquisa foram alçados à condição de vilões por errarem previsões defendidas com uma convicção, por vezes, até intimidatória: prudência e caldo de galinha não faz mal a ninguém.
O QUE esperamos de um instituto de pesquisa, sobretudo dada a importância que adquiriu no processo eleitoral – em que passou de mero aferidor a indutor de tendências -, é que se posicione com neutralidade técnica perante candidatos e campanhas.
E NISSO reside o que um instituto tem de mais caro – a credibilidade. Funciona como uma vacina que imuniza contra os efeitos de eventuais erros.
O INSTITUTO Brasileiros de Opinião e Pesquisas Estatísticas (Ibope) e o Instituto Vox Populi , este mais que aquele, comprometeram essa credibilidade em momentos distintos dessa campanha eleitoral no primeiro turno das eleições em 03 de Outubro. Por isso, os erros verificados então provocaram tantas reações de revolta por parte de candidatos – vitoriosos e derrotados.
LÁ ATRÁS na largada, Augusto Montenegro, diretor-presidente do Ibope, repetiu em entrevistas a inúmeros veículos da Imprensa como um mantra que a candidata governista à Presidência da República, Dilma Wana Rousseff (PT-RS), não tinha a menor chance de vencer a disputa.
E QUANDA a candidatura Rousseff alcançou os 20%, Montenegro decretou o fim da capacidade de transferência de votos do populismo lullista para a sua escolhida.
DEPOIS, quando já se admitia como tendência a vitória da candidata petista no primeiro turno, em 03 de Outubro, Montenegro desculpou-se publicamente e ficou tudo por isso mesmo.
CONTUDO, mais grave foi o sociólogo Marcos Coimbra, diretor-fundador do mineiro Instituto Vox Populi. Não só garantiu a vitória de Rousseff em 03 de Outubro, em cima de números colhidos pelo instituto, que mais tarde se mostraram errados, como tripudiou de todos nós jornalistas que ousamos questionar suas previsões.
AINDA arrematou em artigo publicado pela Revista Carta Capital (publicação semanal declaradamente apoiadora do lullismo e da candidata governista), chamou-nos de “jornalistas tucanos, ineptos, autores de uma sucessão de análises erradas, hipóteses furadas, teses sem pé nem cabeça. Todas inventadas para justificar o favoritismo de Serra, que só existia no desejo de quem as elaborava”.
DOUTOR Coimbra – que criou seu instituto havia duas décadas para impulsionar a candidatura de seu cunhado, Fernando Collor de Mello (aquelle) na corrida presidencial de 1989, distorceu os fatos: ninguém achava o ex-governador de São Paulo, José Serra (PSDB-SP), favorito, mas questionava o favoritismo de dona Rousseff para vencer já no primeiro turno, algo que seu instituto garantiu ao seu maior cliente atual, o Partido dos Trabalhadores (PT), e não aconteceu.
E FOI além: “Se não fossem tão ineptas, essas pessoas poderiam, talvez, ter impulsionado as oposições na direção de projetos menos equivocados. Se não fossem tão arrogantes, teriam, quem sabe, poupado seus amigos políticos do fracasso inevitável que os espera”. A semelhança entre o texto de Coimbra e o ataque do vosso guia, Luiz Inácio da Silva, à imprensa, exatamente nos mesmos termos, não é mera coincidência: o dono do Instituto Vox Populi, que previu a vitória de Rousseff no primeiro turno com 57% dos votos, reproduzia o pensamento de seu cliente.
O SOCIÓLOGO Coimbra também condenou candidatos e Imprensa por revelarem escândalos administrativos no âmbito do governo. Estranho seria se, diante de tais fatos, nada se dissesse, como se as urnas lhe impusessem uma cortina de silêncio. Não lhe cabe tal papel, como titular de uma instituição cuja tarefa equivale à de um termômetro: medir a temperatura da campanha, sem pretender influir sobre ela.
ESSE fato se agrava quando se sabe que seu instituto de pesquisas mantém contrato com o comitê de campanha do PT, o que o coloca em situação no mínimo ambígua: de um lado, promove pesquisas independentes, de divulgação pública, registradas na Justiça Eleitoral, que lhes dá o selo de isenção; de outro, presta serviços a um dos partidos e o defende em artigos nos jornais Estado de Minas e Correio Brasiliense (Diários Associados) e dos quais é colunista, e na Revista Carta Capital (Carta Editorial).
