Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

sexta-feira, setembro 24, 2010

Devagar e sempre!

UMA década após os líderes de centenas de países definirem as Metas de Desenvolvimento do Milênio para reduzir a fome e a pobreza no mundo e melhorar as condições de vida de bilhões de pessoas, e faltando apenas cinco anos para o esgotamento do prazo fixado para atingi-las, líderes mundiais continuam a discutir como alcançá-las. O balanço dos avanços registrados até agora mostra resultados muito desiguais entre as regiões e deixa claro que, sem um esforço adicional dos países desenvolvidos e emergentes e das principais organizações internacionais, muitos milhões de pessoas continuarão a viver em condições de miséria extrema.

DIAS atrás, ao apresentar o relatório Cumprir a promessa - elaborado pela Organização das Nações Unidas (ONU) para a reunião de cúpula sobre as Metas do Milênio realizada ontem momentos antes da abertura da 65.ª Assembleia-Geral das Nações Unidas, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, fez um apelo aos dirigentes mundiais, pedindo-lhes empenho para que as metas sejam alcançadas. "Não podemos desiludir bilhões de pessoas que esperam que a comunidade internacional cumpra a promessa de um mundo melhor contida na Declaração do Milênio", disse Ki-moon Não alcançar as metas "seria um fracasso moral e prático inaceitável".

ENTRE as diversas Metas do Milênio fixadas para 2015 estão a erradicação da pobreza extrema e da fome no mundo, a universalização do ensino básico, a redução da mortalidade infantil e a garantia de um crescimento que assegure a preservação do meio ambiente. E com base em resultados de alguns países cuja a população tem renda muito baixa, o relatório da ONU conclui que é possível alcançar as metas se houver políticas corretas, investimentos suficientes e apoio internacional. Mas os progressos observados nos últimos anos foram desiguais e, sem novos esforços da comunidade internacional, muitos países mais carentes não alcançarão as Metas do Milênio.

O AVANÇO tem sido "inaceitavelmente lento", como observou Ki-moon, e por isso as proporções da pobreza no mundo continuam degradantes. De acordo com a ONU, 1,4 bilhão de pessoas sobrevivem com menos de US$ 1,45 por dia, renda mínima definida pelo Banco Mundial (Bird) para uma pessoa sair da situação de pobreza extrema. Perto de 1 bilhão de pessoas passam fome, quase 9 milhões de crianças morrem, por ano, antes de completar 5 anos de idade, centenas de milhares de mulheres morrem anualmente por complicações na gravidez e no parto e apenas metade da população mundial tem acesso a saneamento básico.

A MAIS recente crise econômica mundial, desencadeada no segundo semestre de 2008, reduziu a velocidade do avanço que se observava em muitos países de renda baixa e, em alguns, interrompeu esse processo. Essa crise mundial lançou de volta à situação de pobreza milhões de pessoas que haviam melhorado de vida nos anos anteriores, e tornou ainda mais difícil para esses países atingir as metas.

E NA reunião de cúpula sobre as Metas do Milênio, o diretor do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, disse que o mundo precisa esforçar-se para que a melhora das condições de vida das populações pobres recupere o ritmo que tinha antes da crise.

ESSE caminho é conhecido. Em discussão técnica realizada pelo FMI como introdução do assunto na reunião da ONU, o vice-diretor-gerente da Organização, John Lipsky, observou que a cooperação internacional é indispensável para a economia mundial retomar um crescimento satisfatório. Os países menos desenvolvidos precisam melhorar sua infraestrutura e, para isso, necessitam de apoio financeiro externo. Países com grandes superávits comerciais devem estimular a demanda interna, enquanto os que têm déficits precisam exportar mais.

STRAUSS-KAHN recomendou que os governantes e dirigentes de Instituições internacionais - como FMI, Banco Bird e ONU - que ajudaram a definir as metas assumam conjuntamente a responsabilidade de fazer isso. "Tudo depende da restauração do crescimento econômico global equilibrado e sustentável", disse o diretor do FMI. Sem isso, "todos os demais esforços serão frustrados".