POR ESSA razão, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, considera fundamental que, passadas as eleições, se reavalie o funcionamento dos institutos de pesquisas. Ou bem eles prestam serviços aos partidos ou ao público. A ambos, parece-lhe impossível. Considera inconstitucional, por ferir o princípio da isonomia, que ajam em ambas as frentes.
A INICIATIVA já está na agenda de políticos e partidos. O Partido Popular Socialista (PPS) vai pedir investigação das relações entre os institutos de pesquisa e os candidatos. O deputado Rubens Bueno (PPS-PR) já anunciou essa decisão. Ele mesmo, vítima de um erro cometido pelo aferimento de pesquisas do Ibope em 2004, pelo qual processa o instituto, registra os erros cometidos agora no Estado do Paraná.
A PESQUISA do Ibope divulgada na véspera da eleição do último dia 03, apontava o ex-governador do Estado do Paraná, Roberto Requião (PMDB-PR), com 47% das intenções de voto e o seu concorrente, Gustavo Fruet (PSDB-PR), 27%. Requião foi eleito no último Domingo para uma cadeira do Senado Federal com 24,8% do votos válidos, e Fruet teve 23,1%.
NO ESTADO de São Paulo, as pesquisas indicaram empate entre Marta Suplicy (PT-SP) e Netinho de Paula (PCdoB-SP) e excluíram Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) da disputa pelo Senado Federal – logo Nunes Ferreira que teve nada mais, nada menos, que 11 milhões de votos e elegeu-se em primeiro lugar. Já Netinho, vai continuar cantando seu enjoativo pagodinho de paulista.
JÁ NO Estado do Paraíba, o candidato ao Senado Federal, José Maranhão (PMDB-PB) foi dado como vencedor por larga margem, mas terminou a eleição atrás de seu oponente, Ricardo Coutinho (PSB-PB). Houve mais, bem mais, mas esses exemplos são suficientes para ilustrar o problema.
A VITÓRIA de dona Rousseff ou Zé Serra não altera a necessidade de se repensar as pesquisas. Não necessariamente nos termos do deputado Bueno, que as criminaliza, mas levando em conta que uma etapa já foi vencida: os erros indicam que o eleitor não se deixou influenciar por elas.
O QUE esperamos de um instituto de pesquisa, sobretudo dada a importância que adquiriu no processo eleitoral – em que passou de mero aferidor a indutor de tendências -, é que se posicione com neutralidade técnica perante candidatos e campanhas.
E NISSO reside o que um instituto tem de mais caro – a credibilidade. Funciona como uma vacina que imuniza contra os efeitos de eventuais erros.
O INSTITUTO Brasileiros de Opinião e Pesquisas Estatísticas (Ibope) e o Instituto Vox Populi , este mais que aquele, comprometeram essa credibilidade em momentos distintos dessa campanha eleitoral no primeiro turno das eleições em 03 de Outubro. Por isso, os erros verificados então provocaram tantas reações de revolta por parte de candidatos – vitoriosos e derrotados.
LÁ ATRÁS na largada, Augusto Montenegro, diretor-presidente do Ibope, repetiu em entrevistas a inúmeros veículos da Imprensa como um mantra que a candidata governista à Presidência da República, Dilma Wana Rousseff (PT-RS), não tinha a menor chance de vencer a disputa.
E QUANDA a candidatura Rousseff alcançou os 20%, Montenegro decretou o fim da capacidade de transferência de votos do populismo lullista para a sua escolhida.
DEPOIS, quando já se admitia como tendência a vitória da candidata petista no primeiro turno, em 03 de Outubro, Montenegro desculpou-se publicamente e ficou tudo por isso mesmo.
CONTUDO, mais grave foi o sociólogo Marcos Coimbra, diretor-fundador do mineiro Instituto Vox Populi. Não só garantiu a vitória de Rousseff em 03 de Outubro, em cima de números colhidos pelo instituto, que mais tarde se mostraram errados, como tripudiou de todos nós jornalistas que ousamos questionar suas previsões.
AINDA arrematou em artigo publicado pela Revista Carta Capital (publicação semanal declaradamente apoiadora do lullismo e da candidata governista), chamou-nos de “jornalistas tucanos, ineptos, autores de uma sucessão de análises erradas, hipóteses furadas, teses sem pé nem cabeça. Todas inventadas para justificar o favoritismo de Serra, que só existia no desejo de quem as elaborava”.
DOUTOR Coimbra – que criou seu instituto havia duas décadas para impulsionar a candidatura de seu cunhado, Fernando Collor de Mello (aquelle) na corrida presidencial de 1989, distorceu os fatos: ninguém achava o ex-governador de São Paulo, José Serra (PSDB-SP), favorito, mas questionava o favoritismo de dona Rousseff para vencer já no primeiro turno, algo que seu instituto garantiu ao seu maior cliente atual, o Partido dos Trabalhadores (PT), e não aconteceu.
E FOI além: “Se não fossem tão ineptas, essas pessoas poderiam, talvez, ter impulsionado as oposições na direção de projetos menos equivocados. Se não fossem tão arrogantes, teriam, quem sabe, poupado seus amigos políticos do fracasso inevitável que os espera”. A semelhança entre o texto de Coimbra e o ataque do vosso guia, Luiz Inácio da Silva, à imprensa, exatamente nos mesmos termos, não é mera coincidência: o dono do Instituto Vox Populi, que previu a vitória de Rousseff no primeiro turno com 57% dos votos, reproduzia o pensamento de seu cliente.
O SOCIÓLOGO Coimbra também condenou candidatos e Imprensa por revelarem escândalos administrativos no âmbito do governo. Estranho seria se, diante de tais fatos, nada se dissesse, como se as urnas lhe impusessem uma cortina de silêncio. Não lhe cabe tal papel, como titular de uma instituição cuja tarefa equivale à de um termômetro: medir a temperatura da campanha, sem pretender influir sobre ela.
ESSE fato se agrava quando se sabe que seu instituto de pesquisas mantém contrato com o comitê de campanha do PT, o que o coloca em situação no mínimo ambígua: de um lado, promove pesquisas independentes, de divulgação pública, registradas na Justiça Eleitoral, que lhes dá o selo de isenção; de outro, presta serviços a um dos partidos e o defende em artigos nos jornais Estado de Minas e Correio Brasiliense (Diários Associados) e dos quais é colunista, e na Revista Carta Capital (Carta Editorial).
POR ESSA razão, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, considera fundamental que, passadas as eleições, se reavalie o funcionamento dos institutos de pesquisas. Ou bem eles prestam serviços aos partidos ou ao público. A ambos, parece-lhe impossível. Considera inconstitucional, por ferir o princípio da isonomia, que ajam em ambas as frentes.
A INICIATIVA já está na agenda de políticos e partidos. O Partido Popular Socialista (PPS) vai pedir investigação das relações entre os institutos de pesquisa e os candidatos. O deputado Rubens Bueno (PPS-PR) já anunciou essa decisão. Ele mesmo, vítima de um erro cometido pelo aferimento de pesquisas do Ibope em 2004, pelo qual processa o instituto, registra os erros cometidos agora no Estado do Paraná.
A PESQUISA do Ibope divulgada na véspera da eleição do último dia 03, apontava o ex-governador do Estado do Paraná, Roberto Requião (PMDB-PR), com 47% das intenções de voto e o seu concorrente, Gustavo Fruet (PSDB-PR), 27%. Requião foi eleito no último Domingo para uma cadeira do Senado Federal com 24,8% do votos válidos, e Fruet teve 23,1%.
NO ESTADO de São Paulo, as pesquisas indicaram empate entre Marta Suplicy (PT-SP) e Netinho de Paula (PCdoB-SP) e excluíram Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) da disputa pelo Senado Federal – logo Nunes Ferreira que teve nada mais, nada menos, que 11 milhões de votos e elegeu-se em primeiro lugar. Já Netinho, vai continuar cantando seu enjoativo pagodinho de paulista.
JÁ NO Estado do Paraíba, o candidato ao Senado Federal, José Maranhão (PMDB-PB) foi dado como vencedor por larga margem, mas terminou a eleição atrás de seu oponente, Ricardo Coutinho (PSB-PB). Houve mais, bem mais, mas esses exemplos são suficientes para ilustrar o problema.
A VITÓRIA de dona Rousseff ou Zé Serra não altera a necessidade de se repensar as pesquisas. Não necessariamente nos termos do deputado Bueno, que as criminaliza, mas levando em conta que uma etapa já foi vencida: os erros indicam que o eleitor não se deixou influenciar por elas.
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